Reportagem Wire no Porto
Concertos de bandas consagradas são sempre uma incógnita: por vezes assistimos a belas demonstrações de uma louvável e impressionante vitalidade artística, outras vezes a pálidas versões do que outrora esses grupos foram no auge da sua existência.
No caso dos Wire, o cenário podia perfeitamente ter sido o segundo, mas foi com um sorriso nos lábios que acabamos por testemunhar o primeiro. Ainda que a idade dos seus elementos seja naturalmente notória, sobretudo no vocalista/guitarrista Colin Newman, provaram que a glória do passado não lhes deixa demasiado confortáveis ao ponto de cultivarem a inércia no presente. Nesta noite vimos uma banda a esforçar-se para que o seu legado – que inclui uma breve associação ao movimento punk rock mas, sobretudo, um lugar de destaque na história do post-punk – se mantivesse intacto de forma a poder continuar a influenciar gerações futuras.
Curiosamente, observando o público que preencheu de forma satisfatória a Sala 2 do Hard Club nesta fria noite de Inverno, rapidamente notávamos a diversidade que o caracterizava, numa mistura de fãs de longa data (incluindo, como já era de esperar, britânicos que os acompanham provavelmente desde os tempos da seminal estreia “Pink Flag”) e jovens que, motivados pelo impacto dos primeiros álbuns do grupo, decidiram espreitar para ver o que daqui saía e poder afirmar que sim, viram os Wire ao vivo, num pequeno pedaço de história que para sempre guardarão com carinho.
Foi precisamente a combinação da curiosidade de alguns e o desejo por uma envolvente sessão de nostalgia de tantos outros que originou o ambiente bastante agradável e entusiasmante que se viveu neste espaço, numa genuína celebração da obra de uma das mais influentes bandas de culto dentro da música alternativa.
No entanto, não se pense que o alinhamento consistiu somente na interpretação de clássicos de tempos que já lá vão, pois os Wire fizeram questão de percorrer várias eras do seu percurso. Ouvimos temas recentes como “Playing Harp for the Fishes” ou “Short Elevated Period” mas também composições velhinhas, mas eternamente poderosas, como “Three Girl Rhumba”, do supracitado primeiro disco que tão boa gente inspirou. Uma actuação bem conseguida e deveras coesa, recheada de composições que alternavam entre a empolgante mas contida simplicidade dançável e o minucioso experimentalismo de cariz atmosférico que se escuta, por exemplo, na majestosa aventura sonora que constitui uma malha como “Hung”. Acima de tudo, e por muito que inevitavelmente os cataloguemos, os Wire são indiscutivelmente donos de uma sonoridade muito própria, sendo que esta passagem serviu para os vermos a exibir, com gosto, a magia dessa fórmula que só a eles pertence. Uma actuação deveras competente por parte de uma banda que ainda não se encontra pronta para a reforma; com prestações assim, sabe bem mergulhar num mar de nostalgia.
Na primeira parte, os Sweet Nico protagonizaram, infelizmente perante uma plateia ainda pouco composta, um aquecimento bastante eficaz com base na pop sonhadora e relaxante que praticam.
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sábado, 01 dezembro 2018