Reportagem The Walkmen em Lisboa
Da costa este americana com amor - foi com imenso agrado que recebemos a notícia que os The Walkmen voltariam a pisar palcos portugueses, já na reta final do presente ano. Apesar de realocados do Coliseu dos Recreios para uma sala consideravelmente mais pequena, o pequeno, mas acolhedor, TMN Ao Vivo, a banda norte-americana presenteou-nos com mais um excelente concerto, brindando à ligação especial já testada e comprovada entre esta e o público português. Poucos, mas bons, foram os fãs que assistiram a um concerto intimista de uma banda que, apesar de ter algum reconhecimento comercial, passa a muitos ao lado – e não devia, certamente. Coube ao guitarrista virtuoso Filho da Mãe a abertura do evento.
“This is our favorite place to be!”, avança Hamilton Leithauser, vocalista e front man do quinteto, pouco antes dos acordes dedilhados iniciais de “Line By Line”, tema de avanço. Relembremos 2008: uma passagem pelo Super Bock Em Stock e um Tivoli lotado, e a surpresa dos Walkmen perante fãs arrebatados. Dois anos depois, é num Coliseu dos Recreios bem composto que a paixão redobra, pelos dois sentidos. Nasce também Lisbon (2010), por amor à capital portuguesa. Se a adesão ao concerto de uma banda que ainda no presente ano passou por Portugal (no festival Primavera Sound, no Porto) é pouca (culpa da crise também), não se pode negar que o carinho chega até aos norte-americanos, quer no silêncio expectante, como no singalong dos temas que aconchegam neste tempo mais frio. A arrepiante “Blue as Your Blood” e a dupla “On The Water” e “In The New Year” são bons exemplos da esparsa emotividade que percorre todo o material dos The Walkmen – e que, fundamentalmente, atingem o fundo do coração de quem os ouve.
Heaven, lançado no presente ano, é óbvio e principal candidato no alinhamento. “Heaven” apela pela lembrança de tudo por que lutamos (com um “ooh ooh ooh ooh” muito encantador), já “Love is Luck” ataca a improbabilidade do amor. Os Walkmen já não são os miúdos elétricos do rock barafustado e instável, por vezes até amargo, apoiados pelo enorme poder vocal de Leithauser. Agora, o vocalista acalma as águas com belas e nostálgicas melodias, sobre o modesto e minimalista instrumental de Paul Maroon (guitarra eléctrica) e a batida rítmica de Matt Barrick (que de talento nada lhe falta). “Blue as Your Blood”, de Lisbon, embala os portugueses, que apesar de pouco se ouvirem inicialmente, crescem em volume e em apoio aos nova-iorquinos. Não podemos esquecer que os Walkmen não amoleceram completamente, sendo a incontornável “The Rat” mais que suficiente para agitar a hoste e servindo um testamento de sobrevivência ao teste do tempo. Já “We Can’t Be Beat” foi outro dos pontos altos da noite, merecendo sorrisos por parte de Leithauser e companhia, quando cantarolada pelo público, aconchegado na forte presença intimista da banda no pequeno recinto.
Ficará na memória, certamente, a entoação da melodia de “Heaven” por parte do público, em jeito de pedido de retorno para um encore – e a banda norte-american assim o cumpre. A lindíssima “I Lost You” enfatiza os altos alucinantes do vociferante frontman, seguindo-se “Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone” e, por fim, “Another One Goes By”, originalmente de Marc Mazarin, a sublime balada do amor perdido. Ficamo-nos assim, com mais uma envolvente passagem dos Walkmen por palcos portugueses e uma (re)lembrança da qualidade do conjunto, que está constantemente evoluindo e apresenta-se uma das bandas mais coesas ao longo de toda a sua carreira.
“São mesmo uma grande banda”, ouve-se à saída – já os norte-americanos poderão dizer que somos um grande público.
É bom saber que o apreço se estende nas duas direções.
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sábado, 20 dezembro 2014