Reportagem Wrekmeister Harmonies no Porto

Numa quinta-feira que parecia não querer largar a chuva intensa durante o dia, aguardava-se com entusiasmo o cair da noite que nos iria trazer um dos projetos estadunidenses mais interessantes da atualidade. Os Wrekmeister Harmonies, conhecidos pela sua vasta experimentação sonora. Contando já com uma extensa discografia desta vez vem apresentar a sua nova abordagem em “Light Falls”.

O coletivo de J.R. Robinson subiu sem grandes vaidades ao palco do Passos Manuel, com um calibre extraordinário de músicos ao seu lado. Algo que não é novidade nenhuma para Robinson mas como o próprio já revelou, é lhe desconhecida a razão para tal. Talvez por causa do seu carácter inventivo, abertura musical e algum secretismo à volta da sua persona.

Ao som dos primeiros acordes de piano e da voz de Esther Shaw somos sugados para um ambiente lúgubre, que se vai construindo mais e mais até que a espiral sonora quebra numa ebulição de batuques e discórdia entre o violino que ecoa agressivamente pela sala. A voz de J.R. Robinson, ora soturna, rouca e distante dissipa-se com “stay In - go out - get sick - get well - light falls”.

Sensivelmente ao longo de uns curtos 40 minutos e pouco mais, conseguiram transpor toda uma intensidade numa atuação em que cada membro estava em constante mutação um com outro. A Dana Schechter (Inseck Ark) e a Shaw em total sintonia sónica, complementam-se com instrumentos diferentes. Trabalhando bem a dinâmica por dentro e fora da música. Sentindo-se só como um longo trecho de transe induzido, de harmonias e dissonâncias. Guitarra rompante que ora ruge e faz tremer o peito, como no momento seguinte se transforma num esqueleto acústico lento e latejante do que era antes.