Reportagem Public Service Broadcasting no Porto
O trio londrino voltou a terras portuguesas, após o molhado concerto durante o NOS Primavera Sound, e não deixou créditos por mãos alheias. Numa exibição de pura classe, os Public Service Broadcasting pilotaram a sua nave com distinção, levando-nos a todos os recantos do seu universo. O projecto que começou na cabeça e mãos de J. Willgoose, Esq., e que pelo caminho ganhou como parceiros de crime Wrigglesworth e JF Abraham, escolheu o Hard Club da cidade invicta para dar o último concerto do ano.
Pouco passa das 21h20 e "Sound & Vision" de Bowie começa a ecoar pela sala. É pois sob o tema do eterno camaleão que os três músicos iniciam a sua transmissão especial, vestidos a preceito e apoiados numa tela, que funciona como o quarto elemento da sua música. É, aliás, nesse constante diálogo entre a música tocada ao vivo, as imagens exibidas e as correspondentes faixas de audio documentais que um concerto dos ingleses brilha, numa experiência bem intensa e, sobretudo, única.
Iniciamos a viagem no que viria a ser o Titanic, com duas canções retiradas do seu último registo de 2018, o EP White Star Liner, dois temas que se complementam, dentro do seu registo etéreo e apoiado forte na bateria, com as guitarras melancólicas a juntarem-se à nostalgia da locução: há um forte namoro nostálgico em PSB, seja na sua temática, mas também na sua execução. Finalmente, algumas palavras ao público, onde é anunciado um regresso aos tempos mais antigos da banda. E assim foi, com temas como “Theme from PSB” a pedir já um abanão de anca, “Koralev” ou “Sputnik”numa das muitas alusões à exploração espacial (particularmente espelhadas em The Race for Space, de 2015, apesar de “Koralev” pertencer ao EP Koralev/Sputnik).
Mas também temas mais ligados ao dia a dia e às lutas diárias (sobretudo da classe operária) são focados pela banda, como por exemplo no lindíssimo “They Gave me a Lamp” (que a banda resumiu como sendo uma música sobre o feminismo), sobre os grupos de apoio de mulheres criados durante as greves dos mineiros no sul de gales, nos anos 80. Aqui vê-se o lado mais folk, com a trompete bem reminiscente do muito indie que se foi fazendo nas últimas duas décadas.
É neste rodopio entre o progressivo, o indie, o space rock ou post-punk que os Public Service Broadcasting se sentem à vontade, mostrando um som incrivelmente coerente, executado pelos seus três membros em perfeita sintonia. Porém, é de ressalvar a perícia de Wrigglesworth atrás do leme da bateria, segurando sempre as músicas pelas suas pontas, assim como a versatilidade da restante banda em circular entre piano, guitarra, baixo e tudo o que for necessário.
Num crescente contágio pela energia e simplicidade da banda, também o público foi saíndo da casca, e isso fez-se ouvir em temas já emblemáticos da banda, tais como “Spitfire” ou, bem antes da saída para encore, “Go!”, onde o público incessantemente gritou go e stay. E, aqui e ali, umas palmas de ritmo como o público português bem gosta de fazer.
No encore, mais três temas para o sprint final: “All Out”, tema mais ruidoso e sujo, onde a polícia e o controlo de massas na rua está em destaque; “Gargarin” relembra-nos o russo que foi o primeiro viajante espacial da história (com doses mais funky que a banda tem para oferecer, com direito a um astronauta dançarino e tudo) e, para finalizar em pleno, “Everest” acalma os níveis de adrenalina e compõe o retrato perfeito da despedida.
Após trocas de carinho mutúas, é dado o adeus e a banda volta ao planeta écletico de onde saiu, ao som de “White Chrismas”. E depois desta perda temporaria de sinal, ficamos à espera que a transmissão seja restablecida o mais rapidamente possível.
-
Organização:At the Rollercoaster
-
terça-feira, 11 dezembro 2018