Reportagem Pixies no Porto
Os ponteiros do relógio rondavam as 23h15 quando as luzes do coliseu anunciaram o final da actuação dos Pixies, e em redor só cintilavam largos sorrisos e longas marcas de suor faciais. Ainda faz sentido bandas históricas como os Pixies darem concertos atrás de concertos, sem nada de relevante para acrescentar? Black Francis e seus companheiros responderam com um categórico sim.
Mas antes que o quarteto originalmente de Boston espalhasse a sua energia sôfrega pelo palco, os suecos FEWS ligaram o post-punk mais psicadélico à corrente e mostraram que ainda há novos projectos a explorar novas combinações no género. Meia hora de ruído bamboleante, que tanto rompiam os ouvidos com a bateria e o baixo galopando, como acalmavam o velocímetro e aproximavam-se de registos mais pertos do shoegaze. Sendo que fazer primeiras partes é sempre um papel ingrato, os FEWS bem que fazem pela vida para amealhar mais fãs durante esta tournée.
E já com o apetite do público aguçado, pelas 21h30 os Pixies finalmente subiram a palco. Após um início comprometedor, com a “Cecilia Ann” a ser interrompida duas vezes e chutada para fora da setlist, Black Francis meteu finalmente a engrenagem certa para a viagem aos seus 6 álbuns de originais. O último a ser lançado, “Head Carrier”, entra para a história como o álbum que baptizou Paz Lechantin, baixista chamada para render o vazio de Kim Deal, como membro oficial da banda.
Arrisco-me a dizer que grande maioria dos presentes no Coliseu do Porto pouco queriam saber dos novos temas, e os Pixies não se fazem rogados a perceber isso: num concerto com 30 temas no total, apenas 6 temas pertenciam ao mais recente álbum e...nenhum tema retirado de “Indy Cindy” de 2014. Contudo, “Um Chagga Lagga”, single de “Head Carrier”, funciona muito bem ao vivo e funde-se de forma natural com o restante reportório.
Foi por isso uma viagem bem nostálgica aos temas mais e menos conhecidos da banda, onde teve momentos apoteóticos com “Heres comes your Man” (honestamente, sinto sempre que Black Francis quase tenta tocar a música a despachar de tão contrariado que está), “Debaser”, “Gigantic” ou “Where is my Mind”, mas que bem lá na frente do palco as hostes viraram-se do avesso com os espasmos esquizofrénicos de “I’ve got something against you”, com o country diabólico de “Nimrod’s Son” ou a imprevisibilidade insana de “Mr Grieves”. E como os Pixies não são propriamente uma banda convencional, “Wave of mutilation” foi tocada na sua versão UK Surf, numa toada bem mais tranquila do que maior parte estaria à espera, e Neil Young visitado na brilhante versão de “Winterlong”. A contrastar com a euforia em massa provocada pelos temas mais icónicos ou a energia raivosa destilada das canções mais directas, houve ainda espaço para belas pérolas como “Havalina”, “Blown Away” ou “Caribou”.
Para encore, apenas o etéreo “Into the White”, completamente absorvido em fumo de palco, para uma despedida sob o nevoeiro bem sebastiana.
Ao longo da actuação que durou cerca de 1h45 minutos, a interacção com o público foi quase nula, o que não é algo de estranhar com os Pixies, mas que contudo conseguiu ser ainda menos do que as suas passagens pelo Primavera Sound 2014 ou Paredes de Coura 2004. Mas com uma setlist de luxo e um lugar destacadíssimo na história do rock, visitas como estas são sempre bem-vindas à cidade do Porto.
Até à próxima Pixies!
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Organização:Everything is New
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segunda-feira, 25 novembro 2024