Reportagem NOS Alive 2019
O passeio marítimo de Algés e a Câmara Municipal de Oeiras receberam de 11 a 13 de Julho a 13ª edição do NOS Alive. Sendo o primeiro festival 5G em Portugal, o acontecimento proporcionou experiências imersivas para aqueles que utilizaram um dos dois pares de óculos que estavam disponíveis no espaço NOS.
Na verdade a tecnologia 5G, a internet mais rápida do mundo, ainda não está disponível nos nossos telefones atuais mas foi possível ter uma noção do que está por vir. No palco NOS Clubbing estava uma câmera 360º que filmava os concertos e no espaço NOS era possível assistir aos mesmos concertos através dos equipamentos disponibilizados proporcionando toda uma sensação de estar a assistir o espetáculo de outra perspectiva. Era também preciso ser cliente da NOS para poder viver a experiência.
DIA 11 DE JULHO
Linda Martini foi a primeira banda a pisar o palco principal - o NOS - do festival nesta edição. A tarde encalorada e abafada que marcou o primeiro dia não impediu os fãs do quarteto composto por Pedro Geraldes, André Henriques, Cláudia Guerreiro e Hélio Morais de lá estarem para os apoiar. O concerto arrancou com o tema “Cemitério dos Prazeres”.
Seguidos pelos californianos Weezer, o concerto ficou marcado por duas “falhadas” no som. Uma delas durante a música mais esperada, uma reinterpretação do tema “Africa”- originalmente dos Toto. No entanto, as falhas de som não desanimaram o grupo e nem o público. Ao mesmo tempo, no Palco Coreto, atuava Ricardo Toscano, o saxofonista que trouxe o Jazz para esta edição do NOS Alive.
No Palco NOS Clubbing, o cantor londrino Samm Henshaw fez a sua estreia em território nacional. Já no EDP Fado Café, Camané deu um concerto arrepiante para os amantes de Fado. De volta ao Palco NOS, uma das bandas portuguesas mais conhecidas, os Ornatos Violeta celebraram o vigésimo aniversário do álbum “O monstro precisa de amigos”. Foi o primeiro de três concertos que irão realizar para celebrar o álbum. A banda nortenha abriu o concerto com uma homenagem aos Xutos e Pontapés ao interpretarem a música “Circo de Feras”. A banda terminou a sua participação com o tema “Fim da canção”.
Um dos concertos mais esperados do primeiro dia do festival teve lugar no Palco Sagres, Jorja Smith. Depois de, no ano passado, a jovem cantora inglesa ter deixado os seus fãs destroçados com o cancelamento da sua vinda a Portugal no SuperBock SuperRock, este ano a intérprete não deixou os seus créditos por mãos alheias. Apresentou o seu primeiro álbum - “Lost&Found”- levando o público ao delírio. Mesmo antes de entrar já havia pessoas a desmaiar, quem sabe por Jorja. Não foi claro se em virtude do calor excessivo que havia feito naquele dia ou se pela quantidade de gente reunida num espaço que foi pequeno para dimensão do público que esperava por Jorja, o fato é que o seu o concerto pôs também muito boa gente a chorar. A cantora interpretou temas como “Teenage Fantasy”, “February 3rd”, “Blue Lights” e “On My Mind”.
Foi seguida por Loyle Carner que interpretou temas como “Damselfly”, “Ottolenghi” e que trouxe Jorja Smith de volta ao palco para “Loose Ends”. Ainda houve um momento em que o Rapper viu uma pessoa da audiência a utilizar uma t-shirt igual a que o seu pai que faleceu lhe deixou e que Loyle leva para todos os lugares que vai. O rapper chamou o fã ao palco comovendo a audiência presente.
Mogwai, no palco NOS, eletrizou o público com os solos de guitarra e misturas sonoras impactantes. O complexo rock instrumental tocado pela banda de Glasgow fez a delícia do público que acompanhava o concerto com muita atenção sem tirar os olhos do palco. Stuart Braitwaite envergava orgulhosamente uma t-shirt dos Neu! - banda alemã da década de 70 de krautrock - anunciando o rock alternativo e experimental que também caracteriza a sonoridade da banda. Foi um concerto para ser sentido e perfeitamente escolhido para anteceder a performance que seguiria.
The Cure e o seu expoente máximo - Robert Smith - entraram em palco e arrasaram provando mais uma vez que passados quarenta anos os The Cure continuam sendo eles mesmos. Sem ceder a facilitismo, a banda gótica inglesa que criou todo um novo género musical esteve em palco por mais de duas horas fazendo a delícia dos fãs de várias idades que se aglomeram no relvado do palco NOS para ouvir e desfrutar da banda. O seu inconfundível vocalista - Robert Smith - parecia estar numa muito boa onda cantando e sorrindo para o público com os movimentos corporais que o caracterizam. Tendo ainda caminhado por duas vezes até às extremidades do palco para alegria dos fãs. A voz de Robert continua perfeita, planando sobre os sessenta anos que hoje carrega. Os The Cure que se ouviu foi virtuoso na voz, na qualidade sonora e no alinhamento que ia alternando canções de profunda densidade rítmica com os sucessos que o público conhecia. “Shake dog Shake” deu início à festa, depois seguiram-se canções como “Burn”, “Fascination Street”, “Push, In between days” e “Just like heaven” para demonstrar o alcance e o espectro musical da banda. No encore foi a explosão do público com alguns dos seus maiores hits em novas roupagens “Lullaby”, “Caterpilar”, “Friday I’m in love”, “Why can’t I be you” o inigualável “Boys don’t cry”.
DIA 12 DE JULHO
O segundo dia do NOS Alive ficou marcado por um festival surpresa no Palco Coreto. Márcia foi a cantora escolhida para surpreender as pessoas que esperavam ansiosamente e especulavam sobre quem daria o espetáculo.
O Palco Clubbing neste dia esteve sobre a curadoria da label e do coletivo de artistas Bridgetown. Durante o dia todo recebeu nomes como Nubai Soundsystem; Lé Vie; Trace Nova; Carla Prata, a nova sensação entre as adolescentes portuguesas; Plutónio, que não permitiu que o público estivesse parado e calado durante o seu concerto, cantou temas como “Cafeína” e “Não Vales Nada”; Dillaz, para os amantes de Hip-Hop português, interpretou também os seus temas mais famosos como “Não Sejas Agressiva”, “Mo Boy” e “Wake N Bake”; DJ Dadda e Convidados - com nomes como Richie Campbell, Mishlawi, Minguito, Yuri Nr5, Lhast, Kappa Jota e Plutónio outra vez; Saint JHN - fazia ouvir a palavra “incrível” entre a audiência presente após a sua apresentação; Delaporte fechou assim o Palco Clubbing e a curadoria no dia 12.
Tash Sultana pisou o Palco Sagres e foi mais uma das artistas que fez a sua estreia a nível nacional. A cantora australiana, para quem já conhecida e já sabia o que esperar, surpreendeu todos aqueles que a desconheciam com o seu talento e a capacidade de tocar tantos instrumentos formando neste caso uma ”one girl band”.
No mesmo palco, uns minutos depois, entrava a diva Grace Jones - com aquele que talvez tenha sido o melhor concerto da noite. A musa de Andy Warhol mostrou outra vez em palco a revolução entre música e moda que iniciou em meados na década de 70. Abriu o concerto com uma música “Nightclubbling”, originalmente de Iggy Pop e David Bowie. Grace Jones, do alto dos seus 71 anos, não deixou que soubéssemos a sua idade durante a performance, dançou, trocou de roupa várias vezes adequando a sua indumentária à interpretação de um novo tema e hipnotizou o público que vibrava por estar ali e ter o privilégio de assistir ao ícone não apenas na música mas também do mundo fashion. Grace interpretou temas como “This Is”, “Slave To The Rythem” e “Pull Up To The Bumper” e não deixou ninguém indiferente quando no final da sua apresentação veio se despedir do público mostrando os seios por duas vezes.
Os Vampire Weekend regressaram Nos Alive seis anos depois mas desta vez atuaram no Palco NOS. A banda tinha um planeta montando no meio do palco, que é uma réplica do que está na capa do novo álbum da banda “Father of the Bride”. Interpretaram temas como “This is Life”, “Bambina”, “Ya Hey” e ainda fizeram um cover de “Jokerman” do Bob Dylan. Também disseram que muitos dos melhores concertos que deram foram em Portugal e que prometiam que não iam demorar mais seis anos a voltar. Saíram do Palco ovacionados e nos ecrãs apareceu a data de um concerto dia 26 de Novembro no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Gossip encerram os concertos do Palco NOS naquela noite de nevoeiro. A vocalista do grupo Beth Ditto subiu ao palco cheia de energia e manteve-a ao longo do concerto. Abordou temas como a homosexualidade e a igualdade dedicando um cover da música “Freedom” de George Michael a Queers. Para além disso, pediu inúmeras vezes desculpa ao público por não saber falar português, sabia apenas dizer “obrigada” que utilizou várias vezes para agradecer por estar ali e por terem permitido que tal acontecesse. O concerto terminou com a música mais conhecida “Heavy Cross”.
DIA 13 JULHO
O terceiro dia do Festival estava esgotado, o recinto cheio, as pessoas esperavam ansiosamente pelos concertos de Bon Iver, Idles, Marina, Thom Yorke, The Chemical Brothers e The Smashing Pumpkins e no Palco Comédia não cabia mais gente para ver o Nilton.
A banda Inglesa Idles tomou conta do Palco Sagres, as suas músicas eletrificantes deixaram o público em delírio. Músicas essas que têm mensagens relacionadas com problemas de saúde mental, de auto-estima e de questões de gênero . O vocalista Joe Talbot a um determinado momento do concerto disse que era um feminista. No público, eram feitos moshpits ao som das suas músicas intensas, cheia de peso emocional e consciência política. interpretaram temas como “Television”, “Never Fight a Man With a Perm” e “Mother”.
Os Bon Iver, conseguiram criam um ambiente muito íntimo, mesmo estando em terreno de festival e no Palco NOS. A banda levou quase todas audiência às lágrimas. ao interpretaram temas como “Towers” e “Holocene”. Encerrando o concerto com o tema mais esperado por muitos “Skinny Love”, o público cantou e o tema fez-se ouvir em várias outras partes do recinto.
De regresso ao Palco Sagres, mas desta vez como a última confirmação do festival, Marina - antes conhecida como Marina and the Diamonds - veio a Algés apresentar o seu mais recente trabalho, o álbum “Love + Fear”. Cantou ainda músicas dos seus trabalhos anteriores fazendo o público gritar as letras de “Primadonna” e “How To Be a Heartbreaker” - tema com qual encerrou a sua presença no Palco Sagres. Ainda no mesmo palco Thom Yorke impressionou, ainda que sem os companheiros de Radiohead, num concerto que marcou a última noite do festival. Thom dividiu-se entre o piano e a guitarra. No final de cada canção, o espaço enchia-se com o barulho das palmas dos muitos que estavam ali para o ver, onde este agradecia as pessoas presentes. “Twist”, “impossible Knots” , “Truth Ray”, terminou o concerto com “Dawn Chorus”.
No Palco NOS, se apresentou um dos mais esperado concerto da noite - The Smashing Pumpkins - regressaram aos mesmo palco após doze anos, a banda havia atuado na primeira edição do festival em 2007. Subiram ao palco decorado com três bonecos e abriram o concerto com o tema “Siva” - primeiro single da banda dos anos 90 - foram intercalando temas mais recentes com os temas mais famosos, foi possível dizer que as canções que deixaram o público mais animado foram “1979”, “Tonight,tonight” e “Butterfly with wings”. Terminaram o concerto com o“Today” que faz parte do segundo álbum da banda, dando assim uma boa dose de felicidade ao seus fãs.
The Chemical Brothers - a dupla que se seguiu, foi a escolhida para encerrar o Palco Nos na 13ª edição do festival. Os visuais cuidados Tom Rowlands e Ed Simons foram os melhores de todo o evento, as suas canções eletrônicas puseram o público a dançar e a saltar transformando o passeio marítimo de Algés numa pista de dança. “Hey Boy, Hey Girl” e “Got To Keep On” forma dois dos muitos temas interpretados na grande festa que se tornou o NOS Alive durante o concerto de The Chemical Brothers com os seus sons eletrónicos que há muitos anos seduzem o público português. O festival esteve em grande no seu último dia e não poderia ter se despedidos melhor. Já estamos cheios de curiosidade pelo cartaz da próxima edição, que já conta com o regresso dos míticos Da Weasel.
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sexta-feira, 19 julho 2019