Reportagem Sangre de Muerdago no Porto
Foi na passada sexta-feira que os Sangre de Muerdago encontraram de novo o caminho até à Invicta. Desta vez fazendo casa no seio do bar O Meu Mercedes na Ribeira. Trazendo ainda na bagagem o último álbum "O Camiño das Mans Valeiras". Não faltaram, no entanto, surpresas interessantes ao longo da noite. Noite que se iria revelar perfeita para escutarmos atentamente na nossa intimidade o neo-folk aconchegante deste grupo Galego.
Para os mais distraídos, Sangre são um dos projetos de Pablo C. Ursusson, músico que dedica a sua vida a esta arte, tendo participado em bandas como Ekkaia, Cop On Fire, Ursus e mais recentemente Antlers. Porém, a sonoridade dos Muerdago não poderia estar mais longe dos grupos acima mencionados. Deixando de parte as raízes do punk e do crust, aqui aventura-se num tom muito mais intimista e primordial, no sentido literal da palavra.
O relógio já há muito tinha batido as doze badaladas. O palco estava instalado. Numa ambiência ritualística, com recurso a velas, runas, folhas e musgo, os músicos davam então os primeiros sinais, uma introdução instrumental que serviu de mote para um concerto envolvente, transparecendo a sensibilidade frágil que o grupo pretende captar com a sua sonoridade tão única. Ao ouvirmos pela primeira vez as vozes cantadas em uníssono de Xordas (tema retirado do último álbum), surge-nos imediatamente uma imagem profunda espiritual de ligação com a terra, de comunicação com os nossos antepassados e a memória de velhos tempos. Falando connosco através de instrumentos de cordas, como guitarra clássica, harpa, sanfona (tradicionalmente conhecido como hurdy-gurdy), nyckelharpa e flauta.
Com destreza, suavidade e harmonia os Sangre de Muerdago convidam-nos a despirmo-nos de todas as preocupações do mundo moderno e das tecnologias, focando-se nas melodias arcanas e nas histórias que Pablo nos conta num tom intimista, enquanto tenta adaptar o galego para um tom mais português, por entre as canções belissimamente cantadas por todos os membros. Sangre de Muerdago passam assim uma mensagem clara de que não devemos esquecer as nossas raízes e da triste tendência materialista que a sociedade nos incute e principalmente a de não estar surdo a estes sinais alarmantes. Adeus meus amigos, do álbum homónimo, remata sobre a importância de um novo começo nas nossas vidas, quase que adivinhando que este serão está prestes a terminar.!
Seguindo para a recta final, depois de percorrer a sua discografia surpreendentemente vasta, onde até consta uma música intitulada Saudade, o grupo deixam-nos com dois temas totalmente instrumentais, como que hipnotizando o que resta das nossas almas. E fazendo as contas, é uma conclusão perfeita, merecedora de uma forte ovação do público que revela o seu agradecimento e entusiasmo. A banda volta, no entanto, para um encore com um tema completamente inédito, ainda por editar. Subtil, quase que sussurrando ao ouvido o final de uma noite fenomenal que certamente será difícil de esquecer.
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Organização:Festas Productions
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segunda-feira, 25 novembro 2024