Reportagem Suicidal Tendencies em Corroios
Trinta & Um
CJ Ramone
Mesmo aqueles que não estão familiarizados com a carreira dos Suicidal Tendencies conhecem elementos a que lhes associar – seja o skate, as bandanas ou a vaga noção de ritmo frenético da música podre. A margem sul voltou, no passado 25 de Junho, a recebê-los de braços abertos como havia feito em 2009, nesta mesma sala.
À entrada, fazia-se sentir o calor da sala, que arrefecia apenas entre bandas com a abertura das portas laterais. Já tocavam os Reality Slap enquanto à porta se ia juntando um mar negro, rico em t-shirts e caps de promoção desavergonhada à banda que encabeçava a noite. Se Necks & Ropes já não deixava os lisboetas mal vistos, o mais recente Limitless, lançado em Janeiro deste ano, mostra que as raizes do velho hardcore ainda dão frutos. As influências são escolhidas a dedo, e os ritmos rápidos tomam conta da sala que ainda não se preenchia.
Com mais de 20 anos de estrada, seguem-se os Trinta & Um. Pela sala viam-se veteranos dos sons de Linda-a-Velha, que não escapam ao punk velho de clássicos como “O Cavalo Mata!” do álbum homónimo.
CJ Ramone fazia-nos aproximar do ponto alto da noite. Presente a um público que já começava a suar, o baixista que assumiu funções no Ramones desde 1989 até ao ao fim da sua existência, apresenta-se aqui com o projecto de nome próprio e com o mais recente American Beauty na bagagem, mas com os clássicos da banda nova-iorquina a tomarem conta da setlist, a começar por “Teenage Lobotomy”. Do recém-nascido, ouvem-se “Let’s Go”, “Yeah Yeah Yeah”, “Understand Me” e “Girlfriend in a Graveyard”, intervaladas por “Havana Affair” e “Shock Treatment”. Daí em diante, o disco que adornava a bateria deixou de se fazer ouvir, e retrocedemos umas décadas: desde “Boyfriend” a “Sheena is a Punk Rocker”, a lista seguia num desfile pelo punk que inspirou gerações e, claro, “Blitzkrieg Bop” não deixou ninguém indiferente. A batalha campal que se formava ao centro da sala sacudia a testa aos últimos toques de “R.A.M.O.N.E.S.”, e davam lugar então às bandanas.
Quase pingava do tecto, e os Suicidal Tendencies foram entrando aos poucos em palco, deixando que o último membro que ainda resta dos originais S.T. seja também o último a entrar em palco. Na bateria senta-se Dave Lombardo que, desde o ano passado, assume as peles também nos Misfits, depois de ter passado pelos Slayer. Por entre cumprimentos ao público e espasmos na prolongada entrada, dá-se início à festa brava com “You Can’t Bring Me Down”. O Cine-teatro revelava-se agora demasiado pequeno, a varanda transbordava com aqueles que quiseram evitar a confusão do primeiro piso, mas ninguém escapava à onda dos californianos. Stage dives e crowdsurfs desgovernados percorriam a sala de ponta a ponta enquanto no palco se passeava o thrash e se cuspiam conselhos de vida. Pouco custou a Mike Muir angariar ajudantes para “Possessed to Skate”, promovendo uma invasão ao palco que sobrelotou durante esta e “I Saw Your Mommy”. Cyco Mike e Lombardo desapareceram durante as duas músicas, e o palco esvaziou para que os californianos se despedissem com “Pledge Your Allegiance”.
Sem surpresas, esta foi uma noite divertida em o calor insuportável não foi impedimento para que os corpos se mexessem. A boa forma da banda estado unidense não desiludiu e prometeu um regresso sempre que estivermos dispostos a recebê-los.
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Organização:HellXis
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sexta-feira, 22 novembro 2024