Reportagem Paradise Lost em Lisboa
Existem aquelas bandas que compensam a sua fraca musicalidade com concertos excepcionais, mas os Paradise Lost sofrem do contrário.
O alinhamento e a sua musicalidade mereciam uma performance mais surpreendente.
Paradise Garage é uma sala que está de volta aos concertos de música pesada e do foro da promotora Prime Artists, sendo o regresso dos britânicos Paradise Lost à área de Lisboa marcado para esta sala de Alcântara. Para o dia 3 de Outubro foi marcada a primeira data da digressão europeia destinada a apresentar o seu mais recente álbum, “Tragic Idol”, tendo como convidados especiais os suecos Soen.
Numa sala a compor-se a ritmo lento, a banda de abertura lá acabou por subir ao palco da forma mais pontual – eram exactamente 21 horas quando surgiram os primeiros elementos da faixa ‘Fraktal’. Dava então início à estreia do super-quarteto em Portugal, composto por Joel Ekelöf (ex-Willowtree) na voz, Kim Platbarzdis na guitarra, Steve DiGiorgio (ex-Sadus, Death, Testament) no baixo e Martin Lopez (ex-Opeth) na bateria. Em palco estaria então também um quinto elemento, responsável pelos teclados e percussão-extra que acompanha as músicas do primeiro álbum da banda, “Cognitive”, lançado em Fevereiro deste ano. Aproveitou-se então o palco do Paradise Garage para descarregar muito do que dito álbum de estreia oferece – ‘Fraccions’, ‘Delenda’, ‘Last Light’ e ‘Oscillation’ não foram esquecidas e as frequentes comparações da banda à sonoridade de Tool foram-se dissipando à medida que o conjunto se foi personalizando e ganhando estilo próprio ao vivo. Joel revelou-se um vocalista bastante capaz e digno do registo em estúdio, agradecendo a presença do público lisboeta vezes sem conta e liderando as líricas de forma irrepreensível. Entre as luzes algo escuras das salas, predominantemente azuis ou vermelhas enquanto o concerto decorria, cada um dos membros da banda fazia o possível para se tornar visível no baixo palco do Paradise Garage e tornou-se uma constante até ao brilhante fecho do concerto com ‘Slithering’ e ‘Savia’, esta última bastante entoada por uma mínima mas ruidosa parte do público. Uma estreia muito competente de Soen em solo nacional.
Com uma mudança de palco algo demorosa, os Paradise Lost acabaram for iniciar o concerto por volta das 22h20 – uma hora que permitiu encerrar a noite cedo o suficiente para facilitar o transporte a uma boa parte da audiência. Foi ao som da introdutória ‘Desolate’ que os britânicos subiram ao palco antes de finalmente começar a actuar, com ‘Widow’ a ser a faixa de abertura. Uma luz quase mínima fez com que a banda mal se visse em palco e decerto que isto dificultou o trabalho dos fotógrafos presentes. ‘Honesty In Death’ e ‘Erased’ começaram a aquecer um público inicialmente algo frio e estranho para o hábito português. No entanto, foi ao som da quarta ‘Forever Failure’, do aclamado álbum “Draconian Times”, que a voz nacional se fez finalmente ouvir como já a conhecemos. Os Paradise Lost continuaram a tocar faixas de vários dos treze álbuns de originais até hoje lançados com destaque especial a “Tragic Idol”, lançado este ano, de onde tocaram quatro das dezasseis faixas apresentadas neste concerto. Seguiram-se faixas como ‘Soul Courageous’, ‘Praise Lamented Shade’ ou ‘Pity The Sadness’ numa sala que não se revelava da escuridão e que não ajudou, certamente, a Gregor Mackintosh com os seus cabelos ao vento [de uma ventoinha, diga-se] a tocaram a sua guitarra - ainda assim a sua prestação foi de topo e, de longe, uma mais-valia neste concerto. Aaron Aedy na outra guitarra e Stephen Edmondson no baixo tiveram o visual mais estranho de todo o concerto: o primeiro extremamente alegre e festivo para algo que não justificava as acções e o segundo não se mexeu mais que uma estátua. Adrian Erlandsson, baterista que faz parte da banda desde 2009, mostrou o porquê do estatuto lendário que lhe foi atribuído por ter feito parte de bandas como At The Gates ou Cradle Of Filth e o seu instrumento fez-se ouvir mais do que qualquer outro na sala num ritmo alucinante. Já a voz do carismático Nick Holmes não esteve na sua melhor forma e motivou que ela desaparecesse durante ‘As I Die’ ou ‘The Enemy’. No fim desta o quinteto abandonou então o palco para voltar pouco mais de dois minutos depois e deixar mais quatro temas à cidade de Lisboa. ‘One Second’, ‘Fear Of A Impending Hell’, ‘Faith Divides Us – Death Unites Us’ e a conhecida ‘Say Just Words’ serviram para fechar uma actuação que não mereceu o calor que se fez sentir na sala.
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sábado, 20 dezembro 2014