Reportagem Vampire Weekend - Lisboa
Os Vampire Weekend são daquelas bandas que põem um sorriso parvo na cara de pessoa. As letras não fazem grande sentido, o vocalista tem um ar engraçado com voz a condizer, e as canções são do mais divertido que há. A palavra “Diversão” é, sem dúvida, aquela que mais os define: não são, de forma alguma, uma banda genial, mas actualmente é raro ver uma banda que faça música tão light, exótica (já me ouviram bem aquela voz e aquela guitarra?) e divertida assim tão bem.
O concerto que deram hoje num Campo Pequeno (o segundo no mesmo ano, depois de em Julho terem passado pelo Super Bock Super Rock) bem composto (plateia em pé esgotada, ou perto disso), foi símbolo disso: hora e meia (um pouco menos que isso) de canções rápidas e simples que se em disco nos dão vontade de cantar baixinho e abanar a cabeça ao vivo dão vontade de cantar a altos berros e abanar o corpo. Um concerto de pura diversão que tornou bem visível o virtuosismo da banda; não hão-de marcar ninguém e não são músicos propriamente geniais, mas têm um som catchy e engraçado que coloca um sorriso na cada de qualquer um, tocando ao vivo de forma eficaz e energética canções que já em disco o eram.
Entraram pouco passava das dez, depois de uma bela primeira parte de Jenny and Johnny, aka Jenny Lewis, dos Rilo Kiley, e Jonathan Price. Canções que num momento lembram Beach Boys e no momento a seguir lembram Wilco; meio folk, meio músicas de Verão, sempre agradáveis do início ao fim. Uma primeira parte louvável, onde a própria boa recepção do público mostrou isso. Quem for hoje ao Porto e não os conhecer vai ter uma bela surpresa.
Após uma entrada pouco depois da hora marcada, começaram logo com Holiday, canção de Contra, segundo álbum da banda lançado este ano que é uma sóbria (ainda que inferior) continuação do primeiro. Já aí se via um bem definido quadrado de público na plateia em pé que saltava e batia palmas em perfeita sintonia. A festa começou logo aí, e prosseguiu ao longo da noite a bom ritmo, ainda que com altos e baixos. Algumas das canções mais calmas da banda simplesmente não geram a empatia com o público que podiam e deviam gerar, e a própria sequência do alinhamento teve as suas falhas. Tocar Run a seguir a Cousins? Foi passagem autêntica da apoteose ao bocejo. Os Vampire Weekend são bons quando nos querem fazer saltar e abanar o corpo, não tanto quando nos querem acalmar e criar ambientes mais íntimos.
Ainda assim, mesmo os momentos mais baixos foram agradáveis, e a pouca quantidade em que existiram não serviu para minar a noite. Ezra Koenig é um vocalista carismático e simpático, tendo logo ao início do concerto ganho o público quando colocou aos ombros a bandeira portuguesa que alguém atirou para o palco. Interagiu algumas vezes com o público, com os agradecimentos do costume, e o sorriso honesto que teve na cara do início ao fim mostrou bem o contente que estava por ali estar. Algo que se pode dizer em relação aos restantes membros da banda, todos eles mais que competentes no que fazem. O teclista, em particular, faz um belo trabalho. As canções deles podem ser simples, mas simplicidade assim tão bem-feita não é qualquer um que faz. São todos músicos francamente competentes, e aquela excelente transição de Campus para Oxford Comma, um dos momentos da noite que chegou antes do encore, foi exemplo disso mesmo.
Percorreram com cuidado os dois álbuns que têm, não deixando nenhuma das maiores de fora. A terceira canção foi logo Cape Kod Kwassa Kwassa, um dos singles que apresentou a banda ao mundo, tendo sido facilmente um dos melhores momentos da noite. Até a espectacular e energética One (Blake’s Got a New Face) teve lugar, e só apenas uma canção fez falta: a fenomenal The Kids Don’t Stand a Chance, que encerrava na perfeição o primeiro álbum da banda. Talvez no inevitável regresso, essa não falte.
Foram quase noventa minutos de pura diversão. Uma plateia em pé sempre a abanar o corpo, e uma bancada na sua maioria também de pé a seguir com cuidado cada canção, cada momento. Se já no Super Bock tinham dado um belo concerto, este foi melhor não pelo concerto em si (nesse aspecto, estão ao mesmo nível), mas apenas devido a um factor: no Campo Pequeno não houve poeira. E a acústica estava surpreendentemente boa, com tudo bem nítido e a um volume apropriado. Coisa rara, naquela sala.
Os Vampire Weekend são, muito provavelmente, uma das mais populares bandas actualmente. Música jovem, feita por e para jovens. O público presente, na sua generalidade de uma faixa etária abaixo dos 20, mostrou isso mesmo. Aquele som de Verão, energético e alegre, com aquelas letras excêntricas e estranhas que dão vontade de sorrir, faz deles uma banda facilmente apelativa. São um dos pequenos fenómenos do momento (e há tantos, hoje em dia), e com concertos assim percebe-se o porquê. Não são geniais e não irão deixar marcas em ninguém, mas a sua música jovem e simples diverte como muitos outros tentam e falham. Os Vampire Weekend são jovens e já é de louvar o que alcançaram; agora, é esperar para ver como irão crescer. “Muito obrigado, iremos voltar cá, certamente. E com novas canões”, disse Ezra pouco antes de sair do palco, após um belo encore onde Horchata, Mansard Roof e a espectacular Walcott encerraram o espectáculo em festa.
Por agora, ficamos com mais este belo concerto, de onde é difícil não sair com um sorriso de orelha a orelha e os pés um pouco doridos de tanto saltar.
Ao que parece, ser jovem continua a ser muito, muito divertido. E com bandas assim, como é que poderia não ser?