Reportagem The Tallest Man on Earth - Lisboa
The Tallest Man On Earth, não é o mais alto, nem sequer é particularmente alto, tendo em conta a média de alturas do homem sueco, no entanto, a sua interpretação pode considerar-se como tendo um quê de gigante.
Kristian Matsson apresenta-se sozinho, sem banda, entra em palco completamente vestido de branco, dança sem coreografia e de forma inquieta, agacha-se, levanta-se, gesticula e canta muitas vezes em bicos de pé como se fosse irromper num voo.
O palco é minimalista, tem um piano e um jogo de luzes que promove a projecção da sombra do cantor conferindo um ar mais intimista e ainda mais pessoal ao espectáculo. Kristian quer assumir-se como estranho, cria uma narrativa peculiar nos intervalos das canções, pára e deslumbra-se com o público, agradece a sua presença mostrando-se quase enternecido.
Entre as músicas e em tom de confissão narra uma história sobre dificuldades económicas que o obrigaram a vender a alma a Anna (a sua produtora que no palco lhe fornece as várias guitarras para as músicas). Relata que Anna o obriga a cantar canções tristes e pede para ela o deixar cantar uma canção alegre. Explora o nonsense e diz que, na verdade, é ela que controla as suas cordas vocais e que nem sequer sabe falar inglês. Faz também pequenas confissões sobre a sua vida nos últimos dois anos e refere que tem muitas, demasiadas, canções tristes. Toca de forma exímia, com um ar de improviso, passa pelas várias guitarras, banjo, harmónica, piano, dança freneticamente, bate com os pés no chão, atira as palhetas para o chão e chega mesmo a sair do palco e cantar sentado num lugar da plateia. Ficamos na dúvida se será tudo emoção à flor da pele ou o resultado de um ensaio geral, sendo que, seja qual for o motivo, o espectáculo resulta bem.
No alinhamento estiveram presentes temas dos seus álbuns anteriores, faixas do seu repertório habitual, como sejam, “Love Is all”, “Kids On The Run” ou “King of Spain”, acompanhadas com algumas covers, uma brilhante versão de “I Say A Litlle Prayer”de Aretha Franklin, pronta a derreter corações, passando por Nina Simone e um cheirinho de Abba. The Tallest Man On Earth confessou que tem um novo álbum pronto, prestes a sair e que pretende testar uma das músicas, tocá-la ali pela primeira vez ao vivo, para nós. Eis que surge “The Running Styles of New York”, tema do seu novo trabalho e que segundo ele foi inspirado nas vivências em Nova Iorque onde tem estado nos últimos meses. Este foi bem recebido pelo público que lhe prestou o mesmo entusiasmo dos temas anteriores, apesar de o estar a ouvir pela primeira vez.
A plateia ri, dá gritos de ovação e aplaude durante todo o concerto. Kristian é sedutor, sabe que é bonito e cativante, embora finja não o saber e é hábil a flirtar com o público.
Possuidor de uma voz rouca e alta, exímio a tocar guitarra e criador de temas poéticos e intensos, é muitas vezes comparado a Bob Dylan. Apesar de não ser uma comparação despropositada, principalmente quando ouvimos os primeiros trabalhos, não deixo de sentir uma evolução, uma maturidade adquirida ao longo dos anos que se traduz na estética do último álbum “Dark Bird is Home” e que é visível na actual interpretação dos temas ao vivo.
O concerto foi muito aplaudido, os fãs acompanharam as canções e seguiram com atenção todos os trejeitos e confissões do autor. Em bom rigor as suas canções tristes conseguem ser ao mesmo tempo tão cheias de vida. No fim do concerto Kristian Matsson retribuiu com vénias e beijos, tudo indica que gostou de nós. Nós, o público, gostámos dele.
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terça-feira, 26 fevereiro 2019