Reportagem Scorpions no Meo Arena
Trazer os Scorpions a Portugal é sinónimo de encher uma grande sala. Nesta nova passagem isso não foi exceção e, mais uma vez, a Meo Arena esteve muito perto de esgotar nesta nova – e provavelmente última – passagem da banda alemã por Portugal.
Num espetáculo de praticamente duas horas de duração, os Scorpions mostraram que, apesar da idade, a longevidade é algo que se preserva. Eles fazem-no, e com muita qualidade, não estivesse a banda prestes a completar 50 anos de existência.
Para quem foi, em 2011, ao anterior espetáculo da banda, e também a este, terá, certamente, poucas diferenças a apontar. A nível estético é tudo muito semelhante e, a nível de alinhamento, uma ou outra surpresa.
Por isso, foi com um misto de deja vu na memória que, às 21h15, vimos o baterista James Kottak subir para a sua bateria – que entretanto já estava elevada a uma altura bastante generosa – e atacar “Sting in The Tail” (tema-título do último álbum de originais), primeira música do alinhamento que, a esta altura, já contava com todos os elementos da banda em palco: o baixista Paweł Mąciwoda, os guitarristas Rudolf Shenker e Matthias Jabs e, claro, o vocalista Klaus Meine.
Estes dinossauros do rock formaram-se em 1965 na cidade de Hanôver, na então Alemanha Ocidental, e funcionaram como espécie de embaixadores musicais da reunificação alemã e da queda do Muro de Berlim. Uma banda com quase 50 anos de existência que, à exceção do cada vez mais imóvel vocalista Meine, exibe uma postura física invejável, capaz de fazer corar muitas bandas que se têm formado nos dias de hoje.
Depois de uma entrada em grande com direito a algum pirotecnia, e após o término da segunda música “Make it Real”, do longínquo Animal Magnetic de 1980, Kleine digiriu-se pela primeira vez aos fãs portugueses, com um “Boa noite Lisboa! Estão bons?” Um público que, ao início, estava algo apático, mas que entretanto se foi soltando numa noite de recordação. Falamos em recordação porque assistir a um concertos dos Scorpions é como reviver memórias passadas. Se pensarmos na história da música dos anos 80 e 90, é inevitável o assalto à memória por parte dos temas dos germânicos. Aliás, o cenário apresentado ajudava nesse aspeto: os ecrãs gigantes que suportavam a banda iam mostrando a história de uma carreira que já vai longa.
A receita acaba por ser sempre a mesma: bateria furiosa e riffs agressivos que iam variando ora entre o rock clássico, ora entre as baladas rock que viriam a definir e a imortalizar uma banda que tem vindo a adiar indefinidamente o seu fim.Após “Is There Anybody There?”, a influente “The Zoo” e a entusiasmante “Loving You Sunday Morning” levaram Meine a dirigir-se ao público, agradecendo a “very long affair” que tem com Portugal. Sempre simpático, o vocalista pediu ao seu público – maioritariamente constituído por gente entre os 40 e os 50 anos – para o ajudar na balada “The Best Is Yet to Come”. E mais duas vitoriosas baladas se seguiram: a muito entoada “Send Me an Angel” e a incontornável “Holiday”.
A esta altura percebíamos que o vocalista Klaus Meine, de 65 anos, ainda possui aquela voz, aquele timbre característico que tanto o evidencia. É natural que surjam algumas quebras, mas a voz mantém-se quase inalterada, quase imaculada. Depois de algumas músicas menos festejadas, como “Hit Between the Eyes”, surgia aquele que viria a ser um dos momentos altos da noite, “Kottak Attack”, o quase mitológico solo do baterista Kottak que mistura luzes, explosões de pirotecnia e filmes surreais que passam em revista as capas dos vários álbuns dos Scorpions. “Tenho três palavras para vocês: You Kick Ass!”, disse aos portugueses, findo o solo de quase dez minutos de duração.
A falsa despedida estaria, pouco depois, marcada para a entusiástica “Big City Nights”. Regressados para o encore, os veteranos apresentaram a vitoriosa toada final: os incomparáveis “Still Loving You”, “Wind of Change” e “Rock You Like a Hurricane” que, como seria de esperar, foram os temas mais esperados e aplaudidos da noite. O desfecho definitivo estaria guardado para “No One Like You”, anunciado o fim de quase duas horas de concerto a todo o gás.
É notório o facto de um grupo com tantos anos de vida de estrada ainda apresentar esta pujança e esta energia física. Não se sabe ao certo se esta terá sido a despedida definitiva do grupo ao nosso país, mas uma coisa é certa: o amor é mútuo e é bonito de se ver. Destaque positivo para o som da Meo Arena: muito equilibrado e com poucas oscilações. Ao nosso lado, no fim do concerto, alguém dizia: “Se isto fosse no Dramático de Cascais, já as paredes tinham ido todas abaixo”. E nós concordamos.
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sábado, 20 dezembro 2014