Reportagem Rammstein no Pavilhão Atlântico
Na memória ficou mais um concerto dos alemães Rammstein em Portugal que encheu as medidas aos fãs e curiosos, mas que nada de novo acrescenta ao reportório de dezoito anos de controversos espetáculos. Deixa contudo no ar a ideia de um concerto cronometrado ao minuto, não dando margem à espontaniedade mas sim a um certo comodismo.
Till Lindermann e companhia há muito que não precisam de apresentações. São donos e senhores de uma banda que já atingiu o patamar de ouro de uma vasta carreira, em que justificação para o que fazem não é já necessária. Com seis álbuns editados, os Rammstein apresentaram-se em Lisboa pela décima vez e trouxeram consigo “Made In Germany”, editado em Dezembro de 2011.
Hora marcada, cerca das 21 horas, uma nuvem de fumo invade o Pavilhão Atlântico e graciosamente, enquanto se observa um cenário já habitual, pós-apocalíptico e industrial, desce Till Lindermann numa plataforma durante Ich Tu Dir Weh, do último álbum de originais “Liebe Is Für Alle Da”, que dá início a uma noite que se prevê (literalmente) explosiva.
Ainda antes de entrarem em palco, Joe Letz, desta vez sem os Combichrist, apresentou-se em palco durante meia hora e brincou com versões remisturadas de alguns temas de toda a discografia dos Rammstein.
Diz a moral e os bons costumes que quem brinca com fogo queima-se, mas Lindermann ser pirotécnico profissional e o rosto dos Rammstein sempre foi, e é, uma mais valia para o espetáculo que os alemães levam aos quatro cantos do mundo. Explosões, nuvens de fumo, foguetes e labaredas que enchem o olhar e nos aquecem o rosto durante breves segundos são quase um acessório indispensável ao Neue Deutsche Härte ou Tanzmetall que os seis berlinenses têm vindo a criar, respescar e improvisar ao longo da sua carreira.
Já considerados banda de culto, os Rammstein não sairam muito da sua zona de conforto. Desde um espetáculo que passou pelo Pavilhão Atlântico em 2009 e no ano seguinte pelo Parque da Bela Vista, pouco ou nada mudou. Fogo, fumo, labaredas e economia de palavras fazem parte um conceito de espetáculo, que apesar de agradável uma ou duas vezes, se torna monótono quando não é renovado.
A linha cómica, irónica e satírica dos alemães não está, no entanto, esquecida. Mein Teil invoca o lado cozinheiro de Lindermann, que ao lado de um tacho gigante, cozinha Christian Lorenz, o teclista, com um simpático lança-chama e este acaba fulminado com raios colocados estratégicamente em palco. Segue-se pouco depois a controversa Bück Dich, uma canção que fala de sodomia e onde se faz uma simulação de sexo anal em palco, que já valeu uma noite na prisão a Till Lindermann e Lorenz, mas é com a triste e desesperada Ohne Dich, que marca o quase-final do concerto, que os Rammstein colocam de parte toda a tragicomédia dos cozinhados e de simulações sexuais, optando por sentimentos profundos de dor e de saudosismo.
“Rosenrot”, de 2005, é apenas visitado uma vez, com Benzin, a única canção desse álbum que integra “Made In Germany”, que já conta com 2 anos de apresentação. No entanto, “Herzeleid”, o álbum editado no já longuínquio ano de 1995 é revisitado três vezes com Asche Zu Asche, Du Rieschst So Gut e Wollt ihr das Bett in Flammen sehen, obviamente acompanhado com a pirotécnia típica de um concerto dos donos da noite.
Todos nós sabemos que quando se sai do palco, o regresso para um pouco mais é quase certo. Sonne, uma canção inicialmente escrita para um lutador de boxe, outro clássico dos alemães e primeiro single de “Mutter” inaugura o segmento de três músicas, que termina com a vergonhosa Pussy de “Lieber Is Für Alle Da”, onde não faltou um canhão de forma fálica que pretende simular o clímax masculino em direcção do público que não tem qualquer problema com um banho de “espuma”.
Du Hast, que faria total sentido na despedida, acabou por ser tocada no corpo forte do alinhamento e foi bem acompanhada com as vozes dos presentes, poupando trabalho a Till Lindermann.
Bem ao jeito teatral e depois de um banho fícticio de fluídos corporais, que para alguns terá sido um pouco desconcertante ou uma nova experiência, os Rammstein agradecem na frente do palco com uma vénia, gratos, e dizem um adeus e até breve.
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Organização:Everything is New
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sábado, 20 dezembro 2014