Reportagem St Vincent no Porto
Depois da passagem pelo Optimus Primavera Sound, no passado mês de Junho, Annie Clark voltou a transformar-se na personagem de palco dinâmica que é St.Vincent e regressou à Invicta para, mais uma vez, apresentar os temas da novidade homónima.
Apesar da indiscutível popularidade que a artista norte-americana goza actualmente, quando as portas da principal sala do Hard Club abriram, a fila para entrar era surpreendentemente curta e, em conversas informais, ao mesmo tempo que se apreciava a maravilhosa música de Tim Hecker que passava no PA, tentava-se encontrar uma explicação plausível que justificasse este cenário tão desolador. Contudo, à medida que o tempo passava, o número de pessoas presentes ia progressivamente aumentando, registando-se uma plateia bem composta quando St.Vincent entrou em palco, ao som de “Rattlesnake”.
Como já era de esperar, a cantora e multi-instrumentista seguiu a fórmula habitual e derrubou as fronteiras do simples concerto, proporcionando à sua audiência uma viagem por um universo de elaboradas coreografias, onde os passos de dança minuciosamente ensaiados ou o uso de determinados adereços – como os degraus colocados no centro do palco – foram ingredientes cruciais numa complexa receita artística. No entanto, essa componente cénica acaba por eliminar alguma da espontaneidade que uma apresentação ao vivo exige. Não se trata de estar em piloto automático, pois é evidente que Annie se diverte em palco – basta observarmos o carinho e descontracção que transmite quando comunica com o público, chegando quase ao nível de contadora de histórias – mas uma postura mais solta e imprevisível resultaria numa prestação verdadeiramente memorável.
Todavia, a actuação foi suficientemente competente para lhe atribuirmos uma nota positiva: com um setlist focado na mais recente proposta, temas novos como “Digital Witness”, “Birth in Reverse”, “Prince Johnny” ou “Bring Me Your Loves” misturaram-se harmoniosamente com capítulos antigos como “Cruel” ou “Surgeon”. No final, Annie ficou sozinha em palco e, no momento mais intimista da noite, interpretou “Strange Mercy”, fechando este regresso com chave de ouro.
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sábado, 20 dezembro 2014