Reportagem Unknown Mortal Orchestra em Lisboa
“Like Acid Rain”, segundo tema de Multi Love, terceiro disco dos neozelandeses Unknown Mortal Orchestra, não constou no alinhamento do concerto na passada terça-feira, na Aula Magna. Porém, e numa irónica obra do destino, a canção esteve mesmo presente, tomando forma de uma intensa chuva, ‘obrigando’ que as t-shirts alusivas à banda fossem antes substituídas por chapéus-de-chuva e impermeáveis.
Felizmente, tal chuva ácida não afastou os fãs de Unknown Mortal Orchestra de marcarem presença em peso, praticamente esgotando a Aula Magna. Naquela que seria a primeira presença do grupo na capital desde 2015, Lisboa teve finalmente a oportunidade de abraçar o mais recente Sex & Food - este ano já tinham estado no Porto por duas ocasiões, no festival NOS Primavera Sound e em nome próprio.
Apesar de a apresentação de novo disco ser o principal ponto de interesse na noite, a mesma começou com um louvar aos hinos no passado, com “From the Sun”, a dar o pontapé de saída a uma viagem ao passado, viagem que os fãs de Unknown Mortal Orchestra aproveitariam cada momento. Talvez em jeito de apelo para que fosse seguido nessa dita jornada, Ruban Nielson, líder e fundador da banda, sai de palco e aventura-se num solo de guitarra em pleno movimento, saltando e deambulando um pouco por toda a Aula Magna.
Novamente de pés bem assentes no palco, o serão de clássicos manteve-se através de uma imaculada transição entre temas para “Ffunny Ffriends” e “Swim and Sleep (Like a Shark)”, regressando aos tempos mais indie rock da, onde o psicadelismo lo-fi operava no núcleo da banda, numa altura em que o sucesso atual não passava de uma mera miragem.
Com “Necessary Evil” a abrir os portões para os campos funk psicadélicos explorados a partir de Multi-Love, com “So Good at Being in Trouble” a ser a única outsider, numa aparição aplaudida e quase a ameaçar um levantamento pelas cadeiras da Aula Magna. Todavia, a grande estrela da noite seria sem dúvida Sex & Food, com o melodioso disco a soar (ainda) mais completo ao ser apresentando em palco, com “Ministry of Alienation” a provar exatamente isso, com um vibrante solo de saxofone assinado pelo pai de Nielson já no final.
Depois de constantes mudanças de alinhamento, parece que os Unknown Mortal Orchestra finalmente estagnaram numa formação mais ‘familiar’, com Kody Nielson e Chris Nielson a ficarem encarregues da bateria e dos teclados, respectivamente, com o baixo a ficar encarregue do já duradouro colaborador Jacob Portrait. Fruto deste seio familiar, a cumplicidade entre a banda torna-se mais evidente do que nunca, com a mesma a ser notória nas sonoridades de “Major League Chemicals” e “American Guilt”, duas provas da versatilidade de temas existente em Sex & Food.
Depois de Ruban ter cantado junto do público em “Not in Love We’re Just High”, o desfecho do concerto seria feito ao som da sempre cativante “Multi-Love”, carimbada com o sucesso de levantar o público da Aula Magna das suas cadeiras e festejar ao som dos Unknown Mortal Orchestra. Momentos depois, ninguém arranjou tempo para voltar aos seus lugares, com “Hunnybee” e a fatídica “Can’t Keep Checking My Phone” a porem o ponto final num concerto que, apesar de repleto de qualidade, deixou toda a Aula Magna a questionar-se: “como assim só uma hora de concerto?”.
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segunda-feira, 12 novembro 2018