Reportagem Skunk Anansie no Porto
Praticamente eclipsados pelo tempo, pelas modas e pela pluralidade de bandas e projetos que têm vindo a gozar de maior exposição mediática, os Skunk Anansie, caídos no esquecimento dos muitos fãs de outrora, ainda mexem. Longe do clamor de outros tempos e do auge atravessado no fim da década de 90, os britânicos decidiram regressar ao local do crime, que é como quem diz, ao cenário de um dos concertos mais memoráveis da sua passagem por terras lusitanas. O pretexto: “Black Traffic”, chegado aos escaparates em Setembro de 2012.
Volvidos 15 anos dessa noite tão evocada ao longo deste espetáculo, a afluência ao Coliseu do Porto foi francamente diminuta. No entanto, o fervor desta plateia mais reduzida e mais crescida soube fazer-se sentir, reciprocado pela habitual postura irreverente da vocalista, desdobrada em elogios, amabilidades e umas quantas descidas a público.
Minutos depois da hora marcada, o pano caiu, literalmente, revelando os instrumentos em palco. Uma projeção de caminhos percorridos, ora cimentados ora de terra batida, foi conquistando atenções à medida que uma gravação introdutória estabeleceu os primeiros contactos entre o público e o disco acabado de lançar. Porém, a entrada em força faz-se num retorno a 1999 e ao aclamado “Post Orgasmic Chill”: The Skank Heads, dá o mote e marca o tom agressivo, construído à força de guitarras em distorção, baterias pungentes e baixos robustos. Vestida de negro, numa indumentária a ressalvar o evidente destaque para com os seus companheiros, Skin entrou em palco abrilhantada por uma gola de plumas, da qual acabou por se livrar em prol de um maior à vontade.
A interação com o público, de música para música, foi-se tornando uma constante, quer sob a forma de agradecimentos e incentivos a palmas, quer como pela entrega manifesta tanto nos temas mais agressivos como nos mais calmos, de que foi exemplo a concentração vocal observada no decorrer de I Hope You Get To Meet Your Hero – baladinha retirada do já referido último registo de originais.
Lá fora, a chuva não parou de cair, quiçá abençoando o desempenho da banda. Em contrapartida, no recinto a temperatura foi aumentando, com um público que não teve problema algum em deixar-se condicionar pelos rasgos de energia vindos do espaço destinado aos músicos, que não tardou em revelar-se demasiado pequeno para as descargas energéticas da vocalista. Foi hora de agradecer a quem enfrentou as intempéries climatéricas para marcar presença, e de retribuir com uma canção que pedia que todos dançassem e saltassem, com o intuito de que, durante pelo menos uma canção, todos pudessem esquecer os seus problemas. Ironicamente, apesar do apelo a uma certa libertação ser inequívoco, o tema escolhido foi Twisted (Everyday Hurts A Little More). “Stoosh” (1996) provou estar bem vivo e na memória dos presentes, e que pena que não tenha sido relembrado por mais vezes. Hedonism (Just Because You Feel Good) foi cantado a meias com o público, demonstrando que o valor do passado não se contabiliza apenas pela afluência, nem pelas saudosas referências ao concerto de 99, mas também pelas vozes e os braços que se elevaram durante este momento.
E porque mesmo antes do mediatismo alcançado já os Skunk Anansie haviam dado cartas no mundo da música, houve também que revisitar o primeiro disco por eles editado. I Can Dream, de “Paranoid and Sunburnt” (1996), correspondeu ao pico de efervescência no alinhamento, com Skin a invadir a plateia, inesperadamente, e a lançar-se da régie, num mergulho que se estendeu até ao palco. O público pareceu agradecer numa boa dose de renovação de euforias, que se mantiveram em modo reforçado até ao final apoteótico com Charlie Big Potato.
Tear The Place Up, Secretly e Little Baby Swastikkka foram os temas guardados para o encore. A entremear duas canções de alto teor rock, Secretly foi dedicada a quem teve o prazer de estar presente naquela mesma sala, há 15 anos atrás. A despedida, no entanto, fez-se de regresso ao primeiro disco, onde a vocalista, de câmara gopro ao peito, se voltou a lançar à audiência, onde captou reações de um público obediente às diretrizes e, ora sentado, ora de pé, ia sublinhando a intensidade do tema. No fim, nova explosão, resultante num crowdsurf que após ter deixado Skin em cima do palco não a trouxe de volta às canções. Uma conclusão que pareceu ter agradado a quem compareceu à chamada dos Skunk Anansie, que não precisaram de cair excessivamente em modo best-of para garantir o sucesso da atuação.
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sábado, 20 dezembro 2014