NOS Alive 2022

Passados três anos e após duas edições em banho-maria, o NOS Alive regressou (finalmente) ao Passeio Marítimo de Algés. Fugindo um pouco à rotina, e tal como deveria ter acontecido em 2020, a edição deste ano do festival de Oeiras adicionou um dia aos três que já lhe são característicos. E esta decisão revelou-se numa aposta ganha, com os muitos festivaleiros – passaram mais de 200.000 pessoas pelo recinto nos quatro dias – a matarem as saudades deste festival que, aos poucos, se veio consagrando como O festival de música português.
Por ser uma quarta-feira, o recinto do NOS Alive foi-se compondo aos poucos. Todavia, e mesmo num horário tão diurno, o Balthazar conseguiram reunir uma plateia bem numerosa junto ao Palco Heineken, e não foram precisos muitos esforços para que o seu indie rock festivo convidasse a uns quantos pezinhos de dança. Com as suas canções vibrantes e cheias de ginga, o grupo belga trouxe tanto calor como aquele que se ia registando pelo Passeio Marítimo, despertando a atenção de alguns curiosos e convertendo uns quantos outros em fãs.
De regresso ao festival que os viu nascer em palcos lusos, o regresso dos Jungle ao NOS Alive foi feito de pompa e circunstância, assinando um dos concertos mais celebrados desta edição do festival. Através da sua já bem conhecida fórmula, que une o soul à eletrónica dos dias de hoje, a banda de Londres não precisou de muito para soltar o seu ritmo contagiante e transformar a frente do Palco NOS numa discoteca ao ar livre.
Com novo disco na calha, Love In Stereo, no qual a banda regressa às origens do homónimo disco de estreia, o repertório dos Jungle pode ainda só contar com “Busy Earnin’” como principal hit para as massas, bem reservada para o final. Todavia, o público do NOS Alive demonstrou ter estudado bem a lição e não se acanhou em acolher, com carinho e êxtase, temas como “Keep Moving”, “Casio”, “Time” ou “Happy Man”, proporcionando um entusiasmante primeiro final de tarde para o festival.
As celebrações levadas a cabo pelos Jungle fizeram com que a receção aos Modest Mouse fosse feita, inicialmente, pelos fãs mais acérrimos, com esta pouca enchente a dever-se também pela alteração no horário, consequência do cancelamento de Clairo. Perante estes fatores, a estreia por Portugal da banda de culto do indie começou meia aos solavancos, mas a aposta em temas fortes, como “Float On”, levaram o concerto a endireitar-se e a atrair cada vez mais público por baixo da tenda do Palco Heineken.
Melhor sorte, e isto alguns momentos depois naquele mesmo palco, tiveram os Fontaines D.C., também eles na sua estreia pelo nosso país. Recebidos por uma enchente, toda ela ao rubro, a banda irlandesa começou por estremecer o Palco Heineken, mas rapidamente a tenda do palco secundário do NOS Alive pegou fogo perante a intensidade voraz do quinteto.
O mestre de cerimónias dos Fontaines D.C. foi Grian Chatten, frontman que é também um animal de palco. Virando o Heineken de pantanas com a sua energia contagiante e persona punk, o vocalista ia, involuntariamente, influenciando o público a também este adotar uma postura arruaceira q.b. e a entregar-se em sucessivos mosh, dando o corpo ao manifesto ao som de temas como “Boys In The Better Land”.
Um concerto dos The Strokes é como uma aposta: ou se ganha, ou se perde. No NOS Alive, a banda liderada por Julian Casablancas deu um concerto a cair mais para esta última variável, longe da qualidade que o público merecia. Assim sendo, o elevado nível de embriaguez de Casablancas, que tornava impercetível as letras que o vocalista tentava cantar – teve a sorte de contar com uma plateia de devotos que assumiu essa função de forma irrepreensível – tornou a noite num suplício, num daqueles momentos que mais tarde se recordará como um “nunca conheçam os vossos ídolos”.
Perante a desilusão de The Strokes, não era de admirar que o Palco Heineken estivesse bem composto para acolher o regresso de Parov Stelar. Aliás, apenas aqueles que nunca ouviram falar do projeto de Marcus Fureder é que ficariam surpreendidos, ou não fosse este um dos mais entusiasmantes projetos de se presenciar ao vivo: para recriar a sonoridade frenética do seu electro swing em palco, Marcus convoca um vibrante tripleto de sopros, auxiliados por uma bateria galopante e a energia imparável de Helena Karafizi. À soma de todos os elementos, o resultado só poderia ser um, o de uma festa contagiante e imparável, capaz de não deixar ninguém indiferente.
Mesmo aqueles que só queriam desanuviar um pouco de The Strokes rapidamente se rendiam ao entusiasmo que Parov Stelar ia implementado pelo Palco, especialmente ao arrancar a noite com dois dos mais conhecidos temas deste projeto: “Catgroove” e “Booty Swing”. E a partir daí, a derradeira festa deste primeiro dia do NOS Alive nunca mais abrandou ou, como se ouviu perto do fim do concerto, a festa fez-se “All Night Long”.
Para o arranque do segundo dia do NOS Alive 2022, Celeste concentrou em si todas as atenções, muito por culpa do seu vozeirão arrebatador. Num limbo entre o soul e o R&B, esta estrela britânica ascendente conquistou os muitos curiosos que se resguardavam pela já considerável sombra do Palco NOS, selando esta relação admiração através das múltiplas idas junto das grades para cantar para os seus (novos) fãs.
Por mais que os Inhaler, banda irlandesa alternativa, procurem argumentos para suster o seu lugar no panorama indie atual, ainda é praticamente impossível desassociá-los ao facto de Elijah Hewson ser filho de Bono Vox, aquele Bono. Todavia, e levando à letra a expressão de que “filho de peixe sabe nadar”, o vocalista dos Inhaler, que claramente herdou o timbre do pai, demonstrou querer vingar pelo seu próprio nome no mundo da música, recrutando uma trupe de músicos eficientes para tal. Mas por enquanto, e a julgar pelas canções genéricas e entediantes apresentadas por Algés, parece que ainda terá um longo caminho pela frente.
Depois de no seu último concerto por Algés não ter sobrado o mais ínfimo espaço no Palco Heineken (Sagres, na altura), Jorja Smith fez as honras pelo Palco NOS. E apesar de, visualmente, o espetáculo ser bem mais recheado do que em 2019, com múltiplos músicos e dançarinos, a verdade é que se sentiu uma Jorja meio perdida por entre a imensidão do principal palco do Alive. A não ajudar à festa estiveram (aparentes) problemas na voz da britânica, quase a acusar que estava ainda em processo de recuperação de uma ligeira gripe. Mesmo com a voz de Jorja a já ter visto melhores dias, quando se tem uma legião de fãs sábios do seu trabalho, a tarefa fica logo meio realizada, com o público do NOS Alive a não se acanhar de cantar, em alto e bom som, canções como “Be Honest”, “On My Mind” ou “Blue Lights”.
Em polo completamente oposto ao R&B de Jorja Smith, esteve Seasick Steve, que assinou um eletrizante serão de rock ‘n’ roll, isto para muitos devotos que não quiseram arredar pé do Palco Heineken. Tal como lhe é característico, o multi-instrumentista americano contrabalançou a apresentação dos seus temas crus, mas igualmente vibrantes, com as histórias por de trás das suas guitarras, como uma feita de um tanque para lavar a roupa e uma lata de cerveja. Houve ainda tempo para uma sortuda subir a palco e ter direito a uma serenata ao som de “Walkin’ Man”, num momento que a jovem nunca mais irá esquecer.
Tal como mandam as regras de uma serenata, reinou o silêncio. E, infelizmente, para Nilufer Yanya foi num ambiente preenchido por esse último que se fez a sua estreia pelo NOS Alive. Subir a palco ao mesmo tempo que Florence Welch em nada abonou a favor de Yanya, que merecia uma plateia bem mais repleta daquela composta pelas dezenas de curiosos. Mesmo assim, a britânica mostrou os argumentos que levaram Miss Universe a ser considerado como um dos mais entusiasmantes álbuns do indie rock a serem lançados nos últimos tempos.
Já pelo Palco NOS, a grandiosidade de Florence Welch reinou de forma suprema, tendo sido dona e senhora não só do dia 7 de julho, mas como do festival em si. Dez anos depois da sua estreia por este mesmo festival, a inquietante rapariga de Lungs deu lugar a uma mulher furacão, impressionado não só pelo seu característico vozeirão – e que bem canta! – mas pela energia e o fôlego que se mantiveram inalteráveis, mesmo quando corria de uma ponta à outra do palco.
Dominando um palco que só não foi seu na íntegra por partilhá-lo com os seus fiéis The Machine, Florence tem vindo, ao longo dos anos, a construir um repertório consistente e repleto de pontos altos. Ainda assim, ver estes mesmos temas a encontrarem o seu caminho para palco é toda uma nova experiência: as canções transcendem-se, trazendo emoção (“Cosmic Love”), arrepio (“Spectrum”), rebeldia (“Kiss With A Fist”) e festividade (“Dog Days Are Over”). Para todos aqueles que faziam intenções de gravar estes momentos, pois 2022 assim o ‘exige’, Florence pediu para que o foco fosse no agora e não nos ecrãs nos telemóveis. E como os pedidos de uma rainha são ordens para o povo, o mesmo acatou-as com um sorriso no rosto para viver o momento e, sem sombra de dúvidas, foi a decisão mais acertada que muitos tomaram naquela noite em que Florence + The Machine fizeram Algés o seu reino encantado.
Poucas são as bandas que contam com tantas aparições no NOS Alive como os alt-J. Depois de 2013, 2015 e 2017, a quarta aparição do trio de Leeds por Algés teve (finalmente) honras de fecho do Palco NOS, um estatuto que há muito lhes era merecido. Para tal, os alt-J apresentaram-se num registo de best of, com especial incidência para o debutante An Awesome Wave, ou não se celebrasse uma década da sua existência.
Ao longo dos últimos dez anos, os alt-J têm sido uma presença assídua por solo luso, o que lhes permitiu criar uma relação estável com o público português. E este laço não mostra indícios de se desvincular tão cedo, com praticamente todas as canções a serem acolhidas com êxtase, como foram os casos de “Left Hand Free” ou “Tesselate”, e respeito por parte do numeroso público, abraçando a melancolia de “Matilda” e “Taro”.
Entre um jogo de luzes inquietante, levando a que todas as atenções se centrassem nos alt-J, a banda assinou um concerto que foi para lá do competente, quiçá a sua melhor performance em solo português. E como cereja no topo deste delicioso bolo, não poderia faltar a já considerada clássica, mas nunca badalada, “Breezebocks”, com os versos finais “Please don’t go, I love you so” a ecoarem durante o caminho para casa no final deste segundo dia de NOS Alive.
A inclusão dos Metallica no cartaz do NOS Alive de 2022 levou a que o dia 8 de julho esgotasse rapidamente. Todavia, o terceiro dos 4 dias desta edição do festival contou com outros pontos de interesse, como foi o caso dos Don Broco, banda britânica de rock intenso que conseguiu sacudir alguns dos já muitos que marcavam lugar em frente ao Palco NOS.
Não fazendo jus ao seu nome, os Sea Girls são quatro moços londrinos que assinam um indie rock de teor simples e prático, não arriscando em ir mais além, mas não comprometendo no processo. Ainda assim, a leveza da sonoridade deste quarteto britânico foi suficiente para levar os menos exigentes a abanarem o corpo, como numa tentativa de começar bem cedo a estimular as energias que iriam ser utilizadas ao longo do dia.
No papel, AJ Tracey e a sua energia foram a jogada do NOS Alive para substituir o cancelamento de Stormzy, mas não foi preciso muito tempo para perceber que o rapper britânico foi uma carta fora do baralho. Num dia em que as palpitações do Alive eram, maioritariamente, em torno dos Metallica, o choque de géneros causou desinteresse na forte maioria do público, exceção feita para um grupo de britânicos perto das grades. Ao longo de quarenta e cinco minutos fugazes, a energia de AJ Tracey e do seu DJ residente foram rapidamente dissipando-se perante um público que, claramente, não estava ali para si.
Maior sorte tiveram os Royal Blood. Regressando ao NOS Alive com disco fresco, Typhoons, a dupla britânica de hard rock subiu de divisão e teve a (difícil) tarefa de entreter um Palco NOS que aguardava com ânsia por Metallica. Munidos de uma sonoridade pesada, mas de gosto acessível para muitos, Mike Kerr e Ben Thatcher demonstraram, logo após os últimos acordes de “Lights Out”, o entusiasmo que sentiam em anteceder a uma das suas bandas favoritas de sempre. E com tal declaração, a relação entre as duas partes começou a ser contruída por esta admiração mútua pelos Metallica.
Com o passar dos temas, contudo, o elo da relação passava a ser a admiração que o público, pelo menos os não conhecedores da banda, iam nutrindo pelos Royal Blood. À medida que “Come On Over”, “Trouble’s Coming” e “Little Monster” iam ecoando pelo Passeio Marítimo de Algés, a entrega de Mike Kerr e Ben Thatcher levava a que o ritmo, a intensidade e a efusividade do concerto fosse sempre em crescendo. E neste alfa pendular, a travessia entre abrir para Metallica até assinar um concerto cheio de pompa e circunstância, foi uma viagem que se fez num abrir e fechar de olhos.
Oito anos passados desde a sua última aparição por Portugal, St. Vincent apresentou-se no Palco Heineken como um antídoto contra as sonoridades mais pesada que se registavam pelo Palco NOS. Com um estilo musical muito característico, categorizado no espectro do art rock, o imaginário de Annie Clark é um mundo de possibilidades, e no seu mais recente Daddy’s Home, St. Vicent aventurou-se por caminhos nos quais o funk e o disco dos anos 80 se cruzam. O resultado? Um vibrante jogo de sons que deixou o Heineken rendido às maravilhas orquestradas por Annie Clark.
De fatiota, mas sobretudo o penteado, reminiscentes de Marilyn Monroe, o lado artístico de St. Vincent alienou-se a um serão de rock robusto, mas com uma ginga dançável, com Daddy’s Home e Masseducation a comporem grande parte do alinhamento, isto através de “Down”, “Los Ageless”, “New York” ou “Sugarboy”. Houve também tempo de resgatar clássicos do outrora, como “Birth in Reverse” e “Your Lips Are Red”, bem assimiladas a esta nova viragem na sonoridade de Annie Clark, ou “Cheerleader”, esta última dedicada ao Supremo Tribunal dos EUA. Com o passar do tempo, e com a chegada dos Metallica a aproximar-se, iam se registando algumas clareiras pela tenda da Heineken, mas os fãs de St. Vincent não arredaram pé até aos acordes finais de “The Melting Of The Sun”.
Pesos pesados no panorama musical, assim como uma das bandas com maior história e legião de fãs que ainda se encontra no ativo, os Metallica são um nome que impõe respeito. E esse respeito foi adquirido ao longo de décadas, onde canções como “Enter Sandman”, “Nothing Else Matters” ou “Master of Puppets”, esta última a gozar de uma nova vida graças à sua inclusão no fenómeno mundial que é Stranger Things, se tornaram clássicos.
O fenómeno dos Metallica por Portugal já tem mais capítulos do que dedos nas mãos os possam contar. Mas infelizmente, não seria preciso crescer um dedo extra para contar o do NOS Alive de 2022, ou não tivesse uma sandes de leitão na zona de alimentação do recinto destruído o estômago deste que vos escreve (aparentemente, não foi o único).
Como tudo o que é bom tem um fim, o último dia do NOS Alive acabou por eventualmente chegar. Mas com este dia, e depois de tantas vezes adiado, chegara a altura da tua badalada reunião dos Da Weasel, um dos principais motivos que levou este último dia do festival a esgotar com tanta antecedência. Mas antes disso, houve tempo para as Haim darem o ar da sua graça pelo Palco NOS.
De quatro em quatro anos, as irmãs Haim dão o ar de sua graça por terras lusitanas, e 2022 não foi exceção. Encarregues da difícil tarefa de anteceder, quiçá, o concerto mais esperado do NOS Alive, Este, Danielle e Alana Haim foram fiéis a si próprias e assinaram um concerto descontraído e com boa disposição. Dotadas de uma sonoridade refrescante, que em ambiente de festival sabe tão bem como brisa para apaziguar o calor, “Want You Back”, “Summer Girls”, “Forever” e “The Wire” foram apenas algumas das canções que conseguiram, mesmo se apenas por instantes, acalmar a ânsia até ao momento do (re)encontro com os Da Weasel.
Quando no NOS Alive de 2019 se ficou a saber que a primeira grande confirmação para a edição seguinte seriam os Da Weasel, começou-se logo a contagem decrescente para o ano de 2020 (que ingénuos…). Pelos motivos óbvios, os adiamentos acumularam-se, mas a expetativa, essa, manteve-se inalterada. E no momento em que a trupe da doninha subiu a palco, o acumular de todos estes anos de espera deu finalmente lugar à pergunta que há muito se queria gritar: “adivinhem quem voltou?”.
Quiçá a mais importante banda portuguesa do início do milénio, e mesmo após o seu fim, a relevância dos Da Weasel no panorama nacional nunca esfriou, muito pelo contrário: a massa jovem dos dias de hoje pode não ter vivido os dias de glória da doninha, mas as letras estão bem presentes na ponta da língua. Para estes, e para os da vanguarda, o regresso dos Da Weasel ao ativo não passava de uma miragem, mas esse sonho de verão finalmente concretizou-se. Com a antecipação no auge, o heterogéneo público que esgotou este último dia do NOS Alive uniu-se, ao longo de uma hora e meia, para cantar todas aquelas canções que marcaram infâncias, adolescências e vidas adultas.
Envelhecendo tal como bons vinhos, os Da Weasel não perderam nem um segundo para deixar bem claro para o que é que vinham: reviver o passado e fazer a festa. Mas para tal, se a banda se ocupou da primeira parte, coube ao público levar a segundo a cabo, e pois claro, as celebrações não foram contidas e muito se cantou, dançou e vibrou ao som de clássicos no cancioneiro português, como “Re-tratamento”, “Dialetos de Ternura” ou “Tás na Boa”, unindo sempre o público, independentemente da idade, em cantorias uníssonas.
Enquanto os Da Weasel assinavam um concerto para a história do festival, o Palco Heineken recebia uma das estreias mais antecipadas neste ano de 2022: Phoebe Bridgers. A cantautora norte-americana, que deambula entre um indie que tanto se veste em tons de rock como de folk, conseguiu a proeza de roubar uma enchente considerável à ‘doninha’, e no instante em que os primeiros acordes de “Motion Sickness” são soltos, tornou-se óbvio que aquela multidão estava ali para a ver.
Estrela maior num palco decorado com adereços saídos de um imaginário fértil em cores, um contraste para o negrume das suas letras, Phoebe Bridges pouco teve de se esforçar para ter o público na sua mão, conquistando-o sem qualquer tipo de dificuldade através de “Garden” e “Kyoto”, dois dos seus temas mais sonantes e que apareceram de forma até precoce. Todavia, para os devotos nas grades, qualquer canção de Bridgers era acolhida, e cantada, de braços abertos, uma reação que, acreditamos nós, apanhou a própria artista de surpresa.
Ao longo de uma hora, o concerto de Pheobe Bridgers teve um pouco de tudo: elogios sentidos para o público, entregas de palhetas, corações que se reconfortaram ao som da maravilhosa “Sidelines", cantorias junto às grades e até uma mensagem explícita de revolta ao Supremo Tribunal. Depois de assinar um concerto com uma receção tão calorosa, que culminou com “I Know The End” ficou no ar a ideia de que uma sequela, preferencialmente em nome próprio e numa sala fechada, não deverá tardar até que se realize.
Desde 2014, ano em que se estrearam em Portugal, até 2022, os Imagine Dragons cresceram a uma velocidade estonteante. Se, na altura, “Radioactive” era o principal cartão de visita do grupo americano, nos dias de hoje tornou-se difícil de contar a quantidade de êxitos radiofónicos que a banda já leva na bagagem, tendo-se rapidamente tornado num fenómeno dentro da cultura pop. No seu regresso ao NOS Alive, Dan Reynolds e companhia apresentaram-se em registo de greatest hits, dando à sua legião de fãs exatamente aquilo que eles pretendiam: canções com refrões facilmente decoráveis, juras de amor, fogo de artifício e confettis. Já sobre música, ainda está para chegar o dia em que os Imagine Dragons conseguirão descobrir o seu paradeiro.
Uma das personalidades mais acarinhadas na história da música portuguesa, Manel Cruz teve a inglória tarefa de dar um concerto intimista ao mesmo tempo que ecoava uma galopante eletrónica no Palco WTF Clubbing e que os Imagine Dragons alteravam o tom das canções para que o vocalista conseguisse cantá-las. Em 2020, Manel idealizara este concerto acompanhado por uma banda, mas com as trocas que a pandemia trouxe a todos nós nestes últimos dois anos, acabou por tocar sozinho; “os outros membros da banda morreram”, gracejou, naquele tom e sorriso de miúdo que ainda hoje nos encanta. Mesmo a sós em palco, certamente que Manel Cruz não se sentiu sozinho, com uma plateia considerável a fazer-se ouvir e a demonstrar que tinha a lição bem estudada, recebendo, como moeda de troca, variadas canções que passaram por Foge Foge Bandido, Pluto e até demos dos Ornatos Violeta.
A história dos Parcels por Portugal tem sido contruída por grandes epopeias, primeiro no Super Bock Super Rock e depois em Paredes de Coura. Em 2022, Algés foi o palco para mais um capítulo nesta bonita história de amor entre os australianos e o público português, levando-se à letra a badalada expressão do que o melhor estava mesmo guardado para o fim. Num Palco Heineken a rebentar pelas costuras, os Parcels demonstraram ser uma máquina bem oleada de dança e com a capacidade de fazer qualquer um mexer-se ao som da sua sonoridade vibrante.
Nunca baixando de intensidade, e de forma impressionante, os Parcels apresentaram um alinhamento que teve contornos quase a roçar um set de um DJ, tocando ininterruptamente ao longo de quase uma hora. Como tal, os australianos presentearam o NOS Alive com um concerto de ritmo alucinante, com o final de cada tema a assimilar-se, quase de forma natural, ao próximo que lhe seguia, o que levava a que build up para entre temas, desde “Overnight” a “Lightenup”, soassem a recompensas. E a maior recompensa possível que o público do NOS Alive poderia ter, ao longo de quatro dias de festival, era a de um concerto para celebrar o retorno à normalidade, um concerto que quis ser uma ode ao quão maravilhoso é partilhar a alegria que só a música consegue fornece. Que para o ano, celebremos novamente. Juntos.
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terça-feira, 11 março 2025