Reportagem The Fiery Furnaces
De todas as duplas musicais contemporâneas, os músicos que actuaram ontem no Santiago Alquimista serão, certamente, uma das mais interessantes. Os The Fiery Furnaces estrearam-se na sala lisboeta mais que lotada e ofereceram um espectáculo agradável, porém algo longo, aos curiosos espectadores.
A banda composta pelos irmãos Matthew e Eleanor Friedberger já desde o ano 2000 que se dá a conhecer, tendo editado oito álbuns até ao presente ano. Os americanos apresentaram, na sua maioria, temas do recente "I’m Going Away" (2009), um registo art pop imprevisível, ao vivo demostrando-se tão punk como rockeiro. Foi através das modificações dos temas, tornando-os praticamente irreconhecíveis, que se pôde verificar a versatilidade dos irmãos. Matthew dedilhava a guitarra sem esforço em devaneios inspirados, Eleanor entoava os lirismos estranhos de forma despreocupada e, assim, passaram por alguns dos momentos altos da sua carreira, acompanhados por uma banda de suporte.
Com uma entrada de rompante, “Rub-Alcohol Blues” tomou as rédeas e a atenção do público, passando por “Charmaine Champagne”, “The End is Near” e “Keep Me in the Dark” do mais recente trabalho. Com a habilidade de nos tirar o tapete dos pés cada vez que achamos que estamos a entrar em território familiar, os Fiery Furnaces vão para além da influência clássica do rock dos anos 70 e assumem a sua vertente experimental e até progressiva, nas suas mudanças de tempo frenéticas e letras pouco convencionais. Assim, Eleanor, parecendo uma Patti Smith e calçada com as famosas botas que deram o nome a uma canção dos Franz Ferdinand, pede desculpa por ter perdido a voz e cativa os fãs no ambiente intimista do Alquimista, apesar de poucas terem sido as pausas no rodopio instrumental do set dos músicos.
Este deu ainda para dois encores, incitados pelo entusiasmo do público, marcados por “Tropical Ice-Land” e “I’m In No Mood”, certamente os pontos altos de um concerto coerente. Destaque para Bob D’Amico, o baterista talentoso que marcava o passo de forma exímia.