Rock in Rio Lisboa 2022
Quatro ano passaram-se desde a última vez que o Rock in Rio marcou presença em Lisboa. A juntar-se ao facto de ser um evento bianual, os adiamentos levados pela pandemia levaram a que o Parque da Bela Vista só abrisse portas ao evento mais mediático do país em junho deste ano, isto em datas mais tardias do que o era costume.
Passando a estar intercalado entre dois fins-de-semana, com a particularidade de perder a sexta-feira e passar a apostar em sábado e domingo, o Rock in Rio Lisboa regressou em peso, contabilizando-se 130 mil festivaleiros entre os dias 17 e 18 de junho. Para o primeiro dia, a atração principal foram os Muse, mas muito mais aconteceu pelo Parque da Bela Vista.
Banda da praxe do Rock in Rio Lisboa, coube aos Xutos e Pontapés dar o pontapé de saída aos concertos do Palco Mundo. E tal como manda a tradição, a banda de rock português revisitou os grandes êxitos da sua já longínqua carreira, como “Homem do Leme”, “Ai Se Ele Cai” e “Casinha”. Desde miúdos a graúdos, de fãs acérrimos aos fãs de ocasião, o grupo de Tim, Calu e João Caldeira não deixou ninguém indiferente e conseguiu, facilmente, arrancar as primeiras cantorias em uníssono pelo Parque da Bela Vista.
De bagagem mais leve do que as dos Xutos e Pontapés, os Linda Martini têm solidificado, com o passar dos anos, o seu lugar como uma das grandes bandas no panorama rock português. Como tal, o Palco Music Valley compôs-se para acolher o agora trio – quarteto em palco, recrutando Filho da Mãe – que, mais recentemente, assinou ERRÔR, último disco de originais.
Mesmo com disco novo, a concerto fez-se à volta dos êxitos grandes do passado – “Gravidade”, “Ratos” e a terminal “100 Metros Sereia” – para delírio dos devotos das primeiras filas, cuspindo versos que, com o passar dos tempos, assimilaram-se ao seu vocabulário. Concerto forte, consistente e a pedir uma revisão para o Palco Mundo numa futura edição.
Não seria descabido comparar os Oasis a uma moeda: numa face tem-se Noel Gallagher e na outra o irmão mais novo, Liam Gallagher. Muito já se falou dos Oasis e da relação tumultuosa entre os dois irmãos que levou ao fim da banda, com ambos a aventurarem-se a carreiras a solo anos depois. E foi no Rock in Rio Lisboa que Liam se estreou, em nome próprio, pelos palcos portugueses, trazendo a atitude rebelde típica do estilo que dá nome ao festival.
Junto às imediações do Palco Mundo, o uso de camisolas do Manchester City, clube de coração de Liam Gallagher, e o sotaque inglês que se ouvia pelo ar não deixava dúvidas que era o público oriundo das terras de sua majestade que mais queriam celebrar junto ao seu (anti) herói. Para estes, temas do cancioneiro do britânico como “Wall of Glass” ou “Everything’s Electric” eram acolhidas de braços abertos, isto contrabalançando com a curiosidade miúda do público português.
O rótulo de “a outra metade dos Oasis” que, dificilmente, Liam Gallagher alguma vez irá conseguir desalagar-se de, levou a que a presença de temas da banda de britpop fosse em número generoso, desde “Hello”, “Rock ‘n’ Roll Star” ou “Slide Away”. Para o fim, e como não poderia deixar de ser, “Wonderwall” ecoou pela Bela Vista e consigo, cantarolou-se o maior tema dos Oasis, ficando no ar a sensação de dever cumprido por parte de Liam Gallagher.
Por entre os grandes festivais portugueses, o Rock in Rio Lisboa era o ‘cromo’ que falta aos The National para completarem a sua caderneta. Quis o destino que o concerto de maioridade da banda norte-americana por Portugal – leia-se ‘18º concerto’ – fosse também o seu maior desafio por cá: cativar um público sedento por Muse.
Com o seu estilo, sonoridade e público a serem uma antítese das do cabeça de cartaz, a noite adivinhava-se difícil para os The National. Ao apresentarem-se em registo de greatest hits, a tarefa ficou mais aligeirada, mas foram através das múltiplas peregrinações de lés a lés pelo palco, e respetiva plataforma, de Matt Berninger que se foi criando a ligação com o público.
“Don’t Swallow the Cap”, “Mistaken For Strangers” e “Bloodbuzz Ohio” deram o mote para uma noite repleta de êxitos e onde houve até tempo para estrear “Tropic Morning News”, em jeito de antecipação ao futuro disco da carreira dos The National. Pouco depois, e para abrandar o ritmo fugaz e alucinante característico da banda quando se apresenta em palco, “Pink Rabbits” e “Light Years” fizeram o público puxar das lanternas dos seus telemóveis para acompanhar duas das mais impactantes baladas do cancioneiro dos The National.
O último concerto pré-pandemia dos The National foi precisamente em Portugal, no Campo Pequeno, curiosidade que não foi esquecida pela banda e com a mesma a demonstrar o seu entusiasmo em regressar ao um país que lhes diz tanto. E para celebrar o regresso, e já perto do fim, e isto numa altura em que Matt Berninger passava mais tempo junto do público do que em palco, “Graceless”, “Mr November” e “Terrible Love” fecharam com chave de ouro mais um concerto consistente dos The National por Portugal.
Com novo álbum à espreita – Will Of The People tem lançamento agendado em agosto – os Muse foram a última confirmação a juntar-se ao cartaz, substituindo os Foo Fighters pelos motivos que já se conhecem. Mas os Muse já têm uma relação forte com o Rock in Rio Lisboa e, tal como em ocasiões anteriores, a banda inglesa abalou o Parque da Bela Vista com um concerto escaldante e memorável.
Com as exceções de “Will Of The People”, a abrir, “Compliance” e “Won’t Stand Down”, os Muse resgataram os grandes êxitos do passado, que os consolidaram como uma das mais entusiasmantes bandas ao vivo, para fazer estremecer o Palco Mundo, com a icónica linha de baixo de “Hysteria” a criar o mesmo impacto quase vinte anos depois. Ao longo da distribuição de clássicos, como “Stockholm Syndrome” ou “Time is Running Out”, tempo ainda para os Muse subirem a parada não só com o seu vibrante jogo de luzes, mas também através de confettis e fogo de artifício, num regalo para os olhos de todos os presentes.
Com o concerto a caminhar a passos largos para o final, levando a que “Supermassive Black Hole”, “Plug In Baby”, “Uprising” e “Starlight” se juntassem ao serão, e naturalmente arrancassem as maiores reações junto do público, a ameaça de chuva concretizou-se fortemente, com os fãs mais acérrimos de Muse a não arredarem pé perante o inconveniente. Porém, com a chuva a intensificar-se a cada minuto que passava, começou a gerar-se uma debandada no recinto e aproveitou-se a boleia com a premissa de que o dia seguinte traria mais concertos e muito mais música pelo Parque da Bela Vista.
Comparativamente ao dia que o antecedeu, o segundo dia do Rock in Rio apostou num registo mais pop, com os Black Eyed Peas a encabeçarem o dia, fazendo-se acompanhar por David Carreira, Ivete Sangalo e Ellie Goulding. Mas para além do Palco Mundo, a oferta de música pelo Rock in Rio é rica e variada, especialmente no nosso dialeto.
Para este dia 18, o Palco Rock Your Street, situado na Rock Street do evento, contou com Bruno Pernadas e a sua fiel trupe. Nome incontornável no panorama musical alternativo português, o lisboeta trouxe as suas melodias musculadas, ricas em harmonias encantadoras, ao Parque da Bela Vista para contrastar com o registo pop que predominava nesse domingo. Mesmo com uma plateia pouco numerosa, os que marcaram presença, desde os conhecedores da sua obra aos meros curiosos, saíram de coração cheio e embalados.
Num panorama completamente diferente, e agora no Palco Digital Stage, Toy provocou uma enchente para um concerto diferente, para dizer o mínimo. Publicitado como um concerto interativo, o público teve a oportunidade de comandar o concerto através dos seus smartphones, ditando quais as canções é que o icónico músico haveria ou não de interpretar. De “Coração Não Tem Idade” até “Verão e Amor”, nada ficou por cantar neste serão repleto de boa disposição, tendo ainda existido tempo para a já célebre dança do ventre de Toy. Ou pelo menos, uma tentativa de.
De regresso ao Palco Mundo, o concerto do dia foi madrugador. E tal como já nos tem sido habituado ao longo das variadas edições do Rock in Rio Lisboa, Ivete Sangalo é mulher-furacão e arrasou com o Parque da Bela Vista. No bom sentido, claro.
Não são muitos os artistas que se podem gabar de terem a capacidade de deixar uma plateia em frenesim do início ao fim, mas Ivete Sangalo faz parte desse lote. Ainda nem “Tá Solteira, Mas Não Tá Sozinha” ia a meio e já a festa se fazia na maior multidão registada às sete da tarde na edição deste ano do Rock in Rio. Duas canções depois e Ivete solta “Abalou” e “Sorte Grande”, duas das suas canções mais conhecidas e que levaram o público à loucura, cantando e saltando em total harmonia.
Apesar de madrugadora, lançar a cartada de “Poeira” permitiu a que Ivete tivesse o púbico (ainda) mais na sua mão. E claro, a artista deu-lhe bom uso, nunca tirando o pé do acelerador num espetáculo onde houve um pouco de tudo: mudas de roupa, dançarinos para coreografias, bolas insufláveis pelo público e, claro, a simbiose total entre público e artista, graças à comunicação constante, juras de eterno amor a Portugal e sucessivos pedidos para que o público se juntasse a si em cantar as suas canções. Dito e feito, claro.
No espaço de uma hora, Ivete Sangalo viu, chegou e venceu, tal como fez em tantas outras vezes. E, no meio de tantas edições de Rock in Rio, a pergunta ainda se mantém: quando é que lhe será dado o horário da noite?
Dar seguimento a um concerto repleto de energia como o de Ivete Sangalo é uma tarefa difícil, uma ideia assustadora, até. E Ellie Goulding, infelizmente, sentiu na pele essa situação, deparando-se logo com uma sombra da vistosa plateia que preencheu o Parque da Bela Vista momentos antes. Talvez por isso, e alienados aos nervos, o arranque de Goulding começou algo insípido, com as canções a criarem pouco ou nenhum impacto numa plateia dispersa que ainda se recompunha.
Apesar da pop de Ellie Goulding ter demorado a enraizar, um pouco pela falta de vida do espetáculo apresentado, notou-se um crescendo no interesse do público e, consequentemente, uma soltura por parte de Goulding ao som de “I Need Your Love”. Daí em diante, e já com outro ritmo, a britânica atirou-se aos seus principais hits como a mui celebrada “Love Me Like You Do”, “Lights” e “Burn”, esta última para fechar, e aí sim sentiu-se o impacto junto do público que seria expectável de um artista a tocar antes do cabeça de cartaz.
Para cabeça de cartaz, este segundo dia de Rock in Rio contou com os Black Eyes Peas. Em 2004, na primeira edição do festival, o grupo de hip hop veio à boleia do gritante Elephunk, álbum que os catapultou para a ribalta. Passados quase 20 anos, a relevância dos Black Eyed Peas foi-se dissipando, deixando de estar constantemente na berra para passar a ter hits ocasionais, como “I Gotta Feeling”.
A necessidade de se manterem relevantes nos dias de hoje levou a que os Black Eyed Peas se aventurassem por registos musicais a fugir ao hip hop que os caracterizava nos primeiros anos, desde o pop, eletrónica, dancehall e mais recentemente pelo reggaeton. E foi nessa mistura de géneros que will.i.am, apl.de.ap e Taboo se apresentaram em Lisboa, com “Let’s Get Started” a demonstrar bons indícios de que a noite poderia ter um destino agradável.
Dando continuidade com “Boom Boom Pow”, “Ritmo” e “Mamacita”, a disparidade nas canções apresentadas pelos Black Eyed Peas acusou ser uma mistela sem qualquer fio condutor, sendo o recurso excessivo ao autotune a única constante entre canções. Mas foi com “Don’t You Worry”, single acabado de estrear, que os Black Eyed Peas utilizaram o Parque da Bela Vista como um meio de divulgação e não como um concerto, com will.i.am a puxar do telemóvel e começar a gravar-se a si para um live do Instagram, defendendo que queria eternizar aquele momento.
Mas pouco depois, “Pump It” seguiu-se e o telemóvel lá andava pelas mãos e nunca mais voltou para o bolso. E aqui coloca-se a questão: quando a preocupação em entreter os seguidores das nossas redes sociais é maior do que entreter o público que pagou para nos ver ao vivo, deveríamos estar se quer em palco? Perante a falta de desrespeito, a nossa resposta foi um redondo ‘não’, e nesse sentido, saímos da Bela Vista com um dissabor.
O segundo fim-de-semana de Rock in Rio começou com um dia a fugir àquilo que seria esperado no cartaz do evento: um dia dedicado à glória do outrora, à mística dos anos 80. Como tal, esta aposta na geração da vanguarda levou a que o Parque da Bela Vista estivesse maioritariamente composto por famílias e por pessoas de todas as idades, naquele que foi o dia que no qual se registou o público mais heterogéneo de todo o evento.
Coube aos Bush dar o arranque ao segundo fim-de-semana de música pelo Rock in Rio Lisboa. Entre o rock e o grunge, a sonoridade da banda britânica não compactua com um horário tão diurno como aqueles que ficaram encarregues de, com as suas canções pesadas e sonantes a somente surtirem efeito pelas primeiras filas. Numa tentativa de puxar pelos restantes, Gavin Rossdale puxou ativamente pela plateia, chegando inclusive as saltar as barreiras de emergência junto ao palco para confraternizar junto dos mais distantes que se encontravam perto da régie. Atuação sólida, sim, mas fugaz, com aqueles quarenta e cinco minutos a saberem a pouco.
Pouco depois, e já com o Palco Mundo mais composto, os UB40 e Ali Campbell trouxeram paz, amor, felicidade e uma mão cheia de covers repletas de groove. Com principal destaque para a versão reggae de “Purple Rain”, e numa hora em que se recordou os tempos áureos dos anos 80, “Can’t Help Falling in Love” e “Red Red Wine” foram apenas algumas das canções que, naquela tarde, uniram diferentes gerações em torno de uma banda que, mesmo com o passar dos anos, demonstraram que ainda estão para as curvas.
Quem está também para as curvas, e sem acusar em nada os 80 anos que já constam na sua certidão de nascimento, esteve Ney Matogrosso. Personagem incontornável da música brasileira, o artista de Bela Vista demonstrou que a idade é só um número quando se é um showman e animal de palco, apresentando-se fiel a si próprio e a apresentar canções de sua autoria como de outros, passando de Chico Buarque a Rita Lee.
Ainda na linha de personagens icónicas no mundo da música, Omar Souleyman, também conhecido como o cantor de casamentos preferido da Síria, criou a maior enchente registada no Palco Rock Your Street. Numa fusão entre música eletrónica e música tradicional síria, com o resultado a ser o de melodias vibrantes e contagiantes, o público do Rock in Rio celebrou ao som de “Warni Warni” e de outras canções que, se questionados, poucos saberiam identificar. Mas ali, isso não importava: o mais importante era festejar, dançar e ser feliz. E isso não faltou.
Foram precisos quase 40 anos desde a sua existência para os a-ha finalmente se estrearem por Portugal. A banda nórdica estará para sempre associada ao seu maior hit, “Take On Me”, certamente uma das canções mais emblemáticas da década de 80, e claro que os noruegueses deixaram o êxito intergerações bem conservado para o fim. Até lá, os a-ha demonstraram que não se faz uma carreira vivendo exclusivamente de uma única canção, apresentando canções tanto doces como harmoniosas.
Com os sintetizadores de Magne Furoholmen a transportarem-nos para os anos 80, isto numa viagem que ia contando com “Hunting High and Low”, “The Sun Always Shine On TV” ou “The Living Daylights” como banda sonora, o trajeto fez-se na simplicidade que é característica aos belíssimos temas dos a-ha. Mas como nesta viagem, a chegada ao destino era antecipado por quase todo o recinto, a chegada de “Take On Me” acendeu o gatilho para a efervescente festa dos anos 80, com sorrisos de orelha a orelha a decorar as caras de todos os que celebravam pelo recinto fora.
No dia dos ‘entas, os Duran Duran foram a principal atração, e com razão: poucos foram os artistas que gozaram de tanta popularidade e sucesso como a banda britânica, muito culpa pelo estilo punk irreverente alienado às sonoridades disco da altura. E foi exatamente essa a fórmula que Steve Rhodes, John Taylor, Roger Taylor e Simon Le Bon trouxeram ao Rock in Rio Lisboa para uma noite em que o disco voltou a ser rei.
Ao longo de uma hora e meia de concerto, os Duran Duran apresentaram-se em registo de greatest hits, o que significou que nenhum clássico ficou por tocar, de “Wild Boys” a “Save a Prayer”, passando por “Hungry Like a Wolf” ou “Rio". E neste desfile ao longo dos anos de carreira dos Duran Duran, o público do Rock in Rio demonstrou tem a lição bem estudada, acolhendo e digerindo cada canção até ao seu último pedaço. Foi mesmo caso para dizer que velhos são os trapos.
O último dia da edição de 2022 do Rock in Rio foi a única a esgotar, o que significou que 80 mil pessoas passassem pelo Parque da Bela Vista no último domingo de junho. Com a afluência a sentir-se desde cedo, o cenário com que os HMB se depararam quando subiram ao Palco Mundo foi o de uma autêntica moldura humana, naquilo que foi a maior enchente a registar-se nos concertos mais madrugadores no palco principal.
Com uma sonoridade R&B cheia de Groove, idílica para um dia solarengo de verão, a boa disposição e vontade em deixar um clima de festa por parte dos HMB foram a chave para conquistar a plateia do Rock in Rio, com esta a cantar em plenos pulmões o vibrante refrão de “O Amor é Assim”, sendo nítida a satisfação de Héber Marques e a sua trupe.
Entre a extensa lista de coisas más que a pandemia trouxe à nossa sociedade, dar relevância a Jason Derulo quase que figura nos lugares cimeiros. O artista norte-americano, que parece que trocou a carreira artística para tiktoker, quis dar um concerto no qual conseguisse conciliar as suas facetas como cantor, dançarino e entertainer, mas falhou redondamente em todas. Ao longo de uma hora, Jason Derulo apresentou temas cuja popularidade nunca foram além de passageiras, exceção sendo a viral “Savage Love”, fazendo de tudo para que as atenções estivessem sempre vidradas em si, inclusive pedindo ao público que o registasse com os seus telemóveis com o intuito dos vídeos se tornarem virais nas redes sociais. E foi esse convite que nos levou a abandonar aquele serão narcisístico repleto de paleio e com nenhuma substância.
Saídos do sofrível TikTok que se gravava no Palco Mundo, o Palco Rock Your Street acolhia os Idiotape, power trio de música eletrónica. Munidos de sintetizadores, teclados e uma folgante bateria, a banda da Coreia do Sul foi uma carta fora do barulho no que seria expectável encontrar-se no Rock in Rio, mas foi esta mesma dose de adrenalina vibrante que proporcionou o mais festivo sunset que o festival poderia pedir.
Muito se falou e muito se escreveu sobre o concerto de Anitta, especialmente tendo em comparação a sua última passagem pelo menos festival. De lá para cá, a artista brasileira voou para além-fronteiras numa tentativa de conquistar o seu lugar no panorama pop internacional, e arriscamo-nos a dizer, e isto com base numa plateia repleta de fãs e de admiradores que claramente estavam ali só para a ver, que o conseguiu.
Apresentando um espectáculo com todas as mordomias e adereços que um concerto pop assim o exige, a artista brasileira não tardou em demonstrar como é que o pop e o funk se conciliam de forma tão natural. Detentora de um cancioneiro repleto de êxitos que ficam rápido no ouvido - “Me Gusta”, “Sua Cara”, “Terramoto”, “Rave de Favela” ou “Vai Malandra” - é nítido o salto na qualidade e na presença que a Anitta de 2022 leva sobre a de 2018. Por entre as diferentes conversações que teve com o público, o que demonstrou a boa relação existente entre ambas as partes, o clima de cumplicidade e de carinho foi claro, demonstrado na perfeição por “Girl From Rio”, onde Anitta exibiu a capacidade das suas cordas vocais e a fazer questionar o porquê de tanto recurso ao playback.
“Você achava que eu não ia rolar minha bunda hoje” foi a pergunta retórica que os admiradores de Anitta mais queriam ouvir e que antecedeu o momento mais funk da noite, no qual o Parque da Bela Vista tornou-se, por breves instantes, numa discoteca ao ar livre. E tal como nestes espaços, no qual a presença de um tema de Anitta é um dado adquirido, o Rock in Rio Lisboa cantou, dançou e acima de tudo, celebrou. E como seria de esperar, “Show das Poderosas” fechou a noite de Anitta com estrondo e com um impacto tão sonante que as más-línguas mais não se ouviam.
A liderar as cerimónias de encerramento do Palco Mundo esteve Post Malone, principal argumento para levar a que o dia 26 esgotasse. Depois de passagens pelo Sumol Summer Fest e o MEO Sudoeste, Austin Post enfrentou o seu maior desafio por palcos portugueses e o norte-americano passou com nota 20, deixando à sua mercê os quase 80 mil festivaleiros que compuseram a mais vistosa paisagem do Parque da Bela Vista.
Lobo solitário em palco, mas detentor de uma presença capaz de o preencher pelas costuras, Post não foi de cerimónias e rapidamente atirou-se a dois dos seus maiores singles, “Wow” e “Better Now”, sinónimos de ‘como conquistar uma multidão em poucos segundos’. Já com o público no bolso, foi a altura de o norte-americano começar a apresentar as mais recentes canções do último disco, Twelve Carat Toothache, com a receção a demonstrar que não estão tão enraizadas como os restantes hits do seu já vasto repertório.
Apesar de a sua postura selvagem em palco ser (quase) uma imagem de marca, a versatilidade de Post Malone ficou bem conhecida ao longo do seu extenso catálogo de covers a guitarra pelo YouTube, imortalizados por milhões de visualizações. Naturalmente, Post brindou o Rock in Rio com essa sua faceta, tocando “Stay” e “Go Flew” de guitarra em punho - logo depois, a mesma seria destruída, como mandam as regras das estrelas de rock que, momentos mais à frente, seria personificada através de “Rockstar”, num dos momentos altos da noite.
Antes disso, houve ainda tempo para Post Malone confessar o apreço e admiração pelo público português, confidenciando que o seu concerto no MEO Sudoeste foi dos melhores que alguma vez. Tal confissão não passaria em branco, e em típico jeito português, gritou-se o clássico “esta merda é que é boa” até à exaustão, conquistando mais alguns pontos junto do norte-americano que retribuiu o carinho com “Sunflowers”. Mas o agradecimento, esse, viria na culminante “Congratulations” cantada junto ao público que compunha as primeiras filas enquanto os restantes deslumbravam-se com os últimos cartuchos de fogo de artifício que viram a ser laçados no Palco Mundo nesta edição de 2022 do Rock in Rio Lisboa.
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quinta-feira, 21 novembro 2024