Reportagem Six Organs of Admittance
Foi no passado Sábado que o Teatro Maria Matos teve a honra de receber, por mais uma vez, o compositor e intérprete Ben Chasny, músico por detrás do projecto Six Organs of Admittance. Mostrando multiplicidade tanto nas suas publicações como em visitas em Portugal (conta-se uma sétima ou oitava vez), Chasny teve a oportunidade de apresentar o mais recente Asleep on the Floodplain a um público conhecedor, que o recebeu de braços abertos.
Não é um intérprete comum, diga-se de passagem. Chasny mostra-se em palco sozinho, apenas com uma guitarra acústica, e não tem pretensões de ser um grande entertainer: é pouco falador, mas certeiro e de humor acutilante quando se dirige às dezenas de lisboetas, que mesmo assim encheram a sala de espetáculos. No entanto, tem o grande mérito de fabricar um ambiente hipnotizante e envolvente com o seu material que, apesar de não ser muito coeso, prima por uma qualidade muito singular. Coesão não é, de facto, uma característica corrente nos trabalhos de Chasny: este passa tanto por um fingerpicking mecânico como um dedilhado calmo e as canções que se aproximam tanto do minuto e pouco como de longos vinte e três tanto são sombrias pelo peso do drone, como mais despreocupadas na sua harmonia. Porém, é através de pequenas pérolas como "Elk River" ou "Drinking With Jack" que Chasny atinge a sua primor e consegue assim contar as suas histórias ao público português, que se deslumbra com estas.
É, talvez, a multiplicidade de influências e de estilos que torna difícil etiquetar este projecto. Devendra Banhart coloca-o entre nomes como o de Joanna Newsom no movimento freak folk, mas enquanto que este já parece ter esmorecido ultimamente, Chasny permanece como um dos mais interessantes músicos a acompanhar. Devaneios à parte, a música é envolvente, acutilante, por vezes até brilhante, seja pela mão de um drone turbulento e psicadélico ou um folk acústico e inventivo. O público português não parece ficar indiferente: a meio do concerto lança-se um ‘I love you, Ben!’, ao que o artista responde ‘Thanks, mom!’ – é uma ligação especial, que certamente se prolongará no futuro. Carinho do público é muito e é recompensado com o tema "Lisboa", dedicado à nossa grande cidade. Parece-nos bem.
Um concerto calmo, de cerca de uma hora que soube a pouco. Os temas do novo álbum, incluindo-se "Above a Desert I’ve Never Seen", são interessantes e singulares e o público seleto rejubila com a nova reunião com uma espécie de herói do folk, que cada vez mais se afirma como único no panorama musical internacional.
Texto: Teresa Silva