Reportagem Panda Bear em Lisboa
Concerto notável, o que Panda Bear (Noah Lennox) deu perante um Lux muito bem composto. Notável e, como já seria de esperar, surpreendente. Já todos sabemos que Tomboy é um disco genial, que ao vê-lo ao vivo é sempre uma viagem, mas parece que cada concerto é uma viagem diferente. Da última vez que esteve no Lux, foi tudo muito experimental, diz-se; no Barreiro, onde o vi, foi tudo mais etéreo, quase hipnotizante; e desta vez, foi tão etéreo quanto agressivo, e tão hipnotizante quanto impressionante.
Foi o início da digressão europeia, mas ninguém o diria. Espectáculo sem falhas, onde as músicas de interligavam numa camada de sons sem fim, e onde Tomboy foi tocado do início ao fim, mostrando bem a coesão de um dos discos do ano. O início, com a envolvente "You Can Count on Me", fez antever logo aquilo que a noite seria: uma viagem. Canção calma, que se vai construindo lentamente... e que não fazia antever a explosão que se seguiria logo com o tema homónimo do disco. Fumo a sair do palco, luzes strobe em acção, uma explosão de guitarra que nos apanha do nada (o som esteve perfeito do início ao fim, e bem alto como se queria), e vê-se o ar surpreendido de quem ali estava à espera de algo mais parecido com o que o músico tinha feito antes ao vivo. Houve uma agressividade tão sonora quanto visual que pautou todo o concerto, que tornou cada música num murro no estômago (e nos ouvidos).
Um dos culpados disto foi, claro, Sonic Boom (Pete Kember), que acompanhou Panda Bear em palco. Rodeados os dois de uma panóplia de instrumentos, Lennox pôde concentrar-se mais na guitarra e voz (haverá alguém que manipula assim tão bem os efeitos e reverbs de uma guitarra, hoje em dia?), enquanto que Kember se concentrou em manipular todo o equipamento em palco, colocando cada efeito e cada camada no sítio certo. Tudo fluiu na perfeição, com pouco ou nenhum silêncio ao longo de toda a noite, e com os vídeos de Danny Perez (que ia controlando tudo em tempo real) a darem uma carga tão psicadélica quanto transcendente a cada pequeno momento.
O que Panda Bear faz ao vivo tem ecos daquilo que os próprios Animal Collective fazem: uma quebra de protótipos e pré-conceitos. Cada concerto é diferente, e cada concerto em si quebra com as noções que temos em relação à forma como o disco ou a música x poderiam soar ao vivo. Desta vez, foi a agressividade que impressionou, desde o fumo à luz strobe, desde a explosão de "Comfy in Nautica" (incontorável e sempre memorável, claro) ao crescente hipnotizante de "Benfica".
Tudo sempre muito coeso, com silêncio devoto por parte do público (muitos de olhos fechados, com o corpo a balançar), e sempre com o sentimento presente de estarmos a ver em palco alguém que, realmente, dificilmente tem igual. E é no encore, quando Lennox repesca finalmente temas do primeiro disco, Person Pitch, que nos relembramos que, afinal de contas, as coisas sempre foram assim. "Ponytail", "Comfy in Nautica" (a mais bem-recebida, como seria de esperar) e "Bros" foram a cereja no topo do bolo, pondo fim a um concerto sem falhas, com momentos de ir com o queixo ao chão.
Visualmente e sonoramente transcendente e, claro, tecnicamente impressionante no seu jogo de camadas e sons, Panda Bear deu aquele que será, para muitos dos presentes, um dos concertos do ano. Sempre com uma surpresa ao fundo da esquina, sempre sem cair em facilitismos (só se dirigiu ao público no final do encore e do set principal), e, claro, sempre indescritível.
A única coisa previsível em Panda Bear é, afinal de contas, o facto de sabermos que da próxima vez nos irá voltar a surpreender.