Reportagem Thirty Seconds to Mars em Lisboa
Quis o destino que o concerto dos Thirty Seconds to Mars, marcado para Abril último e a ocorrer no Campo Pequeno, fosse adiado por alguns meses. Embora já esgotado, a data para Lisboa viria a ser ‘promovida’ para a Altice Arena, visto que os preparativos para a Eurovisão levassem a que a maior sala de espectáculos do país estivesse reservada umas boas semanas antes da sua ocorrência.
Embora a passada quarta-feira marcasse a terceira presença dos Thirty Seconds to Mars pela Altice Arena, verdade seja dita que este regresso ficou também marcado pela fraca adesão de público; o palco encontrava-se mais adiantado para a frente do que lhe é costume, alguns balcões estavam encerrados e embora o Golden Circle estivesse praticamente lotado, a plateia em pé mal chegava à mesa de som.
Os Thirty Seconds to Mars e Portugal sempre tiveram uma excelente relação, ou não tivesse sido o nosso país o primeiro onde a banda viria um dos seus concertos a ter lotação esgotada. Esses tempos já lá vão, é certo, ou não tivesse o projeto de Jared Leto perdido a chama de outrora, onde A Beautiful Lie e This War catapultaram-nos para um estrelato onde eram reconhecidos como uma das bandas de rock alternativo de maior sucesso do momento.
Apesar dos tempos de glória arriscarem entrar no limbo do esquecimento, felizmente que os Thirty Seconds To Mars têm a audácia de não quererem viver somente dos êxitos passado, apresentando um alinhamento onde o America, o desinspirado recente disco que tenta respirar um pouco das novas tendências electrónicas do momento mas que acaba por sufocar no meio das próprias, foi o grande destaque.
America pode não ter sido recebido de forma tão efusiva como os outros trabalhos da banda, é verdade, mas esse percalço em nada mancha o belíssimo espectáculo que é um concerto dos Thirty Seconds to Mars, mesmo que a ausência do (agora antigo) guitarrista Tomo Miličević seja mais do que evidente; todo o trabalho de guitarra passa agora a não passar de material pré gravado.
Com o pontapé de saída a ser feito por uma “Monolith” muito despercebida, “Up in the Air” aqueceu a Altice Arena para que “Kings and Queens” e “This is War” a incendiassem por completo, com esta última a ser encerrada na companhia de dezenas de balões gigantes a serem soltos pelo público. Com “Dangerous Night” a atingir a meta da mão cheia de músicas, os Thirty Seconds to Mars tinham mais de dez mil pessoas nas suas mãos, muito por culpa do icónico Jared Leto. É difícil de acreditar que já são quarenta e seis os anos que lhe pesam em cima, especialmente tendo em conta o seu look juvenil e a capacidade de puxar pelo público vezes sem conta, ora fosse através de múltiplos “braços no ar” e “quero ver toda a gente a saltar”; pedidos que foram sempre interpretados como ordens.
Regressando ao passado de A Beautiful Lie, com os refrões de “From Yesterday” a levarem-nos de volta a uma adolescência ao passado, o alinhamento apresentado pelos Thirty Seconds to Mars destaca-se pela forma como intercala músicas dos anteriores registos da banda com o mais recente disco. Todavia, e apesar do abrandamento ou deslocamento destas últimas, os acérrimos fãs da dupla da Califórnia, os que preenchiam a totalidade do Golden Circle, acolhem-nas como se de autênticos hinos de estádio se tratassem, com bandeiras alusivas à banda a serem abanadas por hooligans que tentavam o seu melhor para dançar ao som de temas como “Hail to The Victor”.
Como já é hábito num concerto de Thirty Seconds to Mars, alguns felizardos – “os melhores dançarinos desta sala” - teriam a oportunidade de se juntar à banda em palco para “Rescue Me”, mas a estrela de mais uma tirada de America seria o ‘nosso’ Diogo Piçarra, juntando-se a Leto no refrão de uma canção que interpretou a intensidade e paixão com que faz nos temas da sua autoria; “façam barulho para os Thirty Seconds to Mars!”, gritou Piçarra em bom português depois de ter passado, quase de forma irónica, trinta segundos em palco.
Com o concerto a chegar perto do fim, houve tempo para que o ‘outro’ irmão Leto, Shannon, tivesse o seu momento de estrelato numa “Remedy” em formato acústico. Logo de seguida, há “The Kill”, tema que meteu os Thirty Seconds to Mars nas bocas do mundo, a ser entoada por uma sala inteira, mantendo o mesmo impacto nostálgico independentemente dos anos que passem.
Como seria de esperar, os inevitáveis elogios da praxe guardados bem para o fim – “vocês foram o primeiro país que nos deu o prazer de tocar para uma sala esgotada. Adoramos-vos do fundo do coração, adoramos como vocês conseguem sentem isto de forma tão apaixonada. Obrigado!” – disse um sentido Jared Leto. Pouco depois, o mesmo viria a interromper “Walk on Water” de forma a prestar auxílio a uma fã prestes a ficar inconsciente; “façam um corredor e deixem-na passar. Está muito calor, ela precisa de respirar”. Naturalmente, a atitude heroica de Leto foi recebida com uma enorme ovação.
Para o final, a apoptose total do público far-se-ia ao som da previsível, mas sempre arrebatadora “Closer to the Edge”, onde uma vasta multidão teve a possibilidade de se juntar aos Thirty Seconds to Mars debaixo de uma chuva de confetis que rapidamente se propagou por toda a Altice Arena. Um fim feito em festa para assinar mais uma celebrada passagem dos Thirty Seconds to Mars por Portugal.
Foto: Nuno Conceição / Everything is New
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quarta-feira, 19 setembro 2018