Reportagem Peter Broderick no Porto
Inserido no cartaz do festival itinerante Misty Fest, Peter Broderick regressou a Portugal para um total de três concertos, seis anos após a sua última visita. A data portuense teve lugar na Sala 2 da Casa da Música, um local perfeito para a delicadeza sonora de Broderick, que tal como em “Partners” – a sua nova aventura discográfica - se fez acompanhar somente de um piano e da sua voz. Este formato mais “despido” fez com que se perdesse alguma textura (notou-se a ausência de instrumentos como a guitarra e o violino), mas mesmo assim essa simplicidade originou um clima deliciosamente intimista, pelo que foi uma aposta ganha.
Contudo, se a actuação se revestiu de um tom contemplativo e até melancólico, o discurso do músico norte-americano revelou um indivíduo humilde, bem-disposto e que fez questão de se colocar ao mesmo nível que a audiência, criando assim um sentimento de respeito mútuo. Entre brincadeiras inocentes (no final do primeiro tema, confessou tê-lo escrito para o piano e as máquinas fotográficas, numa referência aos disparos dos fotógrafos) e pormenores curiosos sobre as composições (explicou, por exemplo, que “Human Eyeballs On Toast” foi composta no período em que era vegetariano e se imaginou na pele de uma galinha criada somente para consumo), Broderick cativou-nos com a sua simpatia exemplar.
Esse registo carinhoso foi especialmente enfatizado durante a interpretação de “As I Roved Out” – canção tradicional da Irlanda, país onde reside actualmente -, em que Peter abandonou o palco e decidiu cantar junto do público, num dos melhores momentos de uma prestação deslumbrante. Todavia, por muito louvável que a sua postura tenha sido, seria sempre difícil resistir à beleza poética de composições como “A Storm When I Sleep”, “Below It”, “Sideline”, “ Planes” (colaboração com Machinefabriek) ou a sentida homenagem a John Cage com “In a Landscape”. Para o final, já durante o segundo encore, ficou reservado um dos momentos mais memoráveis do serão com a maravilhosa ”Sometimes”.
Nesta noite deveras agradável, Broderick foi, ao mesmo tempo, artista e mestre de cerimónias, tendo provado a sua eficácia em ambos os papéis.
Para quando a próxima visita?
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Organização:UGURU
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sexta-feira, 22 novembro 2024