Reportagem Patrick Wolf em Lisboa
Se existem artistas bem amados pelo povo Português, o britânico Patrick Wolf certamente se encontra na longa lista de nomes de músicos. Voltando a Portugal pela enésima vez, o talentoso singer/songwriter teve a oportunidade de apresentar o seu último esforço, Lupercalia, num concerto curto, que durou cerca de uma hora e um quarto, mas que se mostrou memorável aos presentes. Foi também a oportunidade de ficarmos a conhecer o TMN ao Vivo, a nova sala de concertos lisboeta que substituiu o antigo Armazém F e que, embora tenha um ambiente agradável, se mostrou pouco adequada para um artista que já tem uma certa magnitude. Concentremo-nos na performance, no entanto.
Noite quente, público expectante e casa cheia e as condições necessárias a uma grande noite de música estavam reunidas, esperando-se apenas a entrada do artista. Acompanhado por cerca de cinco músicos, incluindo uma violinista e uma saxofonista, Patrick Wolf foi recebido em palco de forma entusiasta, começando, desde logo, com "Armistice", do recente Lupercalia, álbum predominante na escolha da setlist. Numa vertente mais pop, mais comercial, o novo esforço do londrino vê-lo também mais optimista e esperançoso, e é, assim, óbvia a predominância de Lupercalia na escolha da sua setlist – Patrick Wolf partilha a boa disposição do seu material, demarcando-se do cantautor sombrio e melancólico que lançou o excelente Wind in the Wires, em 2005. A sentimental "House" e a conhecida "Time of my Life" marcam o início de um concerto agitado, energético, que dá espaço para o artista se expressar como melhor sabe, num estilo que é absolutamente seu.
É, então, claro que a direção musical do seu material pode ter mudado ligeiramente, mas Patrick Wolf não se separa da sua identidade e do seu sentido estético muito próprio, que o demarcou dos singer/songwriters do seu tempo. A sua fantástica e potente voz e os maneirismos singulares nunca deixam de surtir efeito e as melodias dos seus temas continuam a passar quer pelo folk romântico, quer pelo electro pop estranho e, por vezes, até tenebroso. A tripla "Damaris", "The Libertine" e "Augustine" demonstram-no bem e Wolf passeia-se pelo palco lisboeta confiante, dividindo-se pelo violino, a harpa e o teclado.
Se o público português era demasiado grande para a sala de espetáculos, este parecia de inicio expectante, e não muito reactivo, para além das filas fronteiras de fãs devotos que se derretem aos pés do seu ídolo. No entanto, nada que o carisma do artista não consiga rectificar: Patrick debate-se sobre o charme do país ("There's something about Portugal.") e não hesita em dar atenção aos seus fãs, transpondo a barreira entre o palco e a plateia e tocando nestes. A resposta é lenta, mas é totalmente assegurada nos temas finais do concerto, especialmente com "Who Will?" de The Bachelor, tocada ao vivo em versão remix. Se calhar é mesmo o teatralismo de Patrick Wolf que o torna uma figura tão interessante de ver ao vivo, desde os vídeos projectados deste, em slow motion, com um lobo, quer às mudanças de guarda-roupa (de uma camisola dourada cintilante a um macacão polka dot preto e branco) - de qualquer maneira, estamos convencidos.
Seguiu-se um curto encore, com "Hard Times" versão remix também, a célebre "Magic Position" e a nova "The City", que resultam numa absoluta euforia entre os fãs.
Lamenta-se a duração algo reduzida e talvez a falta de "Tristan" no alinhamento, no entanto, fica a memória de um concerto que fez jus tanto ao enorme talento musical de Patrick Wolf, como às expectativas de um público cada vez mais fã.