Reportagem Vallenfyre no Porto
Os Vallenfyre são o produto positivo de uma situação bastante negativa, tendo sido formados por Greg Mackintosh, guitarrista dos lendários Paradise Lost, após a morte do pai, vítima de cancro da próstata. Como forma de ultrapassar a tragédia, o músico britânico começou a compor sem qualquer objectivo comercial, mas rapidamente mudou de ideias e reuniu um grupo de amigos para que esta nova aventura visse a luz do dia. Para além de Mackintosh, os Vallenfyre contam com uma verdadeira união de estrelas do underground, constituída por Scoot (Doom, Extinction of Mankind), Hamish Hamilton Glencross (ex- My Dying Bride) e Adrian Erlandsson (At the Gates, Paradise Lost, The Haunted, Cradle of Filth).
Tendo já lançado dois álbuns de originais, o grupo é uma das propostas mais entusiasmantes do universo do heavy metal nos últimos anos. Todavia, apesar de todo o hype, a sala 2 do Hard Club encontrava-se bastante despida, o que poderá significar que a presença de elementos de bandas conhecidas nem sempre se traduz numa forte afluência… ou talvez a realização da primeira edição do Burning Light Fest, em Lisboa, tenha feito concorrência.
Seja como for, quem assistiu à estreia dos Vallenfyre no Porto, nesta fria noite de sábado, não saiu da sala defraudado. Nem mesmo a ausência de Adrian, substituído pelo finlandês Waltteri Väyrynen , abrandou o ritmo alucinante desta actuação. O jovem músico provou ser uma autêntica pérola escondida, capaz de fazer inveja a muitos bateristas veteranos. Há que destacar igualmente o bom trabalho do guitarrista Sam Wallace, responsável por reproduzir as linhas de guitarra de Greg Mackintosh, que em palco desempenha somente a função de vocalista. Ao contrário da postura mais introspectiva que assume com a sua banda de raiz, aqui Greg adopta um registo muito mais descontraído e comunica bastante com o público, brincando constantemente com o mesmo. Musicalmente, o concerto foi uma sessão de puro death metal old school, na tradição de uns Entombed, aos quais se juntam elementos de doom e crust, originando uma amálgama sonora absolutamente devastadora. Em cerca de 75 minutos, os nossos ouvidos foram brutalmente castigados ao som de malhas como “Scabs”, “Odious Bliss”, “Savages Arise”, “Desecration” e, no final, “Splinters”. Intensos e irrepreensíveis, os Vallenfyre mostraram que mesmo sendo, em teoria, um supergrupo, na prática são um colectivo extremamente coeso, restando esperar que a fraca adesão não impossibilite um eventual regresso deste excitante projecto.
Na primeira parte, os catalães Foscor apresentaram um interessante cruzamento entre Opeth antigo e Ackercocke. Apesar de não terem recriado totalmente a magia que possuem em estúdio, talvez devido ao som desequilibrado do qual foram alvo, proporcionaram um aquecimento competente e deixaram vontade de os rever, se possível em nome próprio.
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terça-feira, 17 março 2015