Reportagem Simple Minds no Porto
Os escoceses Simple Minds saíram do baú das memórias e aterraram em plena baixa do Porto, no também histórico Coliseu do Porto, para um serão muito bem passado. Há realmente coisas que a idade não apaga, e a qualidade é uma delas.
Foi com um misto de admiração e curiosidade que a notícia de que os Simple Minds iriam regressar a Portugal, ainda para mais com um concerto acústico. E a notícia de que KT Tunstall faria a primeira parte só aguçava mais a curiosidade, cantautora muito acarinhada pela banda fundada em 1977 em Glasgow.
E esse carinho fez-se logo notar quando o animado frontman Jim Kerr a anunciou, com pompa e circunstância, pedindo a devida atenção a KT Tunstall. E a verdade é que a sua conterrânea não desiludiu ninguém, com a sua folk energética a deixar toda a gente aquecida para o que vinha mais tarde. Alicerçada nos seus populares temas como “Suddendly I See” ou “Black Horse And The Cherry Tree”, KT certamente amealhou mais fãs com um português muito bem arranhado, alegria genuína e uma atitude bastante electrizante.
Contudo, o Coliseu tinha vindo para ver a Jim Kerr e Charlie Burchill, os membros restantes daquela que foi durante muito tempo uma das bandas mais populares da Escócia. O palco encontrava-se, como descrito por Jim Kerr, decorado como se fosse uma sala de estar, com um grande candeeiro de lustre preso no tecto. Num grande espectaculo de luzes em jeito de celebração da sua longa carreira, os músicos deram a sua entrada em palco. E apesar da sua qualidade enquanto músicos e performers, é sem dúvida Jim que atrai mais o olho, que de blazer e camisa se desfaz em gestos e danças, beijos lançados para o público e uma presença de quem fez escola nos anos 80 nas lides da música.
E assistiu-se a um desfile de clássicos, começando com “New Gold Dream” para a entrada em palco, saltando mais tarde para outros temas icónicos da sua carreira, tais como “See the Lights”, “Chelsea Girl”, “Waterfront” ou “Someone Somewhere in Summertime”. Houve ainda espaço para homenagens: primeiro para David Bowie, artista muito admirado pela banda e aqui revisitado com “Andy Warhol”, logo seguindo-se Patty Smith com “Dancing Barefoot”. Perto da saída do encore, o primeiro dos momentos extâsiastes da noite, com “Don’t You Forget (About Me)” a colectivamente transportar todos os presentes até 1985, mais precisamente para o salto que Judd Nelson dá no final do seminal “Breakfast Club”.
Mas o melhor estava para o final, com um encore de luxo: primeiro, outra versão, desta feita “Cross” de Prince, relembrando a sua perda em 2016, seguindo-se “Promised You a Miracle”, que teve o condão de trazer a palco a talentosa KT Tunstall para açucarar o tema com a sua voz. Mais uma versão, “For What it’s Worth” de Buffalo Springfield (tema também revisitado várias vezes no cinema, como por exemplo em “Forrest Gump”), meteu toda a gente de pé, que no final nem sequer precisaram de se sentar, pois “Alive and Kicking” relembrou-nos o porquê de esta banda ter brilhado em tempos passados.
Apesar de não gozar o estatuto de outros gigantes da época, os Simple Minds estão vivos e recomendam-se, muito graças ao talento de Charlie como guitarrarista, a competência dos músicos de palco e da disponibilidade de Jim Kerr em fazer um bom espectáculo. Dado o seu número de visitas regulares a terras lusitanas, é mais do que certa uma próxima visita. Até lá, ficamos com a recordação quente de uma banda que se recusa a ser esquecida.
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Organização:Everything is New
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quinta-feira, 18 maio 2017