Reportagem The Magnetic Fields em Lisboa
Ainda que a chuva e frio se fizessem sentir, foram poucos os que optaram por ficar em casa e ignorar a presença de Stephin Merrit, cabecilha dos americanos Magnetic Fields que após quatro anos voltam para arruinar e embalar os presentes com fragmentos do compêndio do amor 69 Love Songs sem esquecer as breves passagens pelo novo álbum, Love at the Bottom of the Sea.
Apesar do enquadramento depressivo que nos transportava para o mítico top five of memorable breakups do romance High Fidelity, não faltaram ditos engraçados carregados de sarcasmo pela parte de Merrit que fazia questão de nos relembrar que o reportório seria penoso e miserável.
Como seria de esperar, sala esgotada. Claudia Gonson, Sam Davol, John Woo e Shirley Simms ocuparam os seus lugares no piano, violencelo, viola, ukulele e construíram uma orquestra humilde ainda acompanhada por pequenos apontamentos subtis do harmónio. Detentor de uma voz melancólica capaz de envolver e aquecer o Teatro Maria de Matos, Merrit abriu o ciclo de lamúrias com “I Die” que desencadeou outros contos como “A Chicken With Its Head Cut Off” e “Reno Dakota”. Nas páginas seguintes desfilam vinganças e desilusões amorosas em temas do novo álbum como “Andrew In Drag”, “My Husband’s Pied a Terre”, “Quick!” e “Your Girlfriend’s Face” que não passam de um revival prolongado do disco triplo de 1999, apesar de muito bem recebidas pelo público.
A impulsão poética e acolhedora do contador de histórias, meio na penumbra alastra-se pela sala sobrecarregada de sensações típicas de um romântico hipocondríaco. Assim sendo, e de volta ao 69 Love Songs, como não poderia deixar de ser ouvimos “Come Back From San Francisco”, “No One Will Ever Love You”, “You Must Be Out Of Your Mind”, “All My Little Words” e o manual dito por si mesmo, “The Book Of Love”. Provavelmente um álbum sobrevalorizado por muitos, ou mais um para ficar na estante, será impossível negar o quanto este embarca e ilude os ouvintes.
De volta a 1991 com Distant Plastic Trees e num registo mais folk, surge “Plant Wild Roses”, “Fear Of Trains”, do álbum The Charm Of The Highway (1994) interpretada por Shirley Simms e Claudia Gonson e “Drive On Driver” de Distortion (2008).
Os Magnetic Fields enriqueceram o espaço, comoveram a plateia e por fim, despediram-se com “Smile! No One Cares How You Feel” e “Forever In A Day” numa colecção de humores atordoantes que nos deixam à espera do próximo capítulo ainda por edificar
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sábado, 20 dezembro 2014