Reportagem Sights & Sounds
Sábado passado (18/02/2012) a República da Música, em Alvalade, viu regressar a Lisboa os canadianos Sights & Sounds, de Andrew Neufeld (Comeback Kid), entre concertos em Loulé e no Porto.
A banda de suporte da digressão, os americanos Constants, não terá tido a recepção mais calorosa por parte do público. O seu pós-metal vagamente shoegazer (ver Alcest, Katatonia), apesar de brilhantemente executado, não surpreendeu nem cativou um público maioritariamente concentrado na parte de trás da sala, junto ao bar. A banda respondeu com uma frieza à altura.
Em seguida atuou Sam Alone, o alter ego de Apolinário Correia (Devil In Me, Cascavel, Sons of Misfortune) que presta homenagem ao cancionismo norte-americano. As músicas do ainda reduzido catálogo de Sam Alone confundiram-se harmoniosamente com os clássicos interpretados, de Jimi Hendrix (“Red House”) a Patti Smith (“Because The Night”). Carismático, convincente, e acompanhado de uma banda bem oleada, Sam Alone conseguiu aproximar o público do palco e arrancar alguns coros. No final, despediu-se com o single “Youth In The Dark” (do álbum a ser editado pela Rastilho num futuro próximo), dedicado, não à juventude, mas à classe operária “que paga por erros que não cometeu”.
Os Sights & Sounds, como já se ouvia falar por aí, são uma banda de peso ao vivo. Apesar da sonoridade polida e progressiva, aqui apoiada por samples e teclas, a entrega é a da escola hardcore e a dureza, é, portanto, a de quem anda na estrada. A banda continua, ao fim de mais de dois anos, a tocar em promoção do (soberbo) disco Monolith, de 2009, pelo que o concerto não trouxe grandes novidades para quem os viu nessa altura. A abrir esteve o rock épico de “Storm And The Sun” e “Sorrows”, deste mesmo disco, a fazer lembrar por vezes uma versão mais musculada dos Sparta. Andrew Neufeld aproveitou o intervalo entre músicas para declarar o seu amor a Portugal e aos amigos portugueses, relembrando uma vez em que os Comeback Kid vieram tocar a Portugal e foram socorridos pela roupa interior de Apolinário Correia quando perderam as malas. As potentíssimas “Neighbours” e “Reconcile” mostraram uma voz agressiva e incansável digna de um Dave Grohl, mas foi a delicadeza melódica de “The Clutter” que colocou um ponto final num concerto sem falhas de um dos segredos mais bem guardados do pós-hardcore.
Texto: Bernardo Pereira
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sábado, 20 dezembro 2014