Super Bock em Stock 2022
Há mais de uma década que o Super Bock em Stock tem demonstrado que um festival de música, para ter sucesso, não tem de acontecer necessariamente durante a época do verão. E como tal, ano após ano, torna-se difícil desassociar o mês de novembro ao frenesim mirabolante pela Avenida da Liberdade.
Para 2022, o Super Bock em Stock repetiu dose, aquela que já lhe é característica, de apostar em nomes emergentes, tanto no panorama internacional como no nacional. Porém, e quando em comparação com edições anteriores, ficou no ar a sensação de que ficaram a faltar nomes sonantes, vulgos cabeças de cartaz. Mas não foi isso que os grandes concertos não voltaram a reinar pela Avenida da Liberdade - de sala em sala, a música fluiu pela cidade.
O Coliseu dos Recreios acolheu os concertos dos nomes mais sonantes ao longo dos dois dias do Super Bock em Stock. Para a primeira noite, coube aos californianos TV Girl estrear o palco mor do festival, sendo recebidos por acérrima legião de camadas jovens junto às grades. Momentos depois, a multidão duplicaria para receber David Bruno, acompanhado dos ilustres convidados Mário Brandão, Mike El Nite e Gisela João. Ao longo de uma hora, o artista de Gaia desfilou êxitos atrás de êxitos, tudo num ritmo frenético e que dificultava a ideai de arredar pé de tal festa portuguesa.
Já na noite de sábado, Alfie Templeman veio apresentar Mellow Moon, mas a luz do disco de estreia do britânico eclipsou-se perante as dimensões de um palco que tanto respeito impõe como o do Coliseu dos Recreios. Apesar da rica e elaborada pop das suas canções, Alfie Templeman apresentou-se em registo quarteto – bateria, baixo e guitarras em punho – e como tal, não conseguiu transmitir a sua eletrizante sonoridade. Melhor sorte tiveram os Miami Horror, a quem competiu festar as festividades do festival, e cuja electropop australiana conseguiram arrancar o resto das energias de dois fustigantes dias aos muitos que ali se juntaram para celebrar até o fim, tendo “Sometimes” sido a derradeira recompensa.
Pela Estação Ferroviária do Rossio, e como tem vindo a ser hábito, passaram alguns dos artistas no cartaz do festival que mais têm presente o rock‘n’rol de outrora no seu núcleo. E em dias diferentes, os Buzzard Buzzard Buzzard e os The Clockworks disseram ‘presente’ à chamada e levantaram bem alto as suas guitarras para um despejo de adrenalina frenética e contagiante, demonstrando que haverá sempre lugar e ouvintes para um estilo que tem mais do que provas dadas que ainda falta muito para a sua extinção.
Logo no início pela caminhada da Avenida da Liberdade acima, a Garagem da EPAL tem-se afirmado como um berço para algum dos projetos mais entusiasmantes do panorama nacional, e neste ano sobressaíram os Vila Martel e os Pluto. Enquanto os primeiros têm dado passos cada vez mais largos para cimentarem o seu estatuto, os segundos já deram mais do que provas que não o gozam por serem liderados por Manel Cruz (aqui sem camisola), mas independentemente daquilo que os separa, foram os belos cancioneiros cantados em português que os uniu no Super Bock em Stock.
Apesar do Capitólio ser a mais recente sala a juntar-se ao cardápio de palcos do Super Bock em Stock, desde a sua inclusão que alguns dos concertos mais icónicos do festival têm nele tomado residência. E 2022 não foi exceção, como foi com o caso de Papillon e a apresentação do seu mais recente disco de originais, Jony Driver, cujo lançamento coincidiu com a noite do eletrizante concerto de Rui Pereira.
Ao falar-se em concertos de apresentação de novos discos no Super Bock em Stock, nenhum reuniu os níveis de antecipação conseguidos pela Casa Guilhermina de Ana Moura. Para o seu sétimo disco de originais, a fadista trocou as voltas do seu habitual registo para misturar o fado a diferentes sonoridades, assinando um dos mais entusiasmantes discos nacionais de 2022. Na companhia de canções como “Arraial Triste” ou “Agarra Em Mim”, Ana Moura deixou o lotado Capitólio ao rubro, não deixando dúvidas que este novo registo lhe assenta na perfeição. E ainda de novas sonoridades, sábado marcou a estreia de Sudan Archives, projeto de Brittney Parks, em Lisboa, com o vibrante R&B da californiana a conquistar todos aqueles a quem o fabuloso Natural Brown Prom Queen passou despercebido.
Ponto mais alto no roteiro do Super Bock em Stock, visto que esta edição não contou com o Teatro Tivoli, o Cinema São Jorge presenteou a sua sempre lotada sala com as sonoridades mais exóticas e oriundas do Brasil, personificadas em Bala Desejo e Céu. Distintos no sabor, mas igualmente saciáveis, os ritmos calorosos de cada projeto conseguiram, sem qualquer tipo de problema, arrebitar o público do conforto das cadeiras do São Jorge para se deixarem levar pelo aconchego e pela contagiante necessidade de soltar um outro pézinho de dança.
Do pop ao hip-hop, do indie à eletrónica ou passando pelas novas sonoridades urbanas, o Super Bock em Stock voltou mais uma vez a presentear a sua fiel comunhão de festivaleiros com projetos entusiasmantes e cativantes, dando palco a diferentes estilos e registos para que na sua junção, fosse feita em festa o fecho do roteiro dos festivais do ano corrente.
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Organização:Música no Coração
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sábado, 23 novembro 2024