Reportagem Sum 41 - Lisboa
Após oito anos desde a primeira atuação em terras lusas, os Sum 41 voltam em nome próprio para um concerto explosivo num quase lotado Coliseu dos Recreios. Nostalgia é a palavra de ordem para os eternos adolescentes, que aproveitam para apresentar o seu novo esforço musical, Screaming Bloody Murder, com data de lançamento para este ano, aos fãs devotos do punk rock açucarado.
Porém, antes de isso coube aos Fitacola abrir a noite do espetáculo. Oriundos de Coimbra, os portugueses souberam entreter um público sedento de música, apesar das claras deficiências tanto da composição das suas criações, como da execução das mesmas. Os Fitacola são constituídos por 4 elementos, presos no género há mais que estagnado do pop punk com “ambições” – e se à plateia recheada de jovens tudo lhes agrada, para os mais graúdos fica clara a falta de originalidade da bagagem musical destes artistas. Estes não apresentam nada que não se tenha ouvido vezes sem conta, nem compensam, infelizmente, com o brio técnico do manuseamento dos instrumentos, falhando várias vezes nos solos de guitarra emotivos de uma juventude perdida. “Nós só queremos tocar”, afirmava o vocalista - fica para uma próxima oportunidade.
Entre os clássicos do hard rock, como os de AC/DC, e os gritos apaixonados dos fãs entusiastas, dá-se a entrada dramática da banda canadiana. Liderados pelo pequeno em estatura, mas grande em chefia da hoste, Deryck Whibley, os Sum 41 não hesitaram em abrir um concerto impetuoso com poucas pausas para respirar. A divertida ‘My Direction’ foi a escolhida para começar, seguindo-se de um tema novo, intitulado de ‘Skumfuk’, e a agressiva ‘We’re All To Blame’, temas que agitaram prontamente os inúmeros jovens que se faziam apertar nas filas dianteiras. Tamanha é a sede de tudo o que tenha a ver com os seus ‘heróis’ que os fãs não são capazes de conter o seu entusiasmo quando Whibley escolhe alguns sortudos para assistirem ao concerto no palco.
Porém, um defeito que podemos apontar à música dos canadianos é a inconsistência na abordagem da sua sonoridade. Aparecendo no panorama musical comercial americano no início dos anos 0, os Sum 41 destacavam-se de uns Green Day ou uns Blink 182 por um charme característico de serem incapazes de se levarem a sério, o charme de quatro miúdos patetas que adoravam a música metal. A partir do momento em que largaram esta abordagem e decidiram enveredar pelos caminhos sinuosos de um pop punk mais agressivo, acompanhados por uma ‘integridade’ musical, o conjunto deixou à vista as carências musicais de um género que se tornou célebre não pela competência e qualidade musical, mas sim pela possibilidade de identificação com a imagem de jovens incompreendidos e rebeldes. Ora, despidos de carisma, é possível ver que os Sum 41 são pouco memoráveis, apesar de eficazes a animar e entreter. ‘Walking Disaster’, ‘Over My Head’ e a recente ‘Screaming Bloody Murder’ são alguns exemplos de temas explosivos e bem executados tecnicamente, mas que não têm muita substância.
Apesar de alguns clichés na performance dos artistas, nomeadamente nos pedidos de um entusiasmo ainda maior dos fãs, e do pequeno interregno metal (‘Metal Mayhem’) que viu o mostruário das habilidades do guitarrista Tom Thacker na interpretação de temas de Metallica e Iron Maiden, o concerto decorreu com fluidez, passando por vários dos maiores hits da banda, como ‘Underclass Hero’ e ‘Still Waiting’. No entanto, é em ‘In Too Deep’ que os portugueses se agitam de forma notória, saltando, esbracejando e vociferando em plenos pulmões as letras de um tema com quem todos se identificam, certamente.
Não é de estranhar, então, que quando se dá a pausa do encore, os admiradores portugueses entoem o nome da banda, com uma ansiedade contagiante pelo retorno dos artistas. Whibley volta, então, pouco depois, para interpretar a emocional ‘Pieces’ – talvez o tema mais Coldplay do seu repertório. O momento alto da noite ficou-se por ‘Fat Lip’, um dos hinos mais ouvidos do pop punk do início do século, que mostrou sobreviver ao teste do tempo pela adesão com todo o coração de quem a ouvia. Por último, os Sum 41 ficaram-se por ‘Pain for Pleasure’, um tema que serve de paródia aos temas clássicos de metal dos anos 80, cantado pelo baterista Steve ‘Stevo32’ Jocz.
Foi, então, um concerto animado dos canadianos que, apesar de já estarem quase na casa dos trinta, se mostram tão jovens como os adolescentes que ainda os idolatram.