Reportagem Spoon em Lisboa
Três anos após a sua última passagem por terras lusitanas, os Spoon compensaram o público português com não um, mas sim três concertos por Portugal neste ano de 2017. Depois de uma atuação sólida pelo NOS Alive, a banda apresentou-se em concerto próprio pelos Coliseus, com o de Lisboa a dar por encerrada a tournée em prol do mais recente disco, Hot Thoughts.
A recente passagem dos norte-americanos pelo festival de Algés já lá vai, mas as suas marcas perduraram para aquela noite de sexta-feira, com um Coliseu dos Recreios bem longe da massa humana que lhe é característica, estando longe da merecida enchente; visto que os concertos em nome próprio da banda foram anunciados antes da atuação da mesma pelo NOS Alive, fica-se com a impressão que muitos foram aqueles que aproveitaram a oportunidade para matar saudades do grupo.
Ao olhar para as caras de todos aqueles que iam compondo, lentamente, o Coliseu dos Recreios, era observável que a faixa etária da noite era algo mais para o adulta, com um público de vintes e muitos e trintas e poucos a representarem-se em grande peso. Apesar do indie rock dos Spoon andar de mão dada com uma certa jovialidade, a verdade é que se está perante uma banda que marcou os primórdios deste milénio, que se tornou na banda sonora da geração outrora apelidada de “à rasca”. Para estes e para todos aqueles que se consideram apreciadores de música, é inegável considerar os Spoon como uma das bandas mais influentes e talentosas da primeira década de 2000.
Foi nos moldes desse talento e capacidade de entretenimento já característicos que o concerto arrancou ao som de “Do I Have To Talk You Into It”, do mais recente disco, e que veio logo comprovar o desejo que a banda liderada por Britt Daniel tem em seguir uma veia mais futurista, o mote por de trás do novo trabalho do quarteto norte-americano.
Os Spoon são uma banda coesa e eficiente, capazes de produzir trabalhos sólidos que funcionam melhor quando ouvidos de uma ponta à outra, levando a que haja uma escassez de temas capazes de serem interpretados como ‘crowd pleasures’, leia-se músicas fortes e com a capacidade de eletrizar o público. Todavia, a banda tem em “Inside Out” e “Do You”, singles do anterior They Want My Soul, como dois dos seus temas mais emblemáticos. E não é que Britt Daniel e companhia decide soltá-los ambos logo de início, com um intervalo de cinco músicas a separá-las? Perante a audácia da banda, há dois possíveis desfechos: estariam os Spoon tão ‘desesperados’ em prender o seu público ou sabem como construir uma setlist competente e que não precisa de hits para girar em torno de? Quis-nos parecer que foi mais a segunda hipótese...
“Boa noite Lisboa! Estivemos pela vossa cidade há alguns meses para tocar num festival, e deixem-me que vos diga que foi brutal! Prontos para repetir a dose hoje?” desafiou Britt Daniels, cujo casaco de ganga esbranquiçado voou nem duas músicas ainda tinham ecoado pelo Coliseu, com este último a aceitar o desafio livre de receios. O icónico vocalista dos Spoon esteve possuído do início ao fim do concerto, intercalando momentos de pura euforia com energia, até aos momentos de registo mais calmo e chegando mesmo a conter nuances emotivos, como quando se deita em palco para interpretar os temas “Via Kannela” e “I Ain’t The One”, com o seu timbre a soar praticamente idêntico ao registo discográfico.
Depois deste registo mais calmo e sentimental, volta-se ao estilo eletrizante que fez com que os Spoon fossem juntando uma legião de fãs que em tudo lhe são fiéis, com Britt Daniels a perguntar se ele se podia juntar ao público em “Can I Seat Next To You?”. Em termos de alinhamento, o grande protagonista da noite foi sem dúvida Hot Thoughts, com grande parte do concerto a girar em torno do novo disco. Todavia, houve tempo para revisitar temas mais antigos como “Got Nuffin”, “My Mathematical Mind” e “The Underdog”; apesar de a banda não se ter apresentando em formato de best of, houve uma preocupação por parte da banda em equilibrar o alinhamento de modo a que a ênfase do último disco não fosse tão notória.
Já mesmo na reta final, os Spoon terminaram o concerto em chave de ouro com dois dos seus temas mais fortes e festivos, com “Rent I Pay” e “Hot Thoughts”, este este último a beneficiar de um sensacional jogo de luzes, a darem por concluída a tournée europeia de Spoon, numa atuação competente e que demonstrou o quão consolidada está o estatuto da banda como uma das melhores da atualidade e a sua boa relação com o público português, pelo menos julgando pela quantidade de pessoas que saiu do recinto a trautear “Hot Thoughts”.
Tempo ainda para referir a surpresa que foi o concerto dos Husky Loops, que não cederam à pressão de serem ‘apenas’ uma banda rotulada de ‘aquecimento’ e souberam entreter um público que ainda se estava a compor, cujas vibes de indie rock assertivo certamente conquistou alguns novos fãs. Em suma, a noite da última sexta-feira foi, e desculpem o termo, uma noite do caraças!
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Organização:Everything is New
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terça-feira, 02 janeiro 2018