Reportagem Royal Blood em Lisboa
Foi nas vésperas da Páscoa que os Royal Blood fizeram a sua estreia no nosso país. O concerto, marcado há muito tempo, era aguardado com entusiasmo por bastantes pessoas que nesse dia rumaram ao Coliseu para os ver.
Para abrir o que seria uma noite de pura energia inesgotável do início ao fim, contámos com Bad Breeding, também oriundos da Grã-Bretanha. Foi claro desde os primeiros acordes que aquele não seria um espectáculo para os fracos de coração. Desde idas ao público a subidas pelo equipamento acima, houve de tudo um pouco. Para quem não conhecia, pode ter sido um pequeno choque, juntamente como a sensação de que se estava sempre a ouvir a mesma música a ser repetida. Por isso mesmo, quando terminaram e nos apercebemos de que ainda nem meia hora tinha passado, o sentimento era de alguma monotonia. Mas rapidamente nos esquecemos disso e a verdade é que ajudaram a preparar o público para o que se seguia.
O recinto estava cheio e o barulho era ensurdecedor quando o duo de Brighton pisou o palco e se posicionou para dar início ao que seria um dos concertos do ano (e ainda só estamos em inícios de Abril…). A promessa foi feita bem cedo e era clara: estão aqui para se divertir? Estão aqui para ver um concerto do qual se vão lembrar a vida toda? Acham que têm energia para nos acompanhar? É que nós não vos vamos deixar ficar mal.
E foi o que aconteceu.
“Hole” foi a escolhida para fazer as honras. Embora faça parte do EP e não do homónimo álbum de estreia, era bem conhecida pelos presentes. “Come On Over”, que se lhe seguiu, deu continuidade à onda de energia que emanava da simbiose perfeita entre baixo e bateria e que se misturava com o público. Os primeiros moshpits não tardaram e os fãs rearranjavam-se da melhor maneira possível para desfrutarem do que tinham perante eles em palco.
As primeiras foram sempre a abrir, e em “Figure It Out”, um dos pontos altos, era claro que a banda estava on fire. Mesmo as luzes, em tons laranja e vermelhos, pareciam querer cravar no nosso cérebro a ideia de fogo. Os Royal Blood queimaram o palco e provaram a quem ainda tinha dúvidas de que estão cá para ficar. As influências são claras na sua música, que podemos mesmo chegar a confundir com outros artistas durante alguns segundos. Mas é quando nos apercebemos de que é uma coisa nova que comprovamos a genialidade desta banda de apenas dois membros. As referências estão sempre lá – mas é o que eles fazem com elas que mostra o quão bons Mike e Ben são.
“Little Monster”, “Careless” e “Ten Tonne Skeleton” proporcionaram alguns dos momentos mais altos do concerto. Para uma banda com tão pouco material, não foi necessário existirem tempos mortos para fazer passar o tempo. Na verdade, foi um dos concertos cuja evolução ao longo da hora que durou foi das mais naturais a que já assisti. A música é boa, os músicos são fantásticos – não é preciso muitos floreados ou truques para manter o público ligado ao que se está a passar em palco.
Entre bandeiras e cachecóis nacionais, Ben, descrito por Mike como “metade homem, metade touro”, não se deixava esconder atrás da bateria e interagia com o público de forma invejável a alguém cuja principal função é ficar sentado a tocar atrás de tanto equipamento que por vezes nos esquecemos que está ali alguém.
E se no fim Mike aumentou ainda mais o volume dos amplificadores, pudemos confirmar que não havia ali ninguém que dissesse que não a mais uma hora de concerto. O fim foi igual ao início: pura força e energia, entre aplausos, gritos e cada vez mais à-vontade entre os presentes.
O sentimento final é de comprovação. Comprovação da qualidade desta banda tão jovem e já tão aclamada. As guitarras não fazem falta. Quando se sabe o que se faz, quando se sabe que pedais usar, que notas tocar, que som procurar, tudo flui. O resultado é este: uma das melhores bandas dos últimos tempos. Por agora acreditamos num futuro risonho para eles. E só nos resta esperar pela próxima visita, que, temos a certeza, será ainda melhor.
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quarta-feira, 15 abril 2015