Amplifest 2023
Depois de uma edição em 2022 composta por 2 fins de semana, para expiar todas as saudades deixadas pela pandemia, o Amplifest voltou em força em 2023 num só fim de semana, como normal, mas com um cartaz recheado do que há de melhor não só no mundo do metal, mas também na música experimental e nas experiências mais transcendentais que a música mais avant-garde e a força da Amplificasom em organizar este festival independente trazem ao Hard Club desde 2011.
Foi precisamente o transcendental uma das ligações entre as bandas deste ano: desde a experiência quase evangélica, certamente sentimental e espiritual da “missa” dos Amenra e a agressão sonora e puro caos emoviolence dos Hetta, até ao simbolismo dos fatos de monge dos Sunn O))), que vieram a Portugal celebrar os seus 25 anos a abanar com estrondo as fundações do metal e ao krautrock psicadélico misturado com dance-punk do mais infeccioso dos MДQUINД; o que ligou as bandas desta edição do Amplifest entre si foi tanto a procura pela elevação da alma e a luta contra o sofrimento de coração na mão e misticismo em punho, como a busca pela agressão sonora no seu sentido mais violento e brutal.
No seguinte artigo, faço o meu melhor para poder pôr em palavras a minha experiência no Amplifest, sabendo perfeitamente que não as há que possam capturar a cem por cento o quanto deu para sentir a dedicação de cada organizador do festival em criar uma experiência de total dedicação à música e à cultura e onde todos os melómanos são bem acolhidos, sempre com a garantia de estarem a fazer parte de uma experiência única de descoberta auditiva e de um evento que cada vez mais se afirma como um dos festivais de mais impacto no país.
Dia 1
O primeiro dia do Amplifest começou fora do Hard Club, que habitualmente dá casa ao festival a cada edição do mesmo, e iniciou-se com o concerto do projeto lisboeta de black metal/noise Candura, acompanhados de uma escultura do artista português Rui Chafes.
No entanto, devido ao evento ser reservado à lotação do auditório de Serralves e ao facto de estar de tarde na manifestação contra o encerramento do Centro Comercial (ou melhor, Centro Cultural) STOP, o início do Amplifest deu-se, para mim, no Ferro Bar, onde atuou Mat Ball, guitarrista dos BIG|BRAVE, que iniciaria as festividades do dia a seguir, já no Hard Club.
A "Aquarius" dos Boards Of Canada estava a tocar no sistema de som do Ferro até ser subitamente cortada pelo ligar das máquinas de nevoeiro que obscureceram Mat Ball, que começou a tocar mais cedo que o esperado. A música escolhida para passar neste palco foi enganadora, comparando-a ao que viria a seguir e o barulho do fumo a sair das máquinas devia ter sido o meu sinal para me preparar para a absoluta parede sonora que lhe seguiria.
Mat Ball apresentou uma performance improvisacional de 60 minutos, similar ao que se pode ouvir no seu álbum a solo "Amplified Guitar", lançado o ano passado, onde o assalto aos sentidos que saiu dos seus amplificadores Marshall imperou e mesmo os momentos para respirar foram abrasivos e carregados de toda a força que mesmo dos seus amps parecia improvável sair, antes da rajada sonora.
Por baixo de luzes vermelhas e da névoa que mal o deixava visível, Mat Ball andou pelo palco lentamente, de forma casual, com os olhos colados nas armas de escolha dele, a guitarra e os seus pedais, tanto a descortinar combinações deles por entre a névoa, ou a colar a guitarra aos amplificadores para poder produzir, e moldar à sua vontade, um muro de feedback que rolou com rédea solta e que foi dos mais monstruosos que certamente alguma vez se ouviu no Ferro.
E foi casualmente, depois desta atuação, que Mat Ball saiu do palco, agradecido por toda a hospitalidade do público nestes primeiros momentos de Amplifest, que terminaram com DJ Set dos No Joy (José Carlos Santos e Pedro Roque), onde se passou por uma imensa biblioteca musica composta por tudo um pouco: desde malhões rock e punk de Alice Cooper e Viagra Boys até músicas mais leftfield de David Lynch e Aphex Twin, tudo foi colocado nos “pratos” até às tantas da noite no Ferro Bar, antes de se abrirem as portas do HardClub no segundo dia para o festival propriamente dito.
Dia 2
O segundo dia do Amplifest (e o primeiro na sua casa, o Hard Club) começou, no Burostage (Sala 1), com o concerto dos BIG|BRAVE, banda de drone/post-metal, que se diferenciou do que o guitarrista Mat Ball tinha feito ontem no Ferro, a solo, pelas variações em dinâmicas e por todo o aproveitamento dos momentos de calma que também compôem "nature morte", o álbum mais recente da banda, e onde estas mesmas dinâmicas imperam na sua duração.
Com o bouquet de flores derretido, retorcido e morto que dá a imagem desse álbum, lançado este ano, no fundo; BIG|BRAVE lançaram-se diretamente na slowburn das faixas do mesmo, ocasionalmente pontuada com o rugir dos amplificadores e com a voz gutural da vocalista Robin Wattie, que lembra os momentos mais aterradores de Anna Von Hausswolff em certas partes.
Os pontos altos do concerto foram as performances de "a parable of the trusting" e "the fable of subjugation", duas músicas que tocam mais nos temas de trauma e perda da própria identidade em prol de fazer tudo para apelar à do "outro". A distorção e capacidade de Mat Ball de criar tensão com o jogo maravilhoso entre quieto e tempestuoso das músicas, ajudado por Tasy Hudson nas baterias, ajuda a exteriorizar a dor que Wattie berrou durante estas e múltiplas outras músicas do álbum.
Como este foi o último concerto da tour europeia deles, o nevoeiro que cobria a banda dissipou-se a tempo de Wattie poder agradecer a presença de todos no concerto e todo o acolhimento neste festival, num final quase estranhamente alegre para um concerto carregado de distorção e dor.
A seguir a BIG|BRAVE, também no Burostage, atuaram pela primeira vez em Portugal os Ashenspire, banda de black metal progressivo vinda de Glasgow, com uma enorme carga anarquista e músicas que através da junção do metal com incursões jazz chamam a atenção para a luta dos trabalhadores e para a influência do urbanismo gentrificador na amplificação da desigualdade de classes.
Foi precisamente a falar de "Béton Brut", música do mais recente "Hostile Architecture" que eles entraram a rasgar com todas as costuras: o vocalista Alaisdair Dunn a berrar sobre o veneno da misoginia e do cinzento brutalista das cidades com toda a força de uma blast beat, um saxofone, duas guitarras e um baixo a fazer todo o esforço possível para o suportar.
Na mesma música, por vezes, ele conseguia alternar entre os tradicionais gritos abrasivos de black metal e spoken word ou até uma voz mais melódica, mas nunca sem perder o ímpeto em qualquer coisa que estivesse a dizer e em cada palavra de ordem que disparava ao microfone.
O concerto terminou com "Cable Street Again": mantiveram-se os sorrisos do vocalista agradecido por poder cá estar, e terminou-se com estouro e tentativas de crowdsurf. "Desperte times call for desperte measures", berra o vocalista ao microfone, sentado na beira do palco, sorriso colado à cara, mas continuando sem tirar a força das letras. Tudo o que se quer, depois deste concerto, é mais medidas destas.
No Beerfreaks Stage (Sala 2), seguiu-se a Ashenspire a absolutamente caótica sessão de screamo puro e duro dos Hetta, banda portuguesa que já conta num ano com um álbum e vários splits internacionais com outras bandas e ainda nos deu a chance de os vermos tocar novas músicas.
João Portalegre deu, na bateria, o mote para aquele que foi, até então, o set mais violento deste dia e para Alex Domingos, o vocalista, lançar-se múltiplas vezes em crowdsurf de uma ponta à outra do público, por cima do mosh pit, enquanto João Pires na guitarra e Simão Simões no baixo mantinham a abrasividade a 200% e as músicas a sair como fogo rápido de uma metralhadora.
Pelo meio do caos, transpareceram passagens a lembrar o mathcore dos Daughters e a violência de Orchid ou até de At The Drive-In, mas não é por deixarem mostrar as influências que os Hetta se prendem ao passado, muito pelo contrário - o futuro do screamo e do emoviolence reside numa banda do Montijo e quem virar a cabeça para longe dos Hetta arrisca-se a levar um encontrão com a realidade, talvez mais forte que aqueles que o público não se conseguiu segurar para dar uns aos outros, num concerto onde houve crowdsurf e moshpits para dar e vender.
Depois de uma limpeza do palato com Sir Richard Bishop, famoso membro da banda de avant-rock Sun City Girls, a mostrar o seu virtuosismo e as influências do Médio Oriente que o marcaram a carreira toda, seguiu-se no Burostage aquela que foi para mim a surpresa deste segundo dia: Celeste, banda francesa que mistura black e sludge metal para um efeito sónico pulverizante.
O concerto começou com visuais tirados dos que produziram para o seu mais recente álbum "Assassine(s)", antes de os quatro membros da banda colocarem as suas lanternas vermelhas na cabeça, a sua imagem de marca e começarem a rebentar tudo durante a hora que se seguiu.
Durante o concerto inteiro, a banda atuou apenas com luzes vermelhas e uma série de strobe lights desorientantes que só adicionou à explosão de som e às letras francesas de Johan Girardeu que pintam imagens niilistas de desespero e perda da inocência.
Os ritmos de Antoine Royer foram complexos e avassaladores, e as guitarras de Guillaume Rieth e Sébastien Ducotté melódicas de vez em quando mas nunca deixando de ser cortantes e afiadas, pesadas e maciças. Juntando tudo, compreende-se facilmente porque é que a cada música o público e a banda atiravam ao ar devil horns em sintonia - o estouro que este concerto foi era propício a isso e bem mais. “Incroyable”, sem margem de dúvida.
Depois de tudo isto, chegou o momento mais esperado da noite, tão esperado que a sala já estava cheia meia hora antes do concerto e que durante o mesmo houve uma luta entre pessoas que se queriam chegar à frente para ver de perto o acontecimento da noite: a missa sludge/doom dos belgas Amenra.
Rodeados de imagética religiosa a apelar às missas que são os seus álbuns (e a lembrar a sua Church of Ra), e com toda a espiritualidade que nunca deixaram de usar abertamente ao peito, os Amenra passaram por canções do seu mais recente "De Doorn", mas escolheram focar-se mais em músicas dos seus já clássicos "Mass" para este alinhamento.
O vocalista Colin H. van Eeckhout cantou praticamente o concerto todo de costas para o público, umas vezes em pose de luta contra os amps, outras ajoelhado, quase que na sua própria meditação, apenas virando-se para ele nos momentos mais suaves das canções.
As dinâmicas foram seguradas com mestria por Bjorn Lebon na bateria, Mathieu Vandederckhove e Lennart Bossu nas guitarras e Tim de Gieter no baixo e ocasionais screams a pontuar os vocais.
Tudo isto só adicionou à vulnerabilidade das letras e ao combate dos Amenra ao fogo que tudo consome da escuridão da vida com fogo de cada palavra e cada riff.
No final, abrupto, de Diaken, do álbum “Mass VI”, apareceram as seguintes palavras no pano de fundo: "Liefde en Licht", amor e luz, mote de guerra de quem abraça a introspeção e os momentos em que a vida nos coloca de joelhos como forma de deixar a luz entrar nesta comunhão e elevação do espírito que foi este concerto.
O segundo dia terminou com concerto do projeto português de coldwave/industrial Necro, cujas batidas encheram, na máxima erupção gótica, a sala 2 do Hard Club, e seguiu-se o DJ set de Sam Loynes e Jaime Gomes Arellano para terminar o segundo dia do Amplifest.
Dia 3
O terceiro e último dia do festival não começou no Hard Club, mas sim, no Batalha Centro de Cinema, com a exibição do documentário “Earth: Even Hell Has Its Heroes”, sobre os Earth, banda americana pioneira do drone metal e que a partir de 1989, com clássicos como o já seminal “Earth 2: Special Low Frequency Edition”, escancarou as portas para o surgimento de bandas como os Sunn O))), dos quais irei falar mais à frente, com todo o destaque que merecem.
Para abrir as hostilidades deste dia no Hard Club, na sala Beerfreaks Stage, os Aeviterne trouxeram de Nova Iorque o seu death metal experimental que condensou ansiedade, temor existencialista e desconforto niilista numa parede industrial com em ritmos bombardeados para cada canto da sala.
Já no Burostage, David Eugene Edwards trouxe ao Amplifest o seu álbum a solo "Hyacinth", produzido por Chelsea Wolfe que junta o gótico e o mistério da fé cristã à música folk, Appalachiana e Nativa Americana.
Comportando-se de maneira errática entre músicas e escondido atrás de um chapéu e óculos de sol, David apenas parecia acalmar levemente nas suas reflexões sobre espiritualidade e o peso da vida, tudo isto debaixo de múltiplos visuais de insetos magnificados, naturezas mortas de flores e coroas, e claro, os jacintos que nomeiam o seu primeiro álbum a solo desde os seus projetos 16 Horsepower e Wovenhand. Estas reflexões foram acompanhadas pela guitarra vibrante e mística de David, trocada no final por um antigo híbrido entre um bandolim e um banjo, do fim do século XIX.
Do seu lado, uma guitarra elétrica tocada a arco e possantes batidas minimais electrónicas afundadas em sintetizadores que adicionaram a todo o mistério e tensão daquela que foi, definitivamente, a atuação mais críptica do festival.
A tarde continuou com Divide And Dissolve: A surpresa do último dia de Amplifest foi esta dupla australiana de doom metal composta pela guitarista e saxofonista Takiaya Reed, negra de descendência nativo-americana, e pela baterista Māori Sylvie Nehill. A sua descendência é importante para ressalvar, precisamente porque o trabalho das duas australianas, apesar de maioritariamente instrumental, prende-se com temas como o anti-colonialismo, a destruição do patriarcado e da supremacia branca e a liberação negra e indígena.
Nas pausas entre canções, Reed lançava-se com um sorriso na cara e múltiplo amor pelo público que veio ver o concerto dela e sua parceira de banda em diatribes que envolviam estes temas, onde apelava à necessidade de mudança sistémica que acomode e facilite a vida de todos sem exceção (tema esse que permeia o mais recente álbum da dupla, “Systemic”, lançado na Invada Records, editora fundada por Geoff Barrow dos Portishead) e ainda teve a oportunidade de fazer uma dedicação pessoal ao seu falecido avô, numa das músicas que honrava a capacidade de ele, perto da sua morte, pedir desculpa pelos erros racistas cometidos em vida.
Todo o peso das palavras de Reed acrescentou à possante onda de distorção e colossais batidas da dupla, que encheram lentamente, mas não menos implacável, a principal sala do Hard Club.
Já de noite, quem se seguiu no Burostage foram os KEN mode, oriundos do Canadá, e que trouxeram ao Amplifest neste tão esperado regresso ao Hard Club (o último concerto deles em Portugal tinha sido em 2012, a abrir para os americanos Kylesa) a sua mistura abrasiva de post-hardcore com o sludge metal, com tons a lembrar vagamente Godflesh e a era “no wave” dos Swans, sobre a qual Jesse Matthewson berrou angustiadamente e libertou toda a pressão do colapso mental coletivo dos últimos anos e desespero de viver nestes tempos, tal como em “A Love Letter”, música que abre o seu mais recente álbum “NULL”, de 2021: “Something is wrong / Something is fucked”.
Toda esta angústia foi solta também nas batidas gargantuanas do irmão do vocalista, Shane Matthewson, na correria e acrobacias estafantes de Scott Hamilton, que voou de um lado ao outro no palco com o seu baixo, e Kathryn Kerr no saxofone e vários sintetizadores a trazer floreados ao som dos KEN mode (cuja primeira parte do nome, já agora, é acrónimo para Kill Everyone Now), que os aproximavam de uns Nurse With Wound que ouviram durante dias a fio nada a não ser Nine Inch Nails e tiveram que os soltar da cabeça através da criação musical.
Mas nenhuma quantidade de força, de peso pesado sonoro, de abrasividade, de angústia, de surto psicótico que os KEN mode libertaram foi comparável ao que se seguiu no palco principal do Hard Club, e precisamente para falar disso, volto à banda que mencionei no início e volto umas horas atrás à palestra dada por eles durante a tarde do festival (porque o Amplifest também é feito de Amplitalks): Sunn O))), na sua forma basilar, composta por Stephen O’Malley e Greg Anderson, terminaram a sua tour “Shoshin” (palavra chinesa para o conceito Zen de “mente de principiante”, de manter a abertura a aprender mais, por muito que já se saiba sobre algum assunto), de celebração dos 25 anos da banda, a falar sobre a sua história, sobre como os pioneiros do drone metal surgiram de um bunker onde puderam ligar todos os amplificadores que tinham e simplesmente criar paredes sonoras de riffs desacelerados ao máximo e com as afinações e pedais mais cavernosas à casa da terra e sobre como não lhes importava se as reações ao que fizeram ao longo destes anos eram positivas e negativas desde que, primeiro, houvesse uma reação acima de tudo, e segundo, eles tivessem a possibilidade de fazer aquilo que queriam fazer, sem preconceitos, sem limitações, puramente a experimentar e a ver no que davam as suas experiências.
E foi precisamente isso que aconteceu no fecho do Burostage do Amplifest: durante duas horas, os Sunn O))) vestiram os seus tradicionais fatos de monge, encheram a sala principal do Hard Club de um nevoeiro cegante, e, em frente a dezasseis(!) pre-amps e dezoito(!!) amplificadores (maior parte deles, claro, da marca que lhes dá o nome, a Sunn), libertaram um muro de som de 120 db que não parou por um momento, e onde eles apresentaram versões de “CandleGoat” (do álbum “Black One”) e “Big Church” (do seu clássico “Monoliths & Dimensions”), e ainda duas novas músicas criadas em tour (algo que nunca tinha acontecido aos Sunn O))) na sua carreira, como disseram os membros de tarde).
Stephen e Greg bailaram suavemente por entre a névoa do palco, ora avançando para a frente do público e mostrando-lhes as suas guitarras, ora encontrando-se os dois de mão no ar para depois a passarem na guitarra e produzirem a próxima nota do longo riff que estavam a tocar no momento, ora no final em que estenderam os braços para o ar no meio da tempestade de luzes e de todo o feedback que as colunas já produziam por si só, e em que o público os acompanhava em cada gesto, estendendo também os braços para o ar, para assinalar a sua presença naquela que foi uma experiência absolutamente transcendental, onde as luzes piscaram como relâmpagos no meio de uma tempestade, e o feedback e frequências graves no máximo rolaram soltas até Stephen O’Malley se baixar para lentamente desligar a pedaleira e cortar o sinal sonoro.
Na verdade, a experiência catártica do embalo dos graves produzidos pelos Sunn O))) resumiu bem o Amplifest deste ano: três dias de libertação sonora, de descoberta pelo mundo sempre novo do que o experimental e o metal mais visionário têm para oferecer, num espaço que recebe sem preconceitos, sem clubismos, simplesmente com puro amor, quem também o tem pela música, e qualquer pessoa que entra nesta casa independente da Amplificasom para poder expandir livremente os horizontes, com a mesma mente de principiante que os Sunn O))) têm 25 anos depois de terem ligado pela primeira vez todos os amplificadores que tinham à mão para fazer a terra tremer.
Foi a fazer tremer o chão e o público, precisamente, que os MДQUIИД terminaram o Amplifest: os portugueses Halison Peres (baterista e vocalista), Tomás Brito (baixista) e João (guitarra) pegaram nas suas “DIRTY TRACKS FOR CLUBBING”, lançadas na Saliva Diva este ano, e mostraram ao vivo as mesmas que compõem um dos álbuns portugueses mais importantes do ano.
Por entre o krautrock/motorik mais psicadélico e o dance-punk mais gingão e suado, Halison soltou uivos impressionantes carregados de tape delay, Tomás e João deixaram os riffs correr soltos e mergulharam-nos em impressionantes e desorientantes camadas de efeitos, e provaram duas coisas: que eles estão mais que prontos para apresentar em todo o lado da melhor música feita em Portugal este ano (como se a presença à última da hora no Paredes de Coura e a abertura para os A Place to Bury Strangers não tivesse provado exatamente isso) e que o Amplifest é um palco onde a energia nunca acaba e é sempre recompensada com a melhor música do mundo.
Que se mantenha assim com esta energia independente para o ano, é tudo o que desejo, depois desta experiência genial.
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Organização:Amplificasom
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quarta-feira, 04 dezembro 2024