Reportagem The Soft Moon no Porto
O tempo pavoroso nesta noite de sábado pintou um cenário melancólico na cidade, revelando -se ideal para ser observado no conforto do lar. No entanto, mesmo com estas condições, a vida cultural (felizmente) não parou, e os amantes de sonoridades mais alternativas deslocaram-se à intimista e confortável Sala 2 do Hard Club para testemunhar o regresso dos The Soft Moon.
O projecto liderado por Luis Vasquez voltou ao nosso país para apresentar, numa passagem dupla que também contou com uma paragem na capital, os temas de Criminal, obra fantástica e, possivelmente, o pico criativo de uma curta mas sólida aventura artística feita à base de construções sonoras densas e obscuras. Beneficiando de um excelente jogo de luzes, o grupo norte-americano ofereceu aos que tiveram coragem de sair de casa um serão musicalmente tão impetuoso quanto introspectivo, com um alinhamento que percorreu o presente e o curto passado da sua existência.
Contudo, ficou no ar a sensação de que a actuação nunca chegou realmente a atingir todo o seu potencial; ainda que tenhamos saboreado estas poderosas malhas de post-punk recheadas de influências industriais (bem próximas, em determinados momentos, do território dos Nine Inch Nails) e com referências ao universo da darkwave, faltou, de certa forma, aquele ingrediente que transforma um mero concerto numa experiência avassaladora, que separa as apresentações satisfatórias daquelas verdadeiramente inesquecíveis. A execução exímia esteve lá, o supracitado jogo de luzes também e, acima de tudo, novidades como “Burn”, “Choke” ou “like a Father” resultaram bem ao vivo; todavia, a intensidade emocional nem sempre pareceu estar ao mesmo nível do resto, e residiu aí o único problema desta actuação: o sentimento de ligeiro distanciamento por parte da banda, por vezes num registo demasiado mecânico para o seu próprio bem.
Talvez tenhamos criado demasiadas expectativas em relação à vinda do colectivo, num sonho alimentado a partir das belas horas passadas a absorver a magia da sua discografia, mas este concerto, ainda que inegavelmente interessante, deixou algo a desejar - que nos perdoem os fãs acérrimos. Ainda assim, o balanço é, apesar de tudo, positivo; ninguém disse que ausência de perfeição tem de ser sinónimo de desilusão.
Na primeira parte, os belgas Whispering Sons trataram de aquecer eficazmente a plateia com o seu agradável post-punk de sentimento clássico.
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quinta-feira, 18 outubro 2018