Reportagem Rita RedShoes @ Cinema S. Jorge
O nome dela é Rita Pereira e é a dona de uma voz extraordinária. Redshoes apareceu pela necessidade de dar um nome ao seu primeiro projecto musical a solo. Segundo a própria, porque o seu armário estava cheio de sapatos vermelhos que comprava e nunca usava. O nome cresceu e agora todo o cenário que envolve a musica de Rita é construído a partir deste nome.
Começou por tocar com o David Fonseca, tarefa que ainda desempenha e consegue conciliar, apesar do crescente sucesso da sua carreira a solo. Em 2008 ganhou coragem e lançou o seu primeiro e único álbum, que já é disco de ouro, Golden Era, e este ano foi nomeada para os Globos de Ouro na categoria de Melhor Revelação. O concerto marcado para dia 28 de Maio no cinema São Jorge depressa esgotou, sendo necessário marcar uma data extra para o dia seguinte. Os seus concertos, no inicio bastante envergonhados e intimistas, têm vindo a evoluir para espectáculos cheios de energia, de momentos muito particulares, embora nunca perdendo a envolvência que já os caracteriza. Rita Redshoes cresce a olhos vistos na interacção com o público e na subtil, mas bem presente, sensualidade com que encarna uma outra personalidade em cima do palco. E foi assim que aconteceu dia 28 de Maio, no Cinema São Jorge.
A lotação estava esgotada e a noite não podia estar mais quente. Dentro da sala fazia um calor insuportável, no palco já brilhavam dois R’s luminosos e no chão, à frente, um tapete dourado onde jaziam, atirados, dois sapatos vermelhos. O concerto começou vinte minutos depois da hora prevista, os músicos entram em palco e atrás iluminam-se cinco telas onde surgem cinco bailarinas, movidas pelos primeiros acordes. De uma das telas sai Rita e assim recebe o primeiro dos muitos aplausos da noite. “Stupid Song”, música que não consta do álbum, foi a primeira da noite. Seguiu-se o primeiro single Dream On Girl, após a qual as telas desaparecem e reaparecem as bailarinas, dançando ao som de valsa de Your Waltz.
Cedo no concerto começou a ser evidente o cuidado com todos os pormenores. Todo o cenário, coreografias e vídeos eram coerentes com o imaginário dos musicais americanos, cowboys e contos de fadas que inspiraram a cantora na gravação do disco e criaram toda uma envolvência de fantasia. A música seguinte foi o mais recente sucesso das rádios, Choose Love mas apesar disso o público ainda parecia distante, fruto, talvez, do calor ou da falta de luzes de público durante todo o concerto. Depois veio Lonesome Town, a primeira versão das várias que foram tocadas. A balada de Ricky Nelson ganhou novo brilho na voz de Rita.
“Sempre bem-disposta e divertida, por mais do que uma vez Rita notou o silêncio do público que a esta altura, apesar da excelente performance de todos os músicos, ainda se fazia sentir um pouco hostil. Seguiram-se The Beginning Song, Love, What Is It?, Minimal Sounds, Oh My Mr. Blue e a segunda versão da noite, These Boost Are Made for Walkin’, composta por Lee Hazlewood e gravada pela primeira vez por Nancy Sinatra. Numa versão bastante mais roqueira que a versão country original, e substituindo a palavra boots por shoes foi neste momento que Rita conseguiu acordar o público, que finalmente reagiu às guitarradas menos características da cantora. Depois de Golden Era e de Once I Found You, a cantora abandonou o palco com Hey Tom. Uma ovação de pé e os músicos voltam.
Blue Bird On A Sunny Day é a música com que começa o encore seguida de Waves of Emotion, música inédita que deverá entrar no novo disco. Nova saída, nova ovação e novo encore. Rita tocou a última versão da noite, Ring of Fire de June Carter, num instrumento chamado autoharp que, segundo a própria, fez questão de comprar na sua recente ida ao festival SXSW no Texas. Rita contou que “reza a lenda” que foi numa autoharp que June Carter compôs a música que celebriza o seu amor com Jonnhy Cash, seu marido. Com o público já bastante animado o concerto termina com a repetição de The Beginning Song e de Choose Love e com uma Rita Redshoes emocionada.