Reportagem Shout Out Louds no Santiago Alquimista
Concerto de uma noite de Verão
Foi numa noite de temperaturas altas (como têm sido todas) e céu limpo que os Shout Out Louds actuaram para um Santiago Alquimista minimamente composto (a cerca de meio gás), mostrando ao vivo aquilo que já mostravam em disco: nada de particularmente original ou impressionante, mas competência e energia mais que suficientes para fazer qualquer um esboçar um sorriso e abanar o corpo.
O concerto não foi talvez tão coeso como poderia ter sido (algumas músicas mais calmas quebraram o ritmo, perdendo a atenção do público), nem nunca se aproximou do memorável ou genial, mas nem todos os concertos têm de chegar a tal. Mais que competentes e com as suas canções meio pop meio rock, a banda sueca fez uma bonita e agradável festa, criando sorrisos facilmente visíveis no público quase sempre dançante (que teve, por si só, a coesão que faltou ao concerto: quando era para dançar, dançavam todos; quando tudo ficava mais calmo e a atenção se perdia, era assim com todos os presentes) e um ambiente de celebração. Não será certamente um dos concertos do ano nem ficará por muito na memória dos presentes, mas dificilmente alguém se terá arrependido de ter ido.
Desde logo tiveram um bom início, com 199”, primeira faixa de “Work”, o seu mais recente disco que foi lançado no ano passado, a proporcionar um arranque energético e quase eufórico. Aquele teclado funciona lindamente com aquelas guitarras, e aquele baixo funciona lindamente com aquela bateria; não são músicos geniais, mas sabem bem o que fazem. O quinteto funciona bem em palco, interpretando de forma sempre competente e sem falhas as canções que se em disco dão vontade de abanar a cabeça, ao vivo dão vontade de abanar tudo o resto. Bastou o início para ver todo o público a balançar-se, num ambiente de agradável festa íntima e pessoal que viria a pautar todo o espectáculo. O alinhamento passou pelos três álbuns da banda e logo à segunda faixa veio South America, canção de Our Ill Wills, segundo álbum da banda lançado em 2007, que manteve o bom ritmo. Com a canção seguinte, a bela Very Loud, voltaram ainda mais atrás, ao longínquo ano de 2003, quando saiu o disco que os apresentou ao mundo: Howl Howl Gaff Gaff. Foram alternando constantemente entre discos, tocando menos do primeiro (como seria de esperar) e mais dos últimos dois, sucessos que os colocaram nos palcos um pouco por todo o mundo.
Algumas canções não resultaram tão bem, como por exemplo Your Parents Living Room, menos energética e mais melódica; mas mesmo os momentos menores foram bons, e mesmo com o público em alguns momentos a dedicar-se demasiado à conversa e não tanto à banda em cima do palco, nunca foram visíveis bocejos. Foi uma festa com os seus altos e baixos, em que os altos nunca roçaram o memorável e os baixos nunca se aproximaram do desperdício ou desilusão. O momento da noite foi, claro, aquele que se esperava: Tonight I Have To Leave It, aquela canção que em 2008 (salvo erro) tanto passou pelas nossas rádios e televisões graças a uma campanha da Optimus. 2008 não foi assim há tanto tempo, e isso foi visível: bastaram os primeiros acordes para o público ficar eufórico, passando esse sentimento para a própria banda, com o vocalista a dirigir-se ao público com o microfone no ar para que este cantasse “Give love!”, aquela frase que por cá tanto sucesso fez. E, de facto, maior amor que aquele não se sentiu durante o resto da noite, que nunca conseguiu voltar a igualar aquela energia e comunhão banda-público que se viu à sétima canção, ia o alinhamento a meio. Talvez não seja a melhor música deles, mas é sem dúvida a que mais assente está nos nossos ouvidos e que, por isso mesmo, mais nos entusiasmou (a nós e aos estrangeiros de pele branca e cabelos louros presentes no público…).
Perto do final veio um belíssimo momento que só poderia resultar tão bem cá: You Are Dreaming, onde se canta “Where were you when we called the police? Were you ready to go home and hard to please? But no, you were in Portugal. So don’t go back to Stockholm no more”. O público conhecia a música, gostou de ver nela o seu país, e foi um momento simplesmente bonito, não particularmente energético nem dançável, mas apenas de comunhão e de significado. A própria banda parecia mais que contente por a tocar cá.
Não tardou muito após essa a saírem do palco para depois voltarem com um encore de duas músicas: Impossible e Walls. A primeira foi por si sí um dos momentos da noite, vertiginosa e de ritmo energético e constante, e a segunda não ficou muito atrás, tocada com todo o público naquele degrau antes do palco, aos saltos em pleno estado de festa. Belo momento, que terminou o concerto da melhor forma possível, após perto de hora-e-meia de boa música, sempre em ambiente de agradável festa.
Os Shout Out Louds vieram ao Santiago Alquimista e deram uma bela festa que quase nos fez acreditar que o Verão chegou mais cedo. Não chegou, mas fez uma rápida passagem por cá na noite passada.
Pelo meio do encore, a banda inseriu o refrão “Go back to Portugal!”, cantado pelo público com o vocalista de microfone no ar mais uma vez. No final, nós ficámos, mas eles voltaram para Estocolmo, levando o Verão e a festa com eles. Resta agora esperar que regressem e que tragam o Verão com eles. Quem foi desta vez certamente não se terá arrependido.
Há concertos assim: com espírito de Verão, de férias, de relaxamento e diversão. Não marcará certamente nenhum dos presentes, nem será um dos melhores do ano, mas há concertos que não precisam de ser nem uma coisa nem outra.