Reportagem Toby Driver no Porto
Toby Driver já se tornou há muito tempo uma das principais figuras da música experimental, quebrando de forma arrojada quaisquer barreiras estilísticas. Quem já o escutou com os dois projectos que lhe trouxeram reconhecimento e admiração - os maudlin of the Well e os Kayo Dot (estes últimos nascidos das cinzas dos primeiros) recordar-se-á da mistura dinâmica de jazz, metal, música clássica ou influências progressivas – um autêntico caldeirão avant-garde – que definiam os lançamentos com a marca do ambicioso músico norte-americano.
Contudo, na passada noite de quarta-feira, Toby Driver passou pela Cave 45 para nos mostrar o seu material a solo e o que vimos e ouvimos foi algo muito diferente do habitual. Largando o frenético tom exploratório com o qual construiu uma reputação, apresentou-se num registo mais simples e directo, próximo dos ambientes mais contemplativos de Michael Gira ou Scott Kelly, embora com uma identidade bem vincada. Acompanhado de Keith Abrams (também dos Kayo Dot) na bateria, o concerto acabou por ser uma agradável e serena viagem por um mundo de sonoridades introspectivas, com Toby Driver a ocupar igualmente a posição de frontman. Mencionou, num tom algo jocoso, a rivalidade Porto-Lisboa e referiu – aqui ainda na brincadeira mas com mais seriedade - como Scott Kelly se aborrece quando as pessoas falam nos concertos dele, aproveitando para pedir que o público não fizesse barulho de modo a que a música pudesse ser devidamente apreciada. No geral, o discurso foi informal e descontraído, passando a imagem de um tipo porreiro a proporcionar um bom serão.
Falando de serões aprazíveis, a primeira parte ficou a cargo do músico inglês Nick Hudson, que pintou a Cave de belos tons folk somente com uma guitarra. Contudo, sentiu-se a necessidade de um ambiente mais sossegado – de preferência um auditório onde nos pudéssemos sentar e sentir a encantadora música de Hudson. Ainda assim, não deixou de ser bonito.
No final, o balanço foi positivo: assistimos a dois concertos muito competentes e onde o som esteve sempre equilibrado, tendo sido interessante ver mais uma faceta da personalidade musical de Toby Driver.
-
sexta-feira, 22 novembro 2024