Reportagem Super Bock em Stock 2023

É como uma tradição no mês de novembro: cabe ao Super Bock em Stock dar como terminado o roteiro dos festivais portugueses no ano corrente. Marcado pelo sua pára-arranca ao longo da Avenida da Liberdade, e isto por algumas das salas mais marcantes da movimentada rua lisboeta, o festival de inverno esteve de regresso para mais uma edição onde a aposta num cartaz eclético e emergente, continuou a ser tendência.

Ao longo das noites de 24 e 25 de novembro, houve música para todos os gostos e feitios. E foi no Coliseu dos Recreios onde os principais holofotes se focaram, com as atuações de Gilsons, Anna Calvi e Jenny Beth a destacarem-se como os principais concertos que decorrem na sala mor. O trio brasileiro, composto pelo filho e netos de Gilberto Gil, trouxe o calor aconchegante tão intrínseco da música popular brasileira, para aquecer o corpo dos presentes e convidar a um outro pezinho de dança madrugador. Por sua vez, tanto Anna Calvi e Jenny Beth podem não ter encontrado a mesma recetividade por parte do público, mas isso não as impediu de assinar duas atuações impactantes e sempre em crescendo, com a desconfiança inicial do público a dar lugar a uma nova legião de convertidos aos trabalhos de ambas.

Um pouco mais ao lado, e noutra das principais casas do Super Bock em Stock, a Estação Ferroviária do Rossio ficou encarregue de acolher os concertos mais ruidosos e onde as guitarras e derivadas foram o ponto de ligação nos dois dias. Se na noite de 24, a curadoria do palco ficou encarregue de dois emergentes nomes do panorama rock alternativo português, Zarco e os Senhores, o dia 25 ficou marcado pela energia contagiante dos Steam Down, projeto londrino com uma sonoridade forte em influências africanas. E o resultado foi um serão onde muito se saltou e celebrou ao som desta entusiasmante banda, fazendo inclusive esquecer o frio que acompanhava a super lua que decorava o céu.

A pouco menos de meio pela subida da Avenida da Liberdade, o Capitólio tornou-se, no passar das últimas edições, um refúgio para o hip hop, e 2023 não foi uma exceção, contando com o nome de Valete como principal ponto de referência no segundo dia de festival. Em noite de celebração, o rapper português apresentou-se em jeito de best of, tendo apresentando alguns dos seus temas mais icónicos, como “Anti-Héroi”, logo a abrir, ou “Rap Consciente” e “Roleta Russa”, isto na companhia de artistas como Pappillon ou Moullinex, este último para apresentar um tema por lançar com Sara Tavares, naquilo que acabaria por se tornar numa bela homenagem em que todo o Capitólio gritou bem alto pela cantora. Sobre a primeira noite, destaque para Blaiz Fayah, nome emergente da cena reggae e que não deixou ninguém indiferente com os seus temas de rápido apreço e fácil entusiasmo.

Foi no Cinema São Jorge, pico da montanha do roteiro das salas do Super Bock em Stock, que aconteceu aquele que foi indiscutivelmente o grande concerto desta edição do festival. Apesar de tanto João Só com os Capitão Fausto terem deixado a sala bem composta momentos antes, Will Butler e os seus Sister Squares já a tinham praticamente esgotada momentos antes de subirem a palco, o que só por si demonstrava a grande antecipação para presenciar o regresso do ex Arcade Fire. E neste novo projeto musical, o mais novo dos irmãos Butler transmutou a sua criatividade para o universo eletrónico, num registo quase a roçar o disco e que levou a que as cadeiras não ficassem ocupadas por muito tempo. Ainda com a pedalada que tão bem nos lembrávamos, Will Butler soou do início ao fim, não parando por um segundo em vivenciar as harmoniosas melodias flamejantes que iam incendiando o São Jorge e que terminou da melhor forma ao som de “Anna”. Num registo totalmente oposto, e isto no 25 de novembro, coube a Sam Tompkins fechar a cortina do palco do São Jorge, provando ter mais armas a seu dispor do que apenas a canção que o viralizou no TikTok, “To The Moon”, mas claro que foi aquela que mais telemóveis levou ao ar…

Tendo ainda contado com atuações de Legendary Tigerman, Tagua Tagua, Smoke Dza ou o B2B de Batida e Bonga, o Super Bock em Stock provou, mais uma vez, ter se tornado na melhor forma de terminar o roteiro festivaleiro com chave de ouro. Agora, é altura de hibernar e recarregar energias para mais um ano que promete ser memorável a nível de concertos por Portugal.