Reportagem Pixies em Lisboa
São um dos grandes nomes da música rock internacional e dispensam apresentações prolongadas: quer tenham sido descobertos em 1987 ou na estante de discos dos pais, os Pixies continuam a ser um peso pesado na música. Apesar de uma atribulada jornada de hiatos, reuniões, em 2013, a banda norte-americana ganhou novo impulso com um retorno já há muito aguardado, não deixando de acusar a ausência de Kim Deal. Estes passaram pelo Coliseu dos Recreios, no passado Sábado, apresentando um set eletrificante que serviu para muitos como regresso à juventude. Coube aos AKKK a honra de abertura, infelizmente, não pudemos estar presentes.
Com um cenário constituído por ecrãs de luzes, os Pixies apresentaram-se em palco pouco depois das 21h30, assumindo as suas posições sem alarido. Com um cenário constituído por ecrãs quadrados de luz, colocados por detrás da banda americana, torna-se óbvia a necessidade desta de deslocar a atenção de si própria para o público. No entanto, destaca-se, imediata e facilmente, a presença de Kim Shattuck, vocalista e guitarrista de The Muffs e The Pandoras, escolhida a dedo por Black Francis & Co. para a monumental tarefa de substituir Kim Deal naquele que continua a ser o elenco original dos Pixies: Francis, em guitarra e voz, Joey Santiago, também em guitarra e David Santiago, na bateria. Se os sapatos a encher são grandes e as dúvidas compreensíveis, pode-se dizer com certeza que Shattuck parece uma substituição mais do que competente, assumindo uma postura sólida e carismática no palco da sala lisboeta, confortável ao empunhar o baixo e a fazer esquecer Kim Deal durante larga parte da prestação ao vivo. Porém, é principalmente no contacto com o público que o fantasma de Deal aparece: uma vez que era, por vezes, o único elemento a comunicar com este, a falta de interacção marcada pela aparição dos novos Pixies em Lisboa traz alguma despersonalização a uma performance que pareceu algo em piloto automático.
Todavia, esqueçam-se os fantasmas, uma vez que a banda norte-americana está decidida a largá-los. Apesar de ser “Planet of Sound” a marcar o tom da noite, os temas recentes foram uma presença forte na primeira parte do concerto. Tanto “Bagboy” e “Magdalena 318”, como “What Goes Boom” e “Andro Queen”, estes últimos do recente EP-1 lançado neste ano, demonstram a intenção dos Pixies de progredirem em termos musicais, desviando-se ligeiramente da sua sonoridade habitual de parte alt-rock, parte surf rock, para a exploração de novas texturas e influências. Estes temas, aliados a algumas pérolas não tão óbvias da discografia da banda, como “Cactus” e “Broken Face”, tornaram um arranque lento no entusiasmo do público português, apesar da constante apreciação de um público constituído por diferenças de idades consideráveis. A partir de “Wave of Mutilation” e “Debaser” a conversa é outra e os temas que a banda abordou embarcam praticamente todos os pontos da sua carreira.
Temas de destaque são, indubitavelmente, os suspeitos do costume, “Here Comes Your Man”, “Alec Eiffel”, “Bone Machine”, “Monkey Gone To Heaven”, “Crackity Jones”..., numa setlist que chegou até trinta e tal músicas. O grande momento de euforia cabe a “Where is My Mind?” - os ‘ooh oohs’ ecoados pelo público admirador durante e depois de ter terminado e espalhando-se uma sensação de que o que se presenciou naquela noite não acontece todos os dias. Depois de um curto encore, foi a altura da fantástica e macabra de igual forma “Hey”, seguida por “Caribou” e “Gouge Away” encerrando um grande concerto. O público chorou por mais, mas sem sucesso.
Que mais se pode dizer sobre uma aparição de uma banda deste calibre? Cabe-me apenas dizer que a qualidade de som e a experiência e competência dos Pixies tornou este concerto numa experiência inesquecível para todos os transeuntes. Parece-me claro que estes vão continuar a dar que falar – os Pixies não morreram, vida longa aos Pixies.
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sábado, 20 dezembro 2014