Reportagem Peter Murphy no Porto
Peter Murphy tem sido uma presença bastante regular em Portugal, o que nos leva a colocar a seguinte questão: o que é que faz com que as pessoas o idolatrem ao ponto de o artista britânico regressar com sucesso, no caso do Porto, à mesma sala que o tinha acolhido somente cinco meses antes?
Ao analisar o número de músicos que nos abandonaram ao longo deste ano, concluímos que o cenário é desolador: perdemos nomes incontornáveis como David Bowie, Glenn Frey, Prince, entre outros, e a reacção natural é, de certa forma, valorizar as lendas que ainda estão connosco antes que a sua presença se torne numa memória distante de um passado glorioso.
Contudo, ao ver o senhor em palco, apercebemo-nos que esse carinho vai muito além de um forte desejo nostálgico. Peter Murphy, com 59 anos de idade, não perdeu as qualidades que fizeram dele uma figura respeitada: a voz permanece poderosa e arrepiante, o carisma continua a contagiar-nos e, no geral, o ex-Bauhaus mantém bem vivo o legado que construiu.
Nesta ocasião, o músico optou por reduzir tudo ao essencial (não é à toa que a digressão se intitula “Stripped”), recrutando Emilio Zeff China (baixo e violino) e John Andrew (guitarra) e originando assim um clima introspectivo. Curiosamente, apesar do ambiente intimista, alguns membros da audiência comportaram-se ocasionalmente como se estivessem num concerto de rock num estádio qualquer, levantando-se das cadeiras e batendo palmas efusivamente, sobretudo durante os clássicos que Murphy ia buscar ao baú.
Como era de esperar, a recordação de temas que marcaram a sua carreira constituiu o prato forte da actuação, sendo que continua a ser uma experiência maravilhosa escutar pérolas como “Cuts You Up” ou “A Strange Kind of Love”. Todavia, o fantástico legado deixado pela banda que lhe deu fama não foi esquecido e tivemos a honra de navegar pela história do rock- nomeadamente o de cariz gótico - através de eternos hinos como “King Volcano”, “All We Ever Wanted Was Everything”, “Silent Hedges”, “ Hollow Hills” ou, a fechar, a mítica “Bela Lugosi's Dead”, num momento tão intenso que nos fez acreditar que os Bauhaus tinham ressuscitado. Não foi esse o caso, mas Peter Murphy voltou a provar que ainda não está pronto para a reforma, nem o público português pronto para se despedir dele.
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Organização:Lemon
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sexta-feira, 22 novembro 2024