Reportagem Simple Plan no Coliseu dos Recreios
Foi no passado Domingo (11 de março) que o Coliseu dos Recreios acolheu um dos grandes nomes do pop punk internacional e voltou a lembrar o que é ser adolescente: os Simple Plan, acompanhados pelos We The Kings, deram assim um concerto eficaz que agradou aos poucos (mas entusiastas) fãs que se reuniram na sala lisboeta para acolher os seus heróis. Era altura de pegar no skate e no “punk rock”, de odiar tudo o que nos rodeia e embarcar na onda nostálgica de um género musical que se recusa a morrer, mesmo após quase uma década da sua explosão.
Já com meia década de bagagem, coube aos We The Kings abrir caminho para o início de uma noite algo invulgar. Bem-dispostos e prontos a entusiasmar o público português, os norte-americanos apresentaram vários temas da sua já considerável carreira como "She Takes Me High’" e "We’ll Be A Dream". Apesar da menor prioridade dada aos temas de Sunshine State of Mind (lançado no ano passado), apenas tendo tocado "Say You Like Me", houve tempo para uma chover de "The Middle" dos Jimmy Eat World, algo que lançou o agrado geral num Coliseu dos Recreios a meio gás. Eficientes, mas pouco originais – é como se pode resumir os cerca de 45 minutos tocados pelos We The Kings.
Claro que o alarido que recebeu os Simple Plan é consideravelmente superior ao da banda de abertura – e estes souberam exatamente como tirar melhor partido disso mesmo. Um esplendoroso jogo de luzes e uma música triunfal ecoou no Coliseu dos Recreios poucos segundos antes dos artistas entrarem em cena, recebidos por uma explosão de gritos de um público maioritariamente jovem. Prontos a por todos os presentes a mexer, os Simple Plan, liderados pelo vocalista Pierre Bouvier, iniciaram o seu set com "Shut Up!", tema do esforço Still Not Getting Any, de 2004, e provam instantaneamente que possuem a qualidade técnica suficiente para dar vida aos seus temas. Este é, de facto, o único trunfo da manga de um banda que pouco tem para oferecer e que tem vindo a perder a sua identidade ao longo dos anos.
Apesar de os músicos já passarem dos trinta anos, ainda mantêm o entusiasmo de adolescentes, comunicando com os fãs de forma entusiasmada e divertida, no entanto, fica a impressão que nas atuações ao vivo, já entram em piloto automático. "Jump", intercalada por uma breve alusão a "I Got A Feeling" de Black Eyed Peas, pouco mais ofereceu do que a versão de estúdio e até ‘Addicted’, um dos temas mais antigos do repertório musical dos canadianos, foi um pouco desprovida de brilho e um exemplo de como a banda cai em praticamente todos os clichês musicais nas atuações ao vivo: pedir aos fãs que imitem os ‘oooohs’ e ‘eeeehs’ e para que estes tirem os telemóveis do bolso, entre outros. Nada, no entanto, que caia em desagrado no público português, que apesar de apenas ter preenchido metade da plateia em pé, salta e canta como se não houvesse amanhã.
Bouvier e David Desrosiers, encarregue do baixo, aproveitam o entusiasmo do público para fazer piadas de índole sexual e até para se abanarem e mostrarem os corpos no palco. Demonstrações gratuitas de perversão sexual (tendo em conta a idade média dos fãs que se deslocaram ao Coliseu dos Recreios) ou brincadeira de rapazes, foi algo que destoou do ambiente auto-crítico e depreciativo das letras que apelam ao sentido de revolução de adolescentes por volta de todo o mundo.
Os temas de Get Your Heart On! foram, obviamente, uma grande parte da setlist dos Simple Plan. "Can’t Keep My Hands Off You", "You Suck at Love" e a veranil "Summer Paradise" foram alguns dos temas apresentados, que demonstram uma direção mais acentuada para o pop açucarado e o tops 40 de singles – como se pode ver pela intenção da execução do medley "Moves Like Jagger" / "Dynamite" / "I’m Sexy and I Know It", esta última servindo de propósito a um muito literal abanar de rabos por parte dos canadianos. É, assim, com esta progressão de carreira que os Simple Plan deitam fora os pretextos de tocaram punk rock e abraçam o estilo de vida de uma boys band, que se encarrega de guitarras e baixos na composição dos seus temas.
Nada que impeça a eficiência da postura destes em palco e de como os seus temas são recebidos. "This Song Saved My Life" entusiasma os lisboetas e "Welcome To My Life" foi um dos inegáveis temas da noite, perpetuando-se como o hino de uma juventude incompreendida. Os canadianos partiram então para dois encores, o primeiro que encaixou "Loser of the Year" e "I’m Just a Kid" e o segundo que deu lugar a "Perfect" e ao entoar emocionado dos fãs portugueses de um dos hits de No Pads, No Helmets... Just Balls.
Acabou por ser um concerto que animou e entusiasmou os fanáticos, deixando todos os restantes meio expetantes. Podemos dizer, no entanto, que foi uma primeira vez em Portugal bem sucedida, ao encargo daquela que é uma banda icónica da cena pop punk do início do século XXI – e só por permanecerem relevantes já merecem mérito, aguardando-se uma nova visita.
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sábado, 20 dezembro 2014