Reportagem The Black Keys em Lisboa
A estreia dos The Black Keys em Portugal teve lugar no dia 27 de Novembro de 2012, dez anos após o lançamento do primeiro trabalho do duo norte-americano. O frio e a chuva não fizeram ninguém mudar de ideias, mas obrigou toda a gente a uma visita paga ao bengaleiro no início e no fim do espectáculo.
Às 20h30, pisavam o palco os The Maccabees, banda bem conhecida do público português. Ou não fosse a terceira vez que os britânicos cá vêm. A última foi no Verão, no Optimus Alive e já esse tinha sido um bom concerto. Desta vez, o foco principal foi – ainda mais – o seu último trabalho, “Given to the Wild”. O início do concerto contou com mais adesão da plateia, que até saltou durante a conhecida “No Kind Words”. Mas o lado mais calmo e relaxado do álbum, por mais bonito que seja (“Unknown” ou “Forever I’ve Known” hipnotizam e levam numa viagem entre sons e vozes melódicas quem se deixar ir), quer em registo quer ao vivo, não fez totalmente o género de quem para ali se tinha dirigido com um concerto de rock em mente.
Quando, pouco antes das 22h, finalmente a banda principal pisou o palco, a euforia era mais que muita. O Pavilhão Atlântico estava completamente cheio na plateia e as bancadas a meio gás não se fizeram notar, por entre tanta aclamação. “Howlin’ For You” fez as honras. E teria sido a maneira perfeita de começar um concerto dos The Black Keys, caso o microfone do vocalista Dan Auerbach estivesse a funcionar. Não estava. E isso irritou bastante os fãs, alguns que estiveram nas grades durante a tarde inteira à espera da abertura de portas. Ficámos sem ouvir a primeira música como deve ser, não tivemos direito a bis, mas estávamos prontos para o resto. E o resto foi muito bom.
Com holofotes focados nos dois membros, os restantes membros da banda que os acompanharam ficavam relegados para segundo plano, como que camuflados no próprio fundo. Porque as personagens principais do espectáculo eram mesmo Dan e o baterista Patrick Carney. “Next Girl”, também do penúltimo álbum “Brothers”, manteve o nível de excitação por parte do público bem elevado, e rapidamente passaram para “El Camino”, o seu mais recente trabalho e, sejamos honestos, a razão pela qual a maioria das pessoas ali se encontrava, com “Run Right Back”, “Dead and Gone” e “Gold on the Ceiling”.
Dan fazia questão que ninguém ficasse para trás, e por isso mesmo incitava o público a bater palmas, agradecia com idas à frente do palco enquanto dedilhava a guitarra eléctrica com uma energia notável. «Let’s keep it moving», repetiu várias vezes. E foi assim que o concerto foi: uma corrida em ritmo acelerado, sem abrandamentos, com intervalos mínimos entre os temas. Quem toca assim durante hora e meia merece todas as palmas do mundo. E mesmo que Patrick não tenha dito uma única palavra ao longo de todo o espectáculo, até o desculpamos; afinal de contas, o senhor é rei na sua bateria.
“Little Black Submarines” foi uma das favoritas do público, enquanto “Strange Times” (do álbum “Attack & Release”) teve muito menos adesão do que seria de esperar de um clássico e também um dos seus melhores temas. Foi aí que se percebeu bem ao que a maioria das pessoas vinha. E para quem tivesse dúvidas, todas elas foram dissipadas com a entrada de “Lonely Boy” em cena. Nesse momento não havia ninguém sentado nas bancadas, apesar de terem passado o resto do concerto assim.
Mas antes desse tema, que foi também o último antes do encore, houve ainda tempo para “Nova Baby”, “Tighten Up” e “She’s Long Gone”, entre outras. Dan bem pediu «let’s make them good», mas por esta altura o entusiasmo do público já não era o mesmo do início do concerto.
Durante o encore, entraram em cena duas bolas de espelhos gigantes: uma por cima do palco e outra atrás da mesa de som. E assim que o duo (desta vez sozinho, sem a restante banda) pisou o palco de novo e se ouviram os primeiros acordes de “Everlasting Light”, o Pavilhão foi inundado de pontos de luz reflectidos pelas bolas de espelhos, num simples e tão bonito espectáculo de luz. Para o fim ficou reservada “I Got Mine”.
Tanto Dan como Patrick, dominam no que fazem: cantam e tocam com uma dedicação não disfarçada e com um empenho que só quem faz o que mais gosta possui.
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Organização:Everything is New
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sábado, 20 dezembro 2014