Reportagem Nova Batida 2019
Três dias de repletos de música electrónica de largo espectro, desde a raiz mais crua até à mistura com vários estilos e ritmos, incluindo também jazz, hip-hop, funk .
O cartaz desta segunda edição do festival anunciava uma programação repleta de DJs e artistas internacionais, bem como, diversas actividades: aulas de surf, yoga ao ar livre, debates e workshops.
Tenho que confessar que não me definiria como uma fã de música electrónica mas, aprecio cada vez mais a sua fusão com outros estilos, pelo que tinha bastante vontade de ir ao festival. A imagética e o alinhamento do cartaz pressupunham coisas boas a descobrir.
Os locais escolhidos, LX Factory e Village Underground, são muito “cool” , o que tornou toda a experiência de deambular entre os recintos e misturar-se com os vários públicos, pertencentes ou não ao festival, deliciosa. O inglês foi a lingua mais falada no recinto, o staff e o público eram essencialmente britânicos. Não obstante ao facto de ser efectivamente um festival com organização londrina, acontece em Lisboa e seria de bom tom que o staff falasse também português. Não deixámos de sentir que estamos perante um festival direccionado para o público inglês e a bem da verdade são estes que acorrem em maior número, o público nacional é muito reduzido.
No primeiro dia do festival referência para Nubya Garcia . A saxofonista britânica acompanhada de uma banda, proporcionou um bom momento de jazz, dinâmico e inspirador. A sua actuação foi sem dúvida um dos momentos altos da noite. Referência também para Floating Points, que apareceu em formato DJ Set e deu um concerto competente, suculento em ritmos e com as pinceladas de experimentalismo que lhe são caracteristicas. O cabeça de cartaz da noite Jon Hopkins apresentou-se também em formato Dj Set com o seu house contemporâneo. Serviu uma actuação competente que foi apreciada pelos fãs do clubbing.
No segundo dia do Festival, Sábado, regista-se o cancelamento em cima da hora, sem justificação por parte da organização, de uma das bandas mais esperadas, Friendly Fires,. Esta situação fez Jungle, também em formato DJ Set, subir ao palco um pouco mais cedo que o previsto. Este actuou para uma plateia composta, disponível e disposta a dançar. Ver Jungle em formato de banda é sempre uma festa que transborda em ritmo e energia positiva. Em formato Dj Set, esta dinâmica fica sempre mais condicionada. Não obstante, a actuação foi vibrante, dançável, com presença de tantos outros ritmos como sejam o soul, funk e o disco.
Talib Kweli , o rapper do Bronx, apresentou-se antes de Jungle, também no palco principal. Este centrou a sua actuação na cultura hip hop fazendo homenagem a nomes como Wu-Tang Clan, de quem tanto se fala actualmente e Mos Def, entre outros.
No terceiro e último dia do festival verificou-se uma menor presença de público. Talvez as férias tenham terminado e os estrangeiros estivessem de regresso aos seus países de origem ou o eventual cansaço das duas noites anteriores, aditivadas com álcool e incensos de outros tipos, com os músculos doridos de tanto dançar, tenham impedido a presença de alguns espectadores no festival.
Na noite de encerramento, uma nova baixa no cartaz. Foi anunciado, uma vez mais, em cima da hora, um novo cancelamento. Desta feita, o rapper britânico Octavian cancelava a sua presença por motivos de saúde.
A actuação mais aguardada da noite era, sem dúvida, Four Tet. O alter ego do londrino Kieran Hebden, considerado uma referência na música electrónica das últimas duas décadas, actuou no palco principal perto da meia- noite. A sua electrónica experimental não desiludiu apesar de não ter atingido o zénite que o seu Curriculum antevia. A sua batida reconhecível e a sua mestria na arte do sample deixaram o público satisfeito.
Referência para Ibibio Sound Machine com o seu afro- funk e a quem caberá, na minha óptica, o troféu de melhor performance do festival. Bem sei, sou suspeita, prefiro de longe uma banda em palco, com a sua panóplia de instrumentos e vocalistas ao invés do modo Dj Set. Dez músicos em palco, um guitarrista, um baixista, dois percussionistas, teclas e metais de sopro, a vocalista acompanhada por duas vozes de coro, um espectáculo, sim, um espectáculo, com a componente mais performativa que me agrada imenso. Som intenso e encorpado que pôs a plateia inteira a dançar .
A atmosfera do festival foi agradável, as plateias mostraram os rasgos de entusiasmo esperados com braços no ar, dançaram com sorrisos espelhados nos rostos e olhos fechados, houveram abraços e beijos no escurinho dos recintos. As actuações foram competentes tendo algumas sido mesmo entusiasmantes. Para mim permitiu a descoberta de novas sonoridades.
No entanto, impõe-se referir que o festival alguma falta de organização na logistica e comunicação.
Aguardemos, então, pela próxima edição do Festival Nova Batida com a expectativa de que os pontos referidos sejam melhorados.
-
terça-feira, 24 setembro 2019