Reportagem The Antlers em Lisboa
O Festivais de Verão assistiu, na passada quinta-feira (3 de Novembro), a uma noite estreante de sucesso para os The Antlers, que, na sua primeira atuação em Portugal, produziram um concerto coerente, envolvente e de enorme qualidade. Uma Lisboa assolada por condições climatéricas menos favoráveis não conseguiu forçar a mão da grande fila que esperava ansiosamente à porta do Lux pelos fantásticos nova-iorquinos, que acabaram por retribuir a boa fé portuguesa com boa música.
Sem banda de abertura, e apesar de um atraso considerável, Peter Silberman e companhia deram uma entrada silenciosa no palco do Lux, rodeado por uma sala cheia. "Parentheses" foi o tema escolhido de abertura, escolhido a dedo do mais recente Burst Apart, e assim começa a melancólica, mas reconfortante viagem musical, marcada por uma crescente influência electrónica do recente material dos artistas. Burst Apart demarca-se do aclamado Hospice (2009) não por ser menos deprimente (oxalá o fosse), mas sim por ser mais expansivo e harmonioso. "No Widows" e "I Don't Want Love" são excelentes exemplos disto: é uma vertente pop que se associa ao indie rock intimista e sorumbático dos nova-iorquinos e que não deixa indiferente um público mais velho contidamente entusiástico. De facto, as letras e melodias do recente esforço, parte considerável da setlist do concerto, já pareciam estar na ponta da língua dos portugueses – o que é de louvar, visto sofrer um pouco do síndrome segundo álbum, especialmente por suceder a um álbum tão acalmado como Hospice.
Se a recepção agradou à banda nova-iorquina, esta pouco o demonstrou, mantendo a comunicação com o público num mínimo. Silberman, o porta-voz e alma torturada de excelência dos The Antlers, encantou com o seu falsetto emocional, ganhando toda uma nova presença em palco que não possui em disco – o que contribuiu para o impacto emocional da guitarrada quer metódica, quer assoladora, e para a construção de um ambiente íntimo que embalou e abarcou o público português. Os temas de Hospice não falharam: "Kettering" e a aplaudida "Bear" são suaves e imensamente tristes e aliadas à simbólica "Every Night My Teeth are Falling Out" fazem os momentos da noite.
"Queremos agradecer à British Airways por terem reavido metade do nosso material quinze minutos antes de vocês chegarem", brinca Darby Cicci, o multi-instrumentalista encarregue das teclas. Foi, de facto, um percalço que podia ter impedido esta fantástica noite de música de ter acontecido, mas ainda bem que não o fez, uma vez que fomos presenciados com momentos cada vez melhores à medida que esta terminava. "Putting the Dog to Sleep" é interrompida por um Silberman emocionado e espantado com a adesão dos seus fãs, "Corsicana" é devastadoramente bela, como um murro no estômago e "Sylvia" acaba por fechar a noite numa nota alta, que serve um testemunho à qualidade musical dos The Antlers.
Podem não ser os músicos mais criativos do panorama musical, mas o que fazem é honesto e vem de dentro – atributo que nunca passa despercebido. Daí que esta primeira experiência em Portugal tenha sido um absoluto sucesso... e esperemos que voltem em breve.