Reportagem dEUS na Aula Magna

No passado Sábado (4/02), a Aula Magna recebeu os dEUS, naquele que foi o restabelecimento de um caso amoroso que dura já há muitos anos: entre os belgas e os fãs portugueses. Apesar de já terem passado por terras lusas inúmeras vezes, a sala de espetáculos lisboeta pode contar com sala cheia, naquela que foi uma noite de apresentação do último álbum, Keep You Close (2011).

Antes de abordarmos o concerto dos alt-rockers, foi aos também belgas Hong Kong Dong que coube a tarefa de abrir o palco. São quatro membros e acabaram por dar um concerto de abertura algo particular, apesar de muito divertido. Os dois irmãos encarregues das vozes, Sarah Yu e Boris Zeebroek, vestem-se como membros de uma banda do momento asiática, no entanto, o pouco material que já reúnem demonstra claramente uma mistura de rock contemporâneo com as peculiaridades sonoras da música chinesa. São uma espécie de híbrido dos OK Go e dos DEVO perdidos numa viagem à China com o Kevin Barnes (of Montreal) como vocalista. Apesar de muito carismáticos e organizados ao vivo, ficamos com a sensação que este projeto está longe de ser o produto final – estando os Hong Kong Dong a apresentar, de facto, o seu EP de estreia homónimo – mas fica uma primeira impressão de uma banda que vai dar que falar.

Já os dEUS não perdem tempo: pedindo desculpa pelo ligeiro atraso, o carismático Tom Barman vocifera um energético "BOA NOITE!" e põem-se as mãos na massa. "The Final Blast" é o primeiro tema escolhido, do mais recente álbum, e começa muito literalmente num estrondo: e se não é este o tema a fazer todos levantar do assento, é a dançável "The Architect" que o faz, naquele que é talvez o tema mais acessível e mainstream da banda belga.

É uma banda de culto, sem dúvida (apesar de muito seguida), e ao vê-los ao vivo somos incapazes de perceber como é que uma banda deste calibre foi consistentemente ignorada ao longo do tempo. Não é certamente por falta de hits, apesar do material antigo dos belgas ser mais estranho e diverso, mas os dois últimos esforços dos dEUS mostram que estes fazem rock alternativo de excelência e que são uma banda verdadeiramente amadurecida e merecedora de apreciação. Os temas de Keep You Close como "Constant Now" e "Easy" não são tão expansivos como os  de Vantage Point (2009), mas são tão interessantes e denunciadores de uma sonoridade particular da qual os dEUS fizeram sua.

Foi, de facto, um concerto dominado pelo último álbum dos artistas, mas estes não esqueceram os grandes temas do passado: "Instant Street", o inegável tema da noite, agitou os inúmeros portugueses com os solos de guitarra estrondosos, e a suave "Sister Dew" foi incrível em igual medida. Apesar do ritmo agitado do início do concerto, os belgas acabaram por escolher temas mais calmos, o que marcou uma quebra ligeira no concerto, mas nunca uma falta de entusiasmo dos portugueses. Já Barman, o último membro original do conjunto, não deixou de puxar por estes, lamentando a distância entre o palco e os primeiros lugares sentados dos doutorais (“Podia jogar badminton aqui!”) e até convidando alguns casais para dançarem no palco, em "Dark Sets In", tema de Keep You Close. É a estrela, sem dúvida, e acabou por ter muita qualidade na sua prestação ao vivo, tal como os seus companheiros, que são inegavelmente melhores em carne e osso do que no girar do disco na aparelhagem.

"Bad Timing", outro dos grandes temas dos belgas, foi o estrondo que trouxe o encore de "The End of Romance", "Sun Ra", o rap frenético de "Fell Off the Floor, Man" e, por fim, "Suds & Soda", tema de Worst Case Scenario, que acabou a noite da melhor maneira.

Outra grande noite de concertos dada pelos dEUS que nunca desiludem, esperando-se já uma repetição.