Reportagem Wovenhand no Porto
Três anos após uma memorável actuação no Amplifest, os Wovenhand regressaram ao nosso país, sendo que a primeira data desta dupla passagem teve lugar no Hard Club.
A noite começou com a apresentação de Filipe Felizardo. Sozinho no palco, somente com uma guitarra e um conjunto de pedais, proporcionou uma viagem por um blues de cariz experimental, revelando uma especial sensibilidade para a construção de camadas sonoras densas e arrastadas. No entanto, a fórmula, ainda que promissora, peca pela repetição que se instala após algum tempo de escuta, resultando numa proposta relativamente interessante que, no entanto, ainda precisa de tempo para evoluir. O potencial, contudo, está claramente lá.
Seguiram-se os Wovenhand, que rapidamente tornaram claro, através do som poderoso que saía das colunas da Sala 2, que o concerto ia ser especial. A base musical do grupo pode ter as suas raízes no folk americano, mas o produto final vai muito mais além, incorporando elementos de diversas áreas do rock (o pós-punk, o industrial, etc), criando-se assim uma sonoridade bem abrasiva. Na verdade, notava-se a vontade de David Eugene Edwards em focar esta prestação na vertente mais pesada dos Wovenhand, apesar da faceta ritualista ter estado igualmente presente.
A própria postura do ex-líder dos 16 Horsepower, com os olhos semicerrados ou fechados, como se estivesse a receber visões, enfatizava essa componente espiritual, até pela inclusão de um cântico tribal que antecedeu o início do espectáculo e que foi novamente escutado mais à frente. Estávamos claramente perante uma experiência poderosa, de carácter religioso (basta analisar as letras para nos apercebermos da importância que o tema do cristianismo tem no universo da banda) e que se revelou emocional e musicalmente intensa. Dividindo o set entre temas do mais recente “Star Treatment”, como “The Hired Hand” ou “Crystal Palace” e recordações como “Corsicana Clip”, “ The Refractory” ou “ King O King”, os Wovenhand deixaram a sua marca e confirmaram que são um colectivo único no panorama da música alternativa. Para quando o próximo ritual?
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Organização:Amplificasom
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quinta-feira, 11 maio 2017