Reportagem One Direction na Meo Arena
A música pop move verdadeiramente gigantes multidões. Os anos passam, a fórmula reformula-se, sempre com adesão de gerações seguidas umas às outras. Há cerca de meio século que isso não muda, estando tudo o resto em constante renovação, no entanto, há, de facto, algo sincero no entusiasmo de viver uma simples canção, há algo sentido na celebração do estilo de vida que a pop evoca e ontem, foi tempo de ser jovem e de não se pensar no amanhã. Não podia ser de maneira diferente com a passagem dos colossais One Direction em Lisboa. São um dos coletivos pop mais celebrados mundialmente nos dias de hoje – e esperava-se com as sua primeira passagem em terras lusas um Espetáculo, com E grande. Não desiludiram e mostraram o porquê, de em pleno século XXI, se distinguirem de muitos que apelam ao mesmo e até de melhor forma. Lá chegaremos. O recinto escolhido foi o antigo Pavilhão Atlântico, agora MEO Arena, e por volta da abertura das portas já estava previsivelmente lotado. A histeria gritada por uma hoste de maioritariamente teenagers femininas corria os corredores do recinto, a qualquer momento esperava-se um motim, tão grande era a eletricidade e a ânsia do aparecimento de ídolos. Orelhas à la Minnie luminosas preenchiam cabeças no recinto inteiro, o que lhe conferiu um efeito bastante engraçado, e para passar o tempo, canta-se Bruno Mars ou Little Mix, mas também temas do musical ‘Grease’ passavam nas colunas do Pavilhão (quiçá para agradar às mães?).
Por volta das 19:30, a banda de abertura conhecida como Camryn, liderada por Camryn Magness, cidadã americana de apenas 13 anos (!), tem poder para encher o recinto, mas pouco material. Fazem-se covers de Kelly Clarkson e Rihanna, com o poder vocal enorme de Magness, que na sua postura faz lembrar Hayley Williams dos Paramore, freneticamente dançando pelo palco. Para abrir o apetite, fez bem o seu papel, num concerto energético de cerca de 30 minutos, mas o melhor estava ainda para vir. Luzes apagam-se e começa um vídeo de introdução à banda britânica, mostrando-os a interagir uns com os outros numa festa, e a histeria é incomparável. É, logo depois, que começa "Up All Night", tema do primeiro disco homónimo, com cada um dos membros aparecendo um a um. São cinco, os membros dos One Direction: Harry, Liam, Zayn, Louis e Niall e chegaram à fama através da participação no programa inglês de talentos musicais, The X Factor, no qual acabaram em terceiro lugar. Simon Cowell, com uma golpada de mestre inconcebível, junta-os como banda e autêntica máquina de vendas, em 2010, três anos depois, com 63 datas esgotadas na digressão europeia, encontram-se mais crescidos, conscientes da sua imagem e da sua postura em palco e com um segundo álbum na bagagem, Take Me Home.Mas engane-se quem os acha como sem talento, pois os cinco membros da banda britânica têm um considerável poder vocal. Por exemplo, os tons acetinados da voz de Liam Payne fazem a delícia na super balada “More Than This” e Harry Styles e a sua poderosa voz arranhada comandam a europop “Cmon Cmon”, no entanto, os One Direction encontram em Zayn Malik o seu melhor representante: é o membro que brama as notas altas por detrás das harmonias bem treinadas dos restantes. No seu conjunto, funcionam bastante bem, e aguentam-se mesmo numa arena completa de vozes berrantes (mesmo durante a performance das músicas – o que prejudicou muito a qualidade de som).Mesmo já tendo vários singles lançados e sabendo o público português as letras de trás para a frente, o espetáculo soberbamente orquestrado dá lugar a algumas covers também. “One Way or Another”, dos Blondie, traz os One Direction a uma plataforma central ao recinto, seguida de “Teenage Kicks” dos The Undertones e pouco depois, um one hit wonderdos anos 90, a “Teenage Dirtbag” dos Wheatus, que surpreendentemente, marcou o evento como um dos temas mais poderosos.
“Last First Kiss”, outra balada de Take Me Home (lançado no final de 2012), leva os britânicos (quatro ingleses, um irlandês) numa plataforma andante suspensa no ar, até aos fãs do lado oposto do recinto, um “gostinho” por ficarem mais longe. Nota-se, assim, uma enorme gratidão por parte dos intérpretes, desfazendo-se em elogios e “obrigados” mal enunciados, naquela que foi a última noite da tour europeia. “Sem vocês, não estaríamos aqui”, repete Niall Horan, vezes sem conta, seguindo-se sempre de uma mistura de “aw” e “woo” por parte do público. Já Liam afirma que adora Portugal, “tem bom tempo, mulheres giras e vocês são todos tão ensurdecedores!”. É o que se espera de uma lotação esgotada por fãs que não se contêm de todo.
Um momento a ressaltar é outro dos vídeos que serviu de interlúdio, já a três quartos do concerto, no qual os One Direction se vestem de variados trajes e se misturam na multidão de Londres. Louis, enfia-se num fato de gordo a dar abraços grátis, Liam e Harry vestem-se de velhinhos que desatam numa correria uma vez que todos viram as costas, e Zayn e Niall tomam a identidade de banda de covers da sua atual banda, com barbas e perucas falsas. São um coletivo com muito humor e boa disposição, o que os torna muito apelativos e explica, em parte, o seu sucesso estrondoso. Outro dos momentos a recordar, é a tripla performance de “Kiss You”, no qual os membros da banda se dirigem ao público numa explosão de confettis, seguida por “Live while we're Young”, já no encore, e o êxito incontornável de “What Makes You Beautiful” no final, que marca todo o concerto por uma energia que abraça todas as pessoas no recinto, dançando e saltitando como se quer. Já lá fora, fãs abraçam-se e choram o final de um espetáculo inesquecível para elas e no mínimo agradável, para os que não estão tão convencidos. Fala-se em 2014 e um possível retorno a Portugal, com um piscar de olhos do irlandês de serviço da banda britânica.Numa altura de nomes, identidades, narizes e seios falsos tanto na música, como fora dela, os One Direction brilham forte com o poder da sua própria personalidade e carisma. São miúdos normais, podiam andar na escola com qualquer uma das adolescentes apaixonadas no público e parecem genuinamente surpreendidos com o facto de acordarem cada dia num país diferente, lotando arenas de espetáculo para milhares de fãs. É, claramente, dessa mais valia que vendem (e têm toda uma estratégia de marketing associada a isso mesmo) e podia ser falso, mas não é – ou pelo menos não parece. Teçam-se ilações sobre a qualidade das cantoras, dos cantores, das boys bands, das girls bands, mas quando a fórmula resulta, explode verdadeiramente. Ao cinismo e ao desaprovar (ódio!) alheio dirigido a um “arruinar da música moderna”, cinco miúdos do Reino Unido respondem como sabem: com um sucesso incomparável. E é assim que dormem bem à noite.
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Organização:Everything is New
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sábado, 20 dezembro 2014