Reportagem Silva no Porto
Na última quinta-feira, dia 21 de março, o cantor brasileiro Silva é recebido no norte de Portugal para duas apresentações na Casa da Música, doce e calorosamente interpretando em voz, violão e percussão (Hugo Coutinho) canções suas, e canções compostas por outros artistas brasileiros, nomeadamente Arnaldo Antunes, Gal Costa, Lô Borges, Marisa Monte, Cesar Monte, Caetano Veloso, entre outros.
Casa cheia; Silva é ansiosamente esperado pelo público, que se distingue em nacionalidades e faixas etárias, mas se une em expectativa e sorrisos logo durante a primeira canção levemente entoada pelo artista. Sentado, com seu violão pousado delicadamente em sua perna cruzada, o cantor imediatamente transforma e vira toda a energia das mais de 200 pessoas que lá o esperavam. Carinhoso, é a canção que escolhe para emergir meio aquela multidão. Música de Pixinguinha e João de Barro, conhecida na voz de Marisa Monte, cantora que ganha, em 2016, um album inteiro com músicas suas interpretadas pelo Silva.
Silva segue suave e convida-nos a segui-lo. Com o seu percusionista, Hugo Coutinho, canta algumas músicas que fazem parte do último álbum lançado em maio do ano passado pelo SLAP: Brasileiro. Milhões de vozes, uma das canções do disco de 2018, foi escrita por Arnaldo Antunes em época de pré-eleição no Brasil. O som dessa música reverbera precisamente o que foi pretendido na sua composição; reverbera o som dos milhões de brasileiros tristes que esperam e sentem o peso da ignorância, o custo dela. O caos retorna leve. É fácil e reconfortante notar o que Lúcio Silva tem para nos contar.
Abrindo caminho entre o universo de versões únicas sobre canções épicas, está Um girassol da cor de seu cabelo, canção composta por Lô Borges e Márcio Borges que primordialmente foi lançada em um dos maiores álbuns da música brasileira, o Clube da Esquina. Nessa versão, além de voz e violão, Silva adiciona sua drum machine precisamente no lugar onde entram os pesados violinos na canção original, e dá uma nova roupa à música que tinge permanentemente o repertório MPB. A diferente interpretação não leva a nenhuma perda de valor sobre a original. Ainda ouso afirmar que acrescenta, revê e impõe a canção dentro de um tom atual e igualmente importante.
Silva e Hugo Coutinho fecham aquela iluminada noite com Fica tudo bem, música que muito ficou nos ouvidos populares durante o ano que passou. No álbum Brasileiro, essa faixa é cantada em conjunto com Anitta, uma das mais famosas vozes do pop funk brasileiro. Lembro me bem que logo na primeira vez que ouvi essa canção pensei no quão certa tinha sido a decisão de Silva de convidar Anitta. A canção é bonita, e, além disso, ela possui o mais puro estado da voz da cantora, o que facilmente surpreende qualquer um que já passou pelo nome de Anitta ou por algum de seus hits. A canção foi pensada para ser propriedade do Brasil durante o ano de 2018, e acabou por atingir lindamente o seu objetivo.
Desde 2012, quando lançou o seu primeiro álbum Claridão, Silva ganhou o seu espaço e a sua verdade fincou-se. Todos sabiam que o rapaz abriria caminho para se tornar exatamente aquilo que é hoje: um artista que convida todos os sentidos a abrirem-se quando o tom singular de sua voz é sentido; fazendo nascer uma obra completa e espelho perfeito do autor.
Felizes e completos saímos nós depois de 1 hora de Silva, em anseio por um BIS.
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quarta-feira, 27 março 2019