Reportagem Shellac e Mission of Burma
Shellac, a banda do mítico Steve Albini, fez‐se acompanhar dos Mission of Burma na apresentação da banda na cidade do Porto, fazendo encher o Auditório de Serralves. Um dia após a tão esperada estreia do trio norte‐americano em território português, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, 25 de Maio de 2010 foi o dia de os portuenses aproveitarem a oportunidade rara de ver Shellac ao vivo, numa co‐produção da Amplificasom, Mouco e a Fundação de Serralves.
Os Mission of Burma, banda veterana de Boston, que conta já com três décadas de existência, foram os primeiros a apresentar‐se ao público, tendo em vista a tarefa de aquecer um Auditório de Serralves sentado. Pouco passava das 22 horas quando subiu ao palco, perante uma sala lotada, a banda de Roger Miller (guitarra e voz), Clint Conley (baixo e voz), Peter Prescott (bateria e voz) e Bob Weston (engenheiro de som). Uma das características que define a sonoridade dos Mission of Burma é a experimentação com recurso a tape loops, contribuição importantíssima introduzida pelo ex‐membro Martin Swope no início dos anos 80. O que ele fazia, consiste em gravar o que se está a tocar ao vivo, manipulá‐lo, e enviar o resultado de volta, como se de um novo instrumento se tratasse. O recurso a este processo implica um factor de imprevisibilidade que nem sempre corre bem, mas ao qual os membros da banda acham piada, exactamente por esse carácter imprevisível. Depois do desmembramento em 1983, a reputação dos Mission of Burma desenvolveu‐se bastante, sendo o seu trabalho considerado por vários críticos enquanto essencial num ponto de viragem da música norte‐americana independente. A banda é apontada como referência e inspiração de bandas como Nirvana, Pearl Jam, Sonic Youth, Yo La Tengo, Fugazi, R.E.M. ou Pixies. Bob Weston, também membro dos Shellac, substituiu Swope na tarefa de engenheiro de som, aquando da reunião da banda em 2002, depois de uma longa paragem de duas décadas.
Depois dos Mission of Burma, foi a vez dos Shellac subirem ao palco para mostrar o seu rock minimalista, cuja receita leva ingredientes como ritmos pesados e repetitivos, o som angular da guitarra e as letras sarcásticas de Steve Albini, líder carismático da banda e nome fulcral na cena do rock alternativo norte‐americano. Ex‐Big Black e Rapeman, conta com 25 anos de carreira. Enquanto engenheiro de som e produtor, trabalhou já com inúmeros grandes nomes, tais como Nirvana, Pixies, PJ Harvey, Mogwai, The Stooges, Robert Plant ou Manic Street Preachers. Aquilo a que hoje se chama de indie, muito deve a este senhor. O trio formado em 1992 na cidade de Chicago, composto por Steve Albini (guitarra e voz), Bob Weston (baixo e voz) e Todd Trainer (bateria) rendeu o público com uma excelente sessão de rock bruto, matemático e minimalista. Albini e companhia percorreram, para grado do público, o repertório que reuniram em quase duas décadas, num alinhamento que contou com temas como "Copper", "Squirrel Song", "Steady as She Goes" ou "Prayer to God".
Houve ainda tempo para uma breve sessão de perguntas e respostas entre a banda e o público, antes de os primeiros se despedirem da assistência com "Spoke", tema retirado do mais recente disco de originais "Excellent Italian Greyhound", já com grande parte dos presentes em pé, após um pedido por parte da banda para que o público de levantasse enquanto assistia ao espectáculo. Afinal de contas, não é todos os dias que se vê um concerto de Shellac. Se nos é dada essa rara oportunidade, ao menos que a usufruamos de pé!
Assistiu‐se esta noite, no Auditório de Serralves, a dois excelentes espectáculos, com a presença e prestação positiva de duas bandas incontornáveis no panorama do rock alternativo norteamericano.