Reportagem Santana em Lisboa
Desliguem a TV e ouçam Santana. O mestre da guitarra voltou a Portugal para mostrar que a idade não passa por ele.
Parece mentira, mas já se passaram alguns anos desde que Carlos Santana era rei e senhor das ondas radiofónicas. Naqueles verões em que ainda se ouvia rádio para gravar canções em cassete, os álbuns de Santana e companhia rodavam a quente, a acompanhar as nossas férias.
Muitos saudosistas fizeram questão de recordar esses momentos esta quarta-feira no Meo Arena, que estava bem composto para receber o guitarrista e compositor. Pessoas de todas as idades vibraram quando, à hora, cerca, se começaram a ouvir os primeiros acordes.
"Maria, Maria" deu o mote à celebração da vida e da dança que se seguiria durante quase três (!) horas.
Apesar dos muitos lugares sentados preenchidos, todos fizeram o gosto ao pé, a aproveitar os ritmos latinos e a boa onda inerente a um espetáculo deste género. E ninguém se fez de rogado na hora de mostrar os dotes (ou a falta deles) de dançarino/a, regados a alguma cerveja.
Essa liberdade era incentivada. A dada altura, Santana chegou mesmo a perguntar se alguém estava drogado na plateia... e a resposta não podia ter sido mais clara.
Entre ensaios de rumba e outros ritmos tais, algumas pausas para a conversa habitual. No cardápio, Santana deixava mensagens de paz e Luz (como tinha escrito na roupa simples que vestia". Ora num portunhol arranhado, ora em inglês ("Seja em que língua for, a mensagem é de amor", dizia ele) pediu ao público para deixar de lado a TV e se concentrar em mudar o mundo. "Temos de mudar a violência no mundo", pedia, usando de muita linguagem gestual para guiar os presentes no caminho da felicidade, em comunhão mundial, e sem desrespeito pelas raças e pelos géneros.
E descanse quem acha que Santana é só conversa... O mexicano passou das palavras à ação e doou um euro de cada um dos bilhetes comprados para este espetáculo à Fundação Milagro, que ajuda jovens desfavorecidos a encontrarem um rumo.
As letras das músicas que ia tocando, juntamente com a sua extensa banda (com duas baterias e dois vocalistas), espelhavam isso e espalhavam boas "vibes". Os clássicos foram os mais bem aceites.
Os momentos altos foram mesmo canções como "Oye Como Va", "Black Magic Woman", "Corazon Espinado" e, já mais para o final, "Roxanne" e "Smooth", sem Sting, mas com muito groove. Pelo caminho, perdia-se um pouco o ritmo nos solos dos artistas que o acompanhavam... As performances da bateria (a cargo da mulher de Santana) e do baixo (que foi usado para entoar "Imagine", de John Lennon, num dos momentos mais emotivos da noite) mostraram a genialidade da banda de Santana, mas perderam-se no tempo e duraram demasiado.
De volta à dança, ainda houve tempo para convidar a palco uma surpresa portuguesa: à comitiva musical juntou-se, a dada altura, Carlos Martins, saxofonista, que deu uma perninha num concerto recheado de talentos.
A estrela maior continuou, claro está, a ser Santana, que tocou com mestria as suas guitarras, seja da maneira mais tradicional, seja com um arco de violino, chegando até a usar a própria barriga para produzir (bom) som.
No final, toda a gente ficou satisfeita e saiu do Meo Arena suada, mas feliz. Depois de três horas de concerto, chegara a hora de arrumar os Anos 90 no saco e arrepiar caminho até ao mundo real.
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Organização:Everything is New
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sexta-feira, 22 novembro 2024